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ANGELINA

Um ano depois...

— Vocês têm uma semana para pegar juntar tudo e deixar a casa, Luísa — repetiu Gregório, o capataz da fazenda, com a mesma voz dura e impiedosa de ontem, quando já havia dado o recado para minha mãe.

— O patrão sabe que a gente não tem para onde ir, Gregório. Para onde vou com os meus filhos? 

A voz de minha mãe estava embargada, o desespero evidente em cada palavras. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, implorando por uma solução.

Antônio, meu irmão mais novo, tentava se aproximar para ouvir a conversa, mas logo tratei de puxá-lo para dentro de casa.

— O que foi que eu já disse, hein? Não se escuta a conversa de adultos, moleque. — Dei um pequeno belisco na sua orelha, tentando mantê-lo longe da tensão.

— Ai! — reclamou, esfregando a orelha. — Eu só tava vendo o que aquele homem queria com a mamãe. Toda vez que ele vem, ela chora, mana.

Apesar de só ter sete anos, Antônio entendia bem algumas coisas, e isso não me tranquilizava nem um pouco. Eu via a preocupação em seus olhos, a mesma que eu tentava esconder todos os dias.

Descobrimos que ele tinha diabetes tipo 1 com pouquíssimo tempo de vida. 

Antônio era um pequeno guerreiro, que lutava todos os dias contra uma doença que o limitava em várias coisas e o impedia de ser a criança traquina que saía por aí, correndo pelos campos com as outras crianças, se esbaldando nas árvores que produziam os mais diversos frutos. 

Sua vida era um desafio constante, e minha preocupação com ele só aumentava a cada dia.

A alimentação do meu irmão tinha que ser bem rigorosa, até mesmo com as frutas. 

Ele não podia consumir nada em excesso, ou teríamos problemas sérios. 

Até mesmo o plano de saúde de Antônio, que pagávamos com muito custo, estava prestes a ser cortado justamente pela falta de pagamento das parcelas.

Mas eu daria um jeito. Minha família não iria sofrer mais do que já estava sofrendo.

— Eles estão resolvendo problemas de adultos, mano. — Lhe chamei pelo apelido carinhoso que usávamos entre nós.

— Verdade? — perguntou, desconfiado, franzindo a testa de um jeito que sempre fazia quando algo não lhe parecia certo.

— Já menti para você alguma vez? — Perguntei, tentando sorrir para tranquilizá-lo.

Ele balançou a cabeça em sinal de negação, e eu baguncei seus cabelos com carinho.

— Então volta lá para a cozinha e vai terminar sua merenda, vai. — Disse após dar um beijo em sua testa, sentindo o peso da responsabilidade em meus ombros.

— Mas nem tem açúcar no bolo. — reclamou, fazendo um biquinho adorável. — Eu não vou comer.

— Ah, você vai! — Falei, tentando ser firme. — Aquele quilo de açúcar de coco custou quarenta reais.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora