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RAUL

O som das rodas da maca girando contra o chão frio do hospital ecoava pelos corredores, cada guinada abrupta amplificava o som das batidas rápidas e irregulares do meu coração. A visão de Angelina deitada ali, tão pálida e frágil, me deixava à beira da loucura. Eu segurei sua mão com força enquanto corria pelos corredores.

Vai ficar tudo bem... vai ficar tudo bem.

Chegamos a uma porta dupla, e foi ali que eles pararam. Um dos médicos se virou para mim, erguendo a mão para me impedir de continuar.

— O senhor não pode passar daqui. Vamos cuidar dela agora.

Meu corpo reagiu antes que eu pudesse pensar. Tentei avançar, sentindo a adrenalina ferver nas minhas veias.

— Eu vou passar, sim! — Eu gritei, a voz cheia de desespero e raiva. — É minha esposa que está lá dentro!

Os seguranças apareceram, segurando meus braços com firmeza, mas eu lutei contra eles, tentando me soltar. A ideia de ficar separado de Angelina naquele momento era insuportável. A sensação de impotência me consumia, me fazendo sentir como se estivesse perdendo tudo.

— Me deixem passar! — Eu continuei a gritar, a voz rouca de tanto forçar as cordas vocais. — Eu preciso estar com ela!

O médico, que estava tentando manter a calma, aproximou-se e colocou uma mão no meu ombro, tentando me trazer de volta à realidade.

— Entendo sua dor, senhor, mas por favor, nos deixe trabalhar. Precisamos estabilizá-la.

Suas palavras perfuraram meu peito como um punhal. Eu mal conseguia processar o que ele estava dizendo, minha mente ainda estava presa na imagem de Angelina caindo nos meus braços, o sangue manchando tudo ao nosso redor.

Enquanto eu continuava lutando, alguém tocou suavemente minhas costas. Me virei, ainda tomado pela raiva, mas encontrei o olhar de Matilde, que parecia igualmente devastada.

— Raul, por favor. — Ela disse, a voz baixa e carregada de dor. — Precisamos confiar nos médicos agora. Angelina e o bebê vão ficar bem.

As palavras de Matilde foram como um golpe direto ao meu peito. Meus joelhos começaram a ceder, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, me vi caindo no chão, as pernas incapazes de me sustentar.

Angelina estava grávida.

No fundo eu desconfiava. Os sintomas que ela sentia, o corpo que estava mudando...

Me sentei ali, no corredor frio do hospital. Coloquei as mãos na cabeça, os dedos se enterrando no cabelo, enquanto a realidade finalmente me atingia com toda a força.

— Isso não pode estar acontecendo... — Eu murmurava repetidamente, sentindo o desespero tomar conta de mim. — Não pode ser real... Angelina e o bebê têm que ficar bem... Eles têm que ficar bem... Ou eu nunca vou me perdoar...

Eu comecei a bater a cabeça suavemente contra a parede atrás de mim, tentando aliviar a dor insuportável que me consumia por dentro. As lágrimas, que até então eu havia segurado, finalmente começaram a descer pelo meu rosto, cada gota carregando um pedaço do meu coração despedaçado.

Matilde se ajoelhou ao meu lado, colocando uma mão reconfortante em meu ombro, tentando acalmar a tempestade que me consumia.

— Vai ficar tudo bem. — Ela disse, a voz suave, mas firme. — Angelina teria ficado tão feliz em te contar isso pessoalmente. Ela estava tão animada para te dar essa notícia... Ela te ama tanto, senhor. Eu sei que ela vai lutar com todas as forças por você e pelo bebê.

Eu acreditei em cada palavra de Matilde, mas a dor de não ter Angelina ali, de não poder protegê-la, era avassaladora. Levantei o olhar para Matilde, meus olhos suplicantes por alguma esperança, alguma certeza de que tudo não passava de um pesadelo.

— Eu seria o homem mais feliz do mundo ao ouvir isso da boca dela. — Minha voz estava quebrada, quase inaudível. — Saber que a mulher que eu amo... que ela está carregando o fruto do nosso amor... isso... isso é tudo o que eu sempre quis.

Minha voz se quebrou completamente. Meus soluços ficaram mais fortes, ecoando pelos corredores quase desolados do hospital.

Matilde me puxou para mais perto em um abraço apertado. Eu estava desmoronando e sabia disso, mas parte de mim ainda se agarrava à esperança de que tudo ficaria bem.

Foi nesse momento que ouvi passos rápidos se aproximando pelo corredor. Matilde se virou, e eu a acompanhei com o olhar, vendo uma figura familiar se aproximar. Era Luísa, a mãe de Angelina. Ela vinha correndo, o rosto pálido, os olhos arregalados de desespero.

— Minha filha! — Ela gritou, sua voz carregada de medo. — Onde ela está?

Eu me levantei, ainda com as pernas trêmulas, tentando encontrar as palavras certas, mas tudo o que consegui fazer foi balançar a cabeça, sentindo as lágrimas escorrerem novamente.

— Ela... ela está na sala de emergência. Eles estão fazendo de tudo para salvá-la. — Minha voz estava fraca.

Luísa colocou as mãos na boca, sufocando um grito de horror. Ela se aproximou de mim, agarrando meus braços com força, como se precisasse da minha estabilidade para não desabar.

— Meu Deus. — Ela chorava.

Eu a puxei para um abraço apertado, sentindo a dor dela se mesclar à minha, criando uma nuvem densa de desespero ao nosso redor. Luísa soluçava em meu peito, e eu só conseguia segurar ela, tentando, mesmo em meio à minha própria dor, oferecer algum consolo.

— Eles vão ficar bem, Luísa. — Eu disse, mais para mim do que para ela, tentando acreditar nas próprias palavras. — Eles têm que ficar bem. Angelina... ela vai voltar para nós. E o bebê... ele vai ser forte, assim como a mãe dele.

— Você já sabe sobre o bebê? — A voz de Luísa soou suave, quase temerosa, como se ela estivesse tentando medir o impacto daquela informação em mim.

Assenti, sentindo uma mistura de emoções percorrer meu corpo.

— Matilde acabou de falar. — respondi, minha voz ligeiramente rouca. — Mas no fundo, eu já desconfiava.

Ela hesitou por um instante antes de continuar.

— Angelina estava com medo da sua reação, sabia?

Senti meu coração apertar ao pensar em como Angelina devia ter se sentido, temendo a minha resposta ao descobrir que estávamos esperando um filho. A ideia de que ela poderia ter duvidado, mesmo que por um momento, do meu amor e da minha devoção, fez meu coração apertar.

— Eu amo tanto a Angelina, Luísa — comecei, sentindo a intensidade das minhas palavras. — E com meu filho não seria diferente.

O amor que eu tinha por Angelina era imenso, algo que eu nunca imaginara ser capaz de sentir por alguém.

— Eu faria qualquer coisa por eles, Luísa. Qualquer coisa. — acrescentei. — Eu não sabia que Angelina e jogaria na frente. Se eu soubesse nunca teria permitido isso, eu teria levado quantos tiros fossem necessários para ele está aqui, bem. Se acontecer alguma coisa com a minha esposa ou o meu filho... — minha voz travou, o nó na garganta ficou maior.

— Você precisa ser forte, Raul. Tem que ser forte por ela e pelo meu neto. — Ela disse, tentando manter a voz firme.

— E eu sempre estarei aqui por eles. Vou estar aqui quando ela abrir os olhos. Vou ser o homem mais feliz do mundo quando ouvir da boca dela que vamos ter um filho.

Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]Onde histórias criam vida. Descubra agora