Capítulo 8

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Nathan

Robbie tinha razão; planejar festas é difícil.
Entretanto, lidar com ele é a parte mais difícil. Temos um plano com Joe
e Mattie de mantê-lo ocupado o dia todo enquanto o restante de nós espera
todas as entregas e prepara tudo.
Era o plano perfeito.
Até Robbie decidir ficar em casa para esperar alguma coisa que ele
comprou pela internet. Eu não poderia receber a encomenda,
aparentemente; ele mesmo tinha que ficar.
Depois de Joe, Robbie deve ser o cara mais inteligente que conheço, por
isso tenho total certeza de que ele fez isso só para nos estressar. Finalmente,
ele saiu com os meninos e, trinta segundos depois, o caminhão de entrega
chegou com as mesas. O pacote que Robbie estava esperando não chegou.
Sacana.
Sempre que acho que não tenho mais nada para aprender sobre meus
amigos, fazemos algo doido como tentar transformar a casa em um casino, e
aí descubro o quanto eles são irritantes.
A casa está incrível. Não economizei e não me arrependo de nada. Por
mais que ele me irrite, Robbie merece.
A melhor coisa que fiz foi contratar um serviço de bar completo. Eles se
organizaram no pátio, do lado de fora das portas duplas da cozinha, e foi
ótimo. Bobby e Kris se divertiram dando nome para os drinques, e acho queRobbie vai gostar quando ouvir alguém pedindo um Maria Chuteira ou um
Judge Judy.
Concordamos em não explicar a origem do nome Judge Judy. É mais
divertido deixar as pessoas curiosas, mas a resposta é que, quando Robbie
ficou no hospital depois do acidente, ele passou semanas assistindo a Judge
Judy.
Agora, quando está de ressaca, ele fica deitado no sofá da sala vendo seu
programa favorito sem parar. Ninguém tem permissão de falar durante o
episódio e ninguém pode contrariar a decisão dela.
Quando se mudou para nossa casa, Henry não entendia aquela cena e,
até hoje, não sei bem se sacou, mas ele sabe que precisa ficar em silêncio.
— Estamos gatos — elogia JJ, admirando todos nós de terno. Os caras
voltaram pouco antes do início da festa, para ter tempo de tomar banho e
trocar de roupa. Todos queríamos já estar prontos, para criar o clima de Las
Vegas para Robbie.
— Vocês acham que a Lola e a Anastasia vêm? — pergunta Henry,
mexendo na gravata-borboleta.
— Espero que sim, irmão. Robbie quer que a Lola venha, e não quero
decepcioná-lo.
— Não tem nada a ver com você querer fazer as pazes com a Tasi, então?
— brinca Bobby.
Arqueio minhas sobrancelhas.
— Desde quando ela virou “Tasi”?
— Somos amigos. O evento lá funcionou; eu gosto dela.
Ah, que ótimo.
Por sorte, os caras voltam, e pouco depois a festa começa de verdade, o
que me impede de ficar pensando em meus amigos sendo amigos da
Anastasia.
Uma das melhores coisas que fiz foi limitar o número de convidados da
festa. Primeiro, eu iria à falência se dissesse “open bar” em voz alta neste
campus.
Segundo, isso me permitiu colocar um dos calouros, Tim, com a lista na
porta. Assim, não preciso me preocupar com penetras.O sucesso do Tim como segurança da festa depende muito de que ele
permaneça ao lado da porta, então vê-lo passear pelo escritório com a
prancheta não me deixa muito feliz.
— Algo de errado?
— Tudo certo, capitão. Mais ou menos. Aquelas meninas que você me
disse para ficar de olho chegaram. Lola Mitchell e Anastasia Allen.
Graças a Deus.
— Ok. E qual é o problema?
— Bom, eu disse para eles virem te procurar, como você pediu, e…
— Fala logo, Tim.
— Lola, bem... ela falou pra eu te falar que, se quiser dar ordens para ela,
vai ter que colocá-la na droga do time.
— Entendi. Onde elas estão?
— No bar, capitão.
Mando Tim de volta para o lugar dele e fico de olho nas portas do quintal
enquanto continuo meu jogo de pôquer.
A casa está cheia de pessoas ao redor de várias mesas de jogo, bebendo e
rindo. Tentei me certificar de que nada ficasse cafona, especialmente quando
JJ tentou me convencer a contratar um sósia de Elvis que faz casamentos. O
risco de acabar me casando acidentalmente com JJ parecia grande demais,
então recusei.
Não vi as meninas entrarem, e já faz mais de uma hora que chegaram.
Quando finalmente vou ao bar, Henry, Robbie e Jaiden as acharam primeiro.
— Você está muito bonita hoje. Não parece em nada com um filhote de
girafa — ouço Henry dizer para Tasi quando me aproximo do grupo. JJ
começa a se engasgar com a bebida, mas ela não parece se importar de ter
sido comparada com um animal gigante e desajeitado.
— Está melhor agora que não tem o risco de estragar a surpresa? —
pergunta ela, seu olhar se voltando para mim quando me aproximo, e depois
retornando para Henry. Sinto que todo mundo, exceto Robbie, sabia o
quanto Henry estava preocupado e torcia por ele.
— Muito melhor, obrigado.Agora que estou mais perto, percebo como ela está linda pra caralho.
Seus cachos descem pelas costas, o vestido de seda azul-marinho tem um
grande decote na frente e atrás, além de uma fenda lateral que vai até a parte
de cima da coxa. Mas o mais lindo é que ela está sorrindo de orelha a orelha.
Ela está radiando felicidade enquanto conversa com meus amigos.
Não consigo deixar de sorrir feito um idiota quando olho para ela, e sei
que deve ter notado porque, às vezes, seus olhos passam por mim; mas
tenho medo de falar alguma coisa e estragar o momento.
Vê-la desse jeito me faz querer ser o cara mais engraçado do mundo, só
para ser a razão que a faz sorrir. Mas, por ora, vou ter que me contentar com
não deixá-la irritada.
O objetivo era fazer Lola vir por causa de Robbie, e consegui. Ela se senta
ao lado dele, e ficam sussurrando um para o outro, numa bolha onde só
existem os dois. Fico feliz por ele, e só com um pouco de inveja.
Anastasia esfrega as mãos pelos braços, e logo percebo que, para alguém
que não está usando muita roupa, deve estar frio.
— Aqui — digo, tirando meu paletó. — Toma.
A boca dela abre, e reconheço esse olhar. Vai começar uma briga. Mas me
surpreendo quando ela muda de ideia e aceita minha oferta. Ela coloca o
blazer sobre os ombros.
— Obrigada, Nathan.
— Vamos pegar uma bebida, Hen — diz JJ, dando um tapinha nas costas
dele.
— Mas eu tô com uma bebida e você também.
JJ suspira, arrasta Henry até o garçom mais próximo e murmura algo
sobre ser discreto.
Nunca fiquei nervoso por conversar com uma mulher antes. Com
Anastasia, porém, sei que preciso me esforçar ao máximo para conseguir
ficar amigo dela. Não podemos continuar com essa tensão entre nós pelas
próximas semanas ou meses. Ainda mais com todos os meus colegas de time
começando se dar bem com ela.
Além do mais, ela disse que estou sob observação, então preciso tentar
algo novo.— Você está linda. — Começou mal, Hawkins. — Está se divertindo?
— Sim, estou. É uma pena que foi você quem organizou. Ter que
reconhecer que você fez um bom trabalho é o único problema.
As palavras dela parecem mais pesadas do que realmente são. Carregam
um tom de desafio, mas o que não mostram é como seus olhos brilham, e
como seus dentes pressionam o lábio inferior enquanto espera minha
resposta.
Deus abençoe a tequila.
— Achei que a gente tinha um acordo. Estou sob observação, então você
deveria estar sendo legal — brinco, observando-a tentar não rir.
— Eu estou sendo legal.
— Isso é você sendo legal? Você é muito ruim nisso, Allen.
— Eu disse que você estava sob observação, não eu.
Provoco:
— Vou te ensinar a ser legal.
— Tenho certeza de que tem muitas coisas que pode me ensinar, Nathan,
mas ser legal não é uma delas. Eu sou um amor de pessoa.
— Hum. Acho que “amor” é um exagero. — Ela sorri. Um sorriso de
verdade, que ilumina seu rosto inteiro, e finalmente sinto que estou fazendo
progresso. — O que você gostaria que eu te ensinasse?
Ela acena com a cabeça em direção à casa.
— Que tal a gente começar com pôquer?
Antes que eu possa responder, Henry aparece de novo com um drinque
em cada mão.
— Eu topo pôquer.
— Ótimo. — Forço um sorriso, tentando não fazer careta por causa da
interrupção. — Vamos preparar uma mesa.
Todo mundo se acomoda em uma mesa no escritório e damos as cartas.
Vinte minutos depois, um recorde, o aniversariante abandona o jogo para
passar um tempo sozinho com Lola.
Fico feliz porque assim ele não vê Anastasia me fazer perder duzentos
dólares. Ensiná-la a jogar pôquer, até parece. Vou adicionar “teatro” na lista
de habilidades dela, porque realmente achei que ela nunca tinha jogado.Puta merda, chamou o naipe de paus de “folhinha”; convincente para cacete.
Bom, até ela soltar as cartas e acabar comigo.
— Aonde você vai? — pergunto a Tasi quando ela se levanta.
— No banheiro. Já volto.
Me levanto também e dou minhas fichas para Bobby.
— A fila deve estar gigante. Pode usar o meu, vem.
Ela aceita minha mão sem hesitar, e tenho uma sensação familiar. Espero
que, até o fim da noite, sejamos amigos, em vez do que aconteceu da última
vez.
Aparentemente, ainda não aprendi minha lição, e então vejo a bunda de
Anastasia rebolar na minha cara enquanto subimos as escadas. Os saltos do
sapato dela são enormes, não sei como consegue andar neles, então ela puxa
minha mão para sua cintura em busca de apoio.
Sinto a maciez da seda do vestido em meus dedos, o calor do corpo dela.
A cada passo, seu cabelo se move na minha frente, e o cheiro de mel e
morango atinge meu nariz.
Se esse é o maior problema na minha vida no momento, estou bem.
Enfim chegamos no meu quarto, digito a senha e a guio para dentro. De
certa forma, é bom estar a sós, assim podemos conversar. Os caras parecem
filhotinhos de golden retriever, lutando pela atenção dela.
Deve ser cansativo. É cansativo de assistir, além de ser terrível para mim,
que com certeza estou em último lugar nessa competição.
Ela congela ao sair do banheiro e me ver sentado na cama, então coloca
as mãos nos quadris.
— Eu não ia mexer nas suas coisas.
— Achei que iria querer um pouco de paz longe da sua legião de fãs.
Os ombros dela caem e o corpo parece relaxar.
— Eu gosto de todos eles, mas socializar me suga muita energia.
— Eu entendo. É muita coisa. Você acaba se acostumando, mas caso não,
eu posso te ajudar a fugir.
— E se eu quiser fugir de você?
— Com certeza não precisa de minha ajuda pra isso. Você é tipo expert
no assunto.Ela ri e, meu Deus, essa risada. Nunca gostei tanto de fazer alguém rir,
porque preciso me esforçar muito para conquistar cada sorriso dela — meu
lado competitivo fica feliz quando consigo. Ela se senta à minha mesa e me
conta sobre as apresentações de que participava quando era criança e como
era cansativo estar rodeada por centenas de crianças.
Fico sentado, escutando, assentindo e rindo, impressionado com a
dedicação e a confiança dela, como ela vê as coisas e explica tudo de forma
tão clara.
Quando termina de falar, parece que nem ela sabe de onde veio tudo
aquilo. Se concentra nas coisas da minha mesa e cutuca um livro aleatório.
— Não me importo se você quiser mexer nas minhas coisas. Você não viu
tudo da última vez.
— Não preciso. Sei tudo que preciso sobre você.
Não consigo controlar o suspiro quando ela se levanta e vai em direção à
porta do quarto. A mão dela toca a maçaneta e, por instinto, me inclino para
a frente e seguro de leve o braço dela.
— Você vai me perdoar? — pergunto, esperançoso.
— Eu disse, você está sob observação.
Passo a mão pelo cabelo, e o suspiro que sai da minha boca é fruto de
pura frustração.
— Isso não é um sim. Preciso ficar de joelhos e implorar, Anastasia? É
isso que você quer?
Ela balança a cabeça e ri.
— A única situação em que quero ver um homem de joelhos na minha
frente, Nate, é quando a cabeça dele está no meio das minhas pernas. Então
não, não quero que você implore.
Cacete.
Fico de pé, ao lado da cama, e vejo a postura dela mudar imediatamente.
A respiração dela fica mais pesada, as coxas pressionadas, a língua
aparecendo entre os lábios molhados. Não consigo conter o sorriso, porque
acabei de perceber que talvez a atração seja mútua.
— Você não me odeia tanto quanto finge, né? Se me quiser de joelhos,
Anastasia, posso dar um jeito nisso.Minhas mãos estão apoiadas na porta, de cada lado da cabeça dela; me
inclino para ficarmos na mesma altura, e seus olhos azuis ficam sombrios.
Ela engole em seco, e fico imaginando que, se encostasse a boca naquele
pescoço, sentiria a pulsação descompassada dela em meus lábios.
— Não estou fingindo.
— Está sim. — Ver ela tentar se controlar é excitante pra caralho, mesmo
que esteja sendo convincente. Vou sair daqui um homem feliz. Me inclino
para a frente, deixo minha boca pairar perto da orelha dela, a respiração
tocando o pescoço dela. — Peça com jeitinho. Deixa eu te mostrar o quanto
gosto quando você é legal comigo.
— Por que eu faria isso se nem gosto de você? — As palavras dela são
duras, mas a voz dela falha, fazendo-as perder a força.
— Você não precisa gostar de mim para gritar meu nome, Anastasia.
Traço o maxilar dela com a ponta do nariz, me deliciando com o jeito
como a respiração dela acelera.
— Eu poderia te dar um mapa para o meu ponto G e ainda assim você
não conseguiria me fazer gozar, Hawkins.
— Não preciso de um mapa.
— Precisa, sim.
Minha boca está a milímetros da dela, e não vou dar o primeiro passo.
Não preciso; se ela me quiser, vai me mostrar.
A ideia de eu precisar de um mapa para fazê-la gozar é uma piada. Ela
achar que eu não passaria cada segundo explorando seu corpo até conhecêlo
melhor do que o meu também é uma piada.
Gosto que ela seja competitiva, mas eu também sou; sempre fui. Por isso
que quase sempre ganho e, agora, estamos competindo para ver quem cede
primeiro.
Minha voz se transforma em um sussurro, e dou uma última chance a
ela:
— Vamos testar essa teoria, que tal?

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora