ANGELINA
Depois de um dia inteiro trancada no quarto, mergulhada em lágrimas e dor, finalmente tomei uma decisão. Precisava de um tempo longe de Raul para refletir e buscar conselhos.
Eu precisava do colo da minha mãe.
A situação entre nós estava insustentável, e eu precisava de um momento para respirar, para tentar encontrar uma maneira de salvar o que ainda restava do nosso relacionamento.
Arrumei uma pequena bolsa com algumas roupas e itens pessoais. Cada movimento parecia um esforço enorme, como se o peso da nossa briga estivesse preso a cada objeto que eu colocava na bolsa. A dor no meu peito era esmagadora, e a certeza de que Raul não acreditava em mim só piorava as coisas.
Desci as escadas e encontrei Raul sentado à mesa de jantar. Ele estava sozinho, com um prato de comida intocado à sua frente. Estava brincando com a comida, movendo os talheres de um lado para o outro, sem realmente comer nada e ele não levantou o olhar quando entrei na sala.
Respirei fundo, tentando manter a calma. Precisava falar com ele, mesmo sabendo que seria difícil. Me aproximei devagar.
— Vou passar a noite na casa da minha mãe. — Minha voz saiu baixa. — Preciso de um tempo para pensar. O seu Raimundo pode me levar?
Raul finalmente levantou o olhar, fixando seus olhos nos meus. Ele pegou o copo de bebida à sua frente, dando um gole antes de responder.
— Você não vai a lugar nenhum. — Ele disse, colocando o copo de volta na mesa com um estrondo. — É melhor você subir, desfazer essa bolsa e dormir.
Eu senti um nó se formando na minha garganta, mas mantive minha posição. Precisava ser forte.
—A situação entre nós está insustentável. Eu preciso de um tempo para pensar, para ficar com a minha mãe. Você não quer me ouvir de jeito nenhum. — Insisti, tentando manter a calma.
Raul se levantou da mesa, sua expressão endurecida. Ele deu alguns passos na minha direção, os olhos fixos nos meus.
— Você quer ir encontrar com Mário, não é? — Ele rosnou, a raiva evidente em sua voz. — E isso eu não vou permitir de jeito nenhum.
Senti a raiva crescendo dentro de mim. Como ele podia pensar isso?
— Isso já passou dos limites, Raul. — Eu disse, minha voz trêmula de emoção. — Você está louco. Estou cansada de tentar fazer você acreditar em mim. Se você continuar assim, sem ao menos ouvir o meu lado e tentar descobrir a verdade, acho melhor que a gente passe um tempo longe um do outro.
Raul deu um passo à frente, sua expressão se tornando ainda mais sombria. Ele pegou o copo que estava na sua mão e o jogou contra a parede, o vidro se estilhaçando em mil pedaços.
— Você não vai sair dessa casa, Angelina. — Ele disse, sua voz cheia de uma fúria controlada. — Você vai ficar aqui, comigo.
Eu recuei um passo, sentindo o medo se misturar à raiva e à dor.
— Não pode me obrigar. — Eu disse, minha voz firme, apesar do medo crescente.
Ele deu um sorriso frio, aquele tipo de sorriso que não alcança os olhos, deixando transparecer toda a sua frustração e amargura.
— Quer apostar? — Ele perguntou, a voz cheia de desafio, com um tom que fazia meu sangue gelar. — Eu fui um idiota com você até agora. Talvez por isso você tenha pensado que poderia fazer qualquer coisa que eu sempre relevaria. Mas vou te mostrar que as coisas não são bem assim.
Eu senti um arrepio subir pela minha espinha, e a sala pareceu ficar ainda mais fria e opressiva.
— Vai me proibir de sair e ver a minha família, é isso? — Retruquei, tentando manter a voz firme, mesmo que por dentro eu estivesse desmoronando.
Raul deu um passo à frente.
— Eu sou a sua família e essa é a sua casa. — Ele disse, cada palavra carregada de possessividade. — Aqui tem tudo o que você precisa. Tenho certeza que não precisa sair para nada.
Eu senti um nó se formar na minha garganta. A ideia de ficar presa ali, sem poder ver minha mãe ou meu irmão, era sufocante.
— Minha mãe... — Tentei argumentar, mas ele me interrompeu bruscamente.
— Basta que ela venha até aqui. — Ele esclareceu, falando alto — Por mais que não mereça nada de mim, não vou impedi-la de ver a sua mãe e o seu irmão. Tampouco tratarei eles de forma diferente, porque eles não têm culpa de você ser uma traidora.
Suas palavras cortaram fundo.
Ele se afastou, pegando um novo copo e servindo mais bebida. Seus movimentos eram mecânicos, quase automáticos.
— Suba, desfaça essa bolsa e vá dormir. — Ele repetiu.
Eu sabia que continuar discutindo não adiantaria. Ele estava fechado em sua própria dor e desconfiança, e nada do que eu dissesse parecia capaz de quebrar essa barreira. Com o coração pesado, virei-me e comecei a subir as escadas.
Queria tanto que ele acreditasse em mim, que entendesse que eu nunca o trairia. Mas as palavras de Mário haviam envenenado sua mente, e ele estava cego pela dor e pelo ciúme.
— Você ainda vai se arrepender dessas acusações e do que eu estou chorando por sua causa, Raul. — Eu disse, minha voz baixa e triste. — Espero que um dia você veja a verdade... e espero também que quando esse dia chegar não seja tarde demais para nós dois.
Eu olhei para Raul, procurando algum sinal de compreensão ou arrependimento em seus olhos. Por um momento, vi uma fração de vulnerabilidade, uma luta interna refletida em seu olhar. Os olhos brilhando com lágrimas não derramadas, mas ele rapidamente limpou a garganta e desviou o olhar. Sem dizer uma palavra, virou-se bruscamente e saiu, fechando a porta com um estrondo.
Subi o restante das escadas. Quando cheguei ao quarto, fechei a porta e me sentei na cama, me sentindo completamente exausta. As lágrimas continuavam a cair, e eu sabia que a noite seria longa e solitária.
No fundo do meu coração, ainda havia uma pequena chama de esperança. Esperança de que Raul finalmente enxergasse a verdade, de que ele entendesse que eu nunca o trairia. Mas por enquanto, tudo o que podia fazer era esperar.
Olhei para a bolsa que eu havia arrumado, ainda no chão ao lado da cama. A ideia de ir para a casa da minha mãe ainda parecia atraente, mas sabia que Raul não permitiria. E tentar fugir só pioraria a situação.
Deitei na cama, abraçando o travesseiro e deixando as lágrimas fluírem livremente. A noite parecia interminável, e a dor no meu peito era insuportável.
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Comprada pelo Fazendeiro Milionário [Paixões Rurais - Vol.1]
Storie d'amoreRaul Duarte Faria tem 45 anos e é dono de quase toda Campo Lindo, pequena cidadezinha no sul do país. Possuidor de terras, gados e várias empresas, tem o poder de controlar tudo e todos. Bom, quase tudo. Angelina é uma jovem humilde de 21 anos, que...