Epílogo

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Epílogo
DOIS ANOS (E UNS QUEBRADOS) DEPOIS
O horizonte de Seattle está brilhando sob a luz quente do fim da tarde.
O dr. Andrews está atrasado, mas eu não me importo porque isso me dá
mais tempo para aproveitar a vista.
Às vezes sinto falta do clima de Los Angeles quando estou presa na
chuva, mas agora, estou feliz.
— Pode entrar, Anastasia. — O dr. Andrews segura a porta para mim. —
Desculpa pelo atraso.
— Sem problemas — respondo e me levanto da cadeira. — Meus
tornozelos estão tão inchados que é bom me sentar.
— Bom, se faz você se sentir melhor, você está realmente brilhando. Fica
muito bonita grávida.
— É difícil, não vou mentir. — Eu me sento de frente para a mesa dele e
passo as mãos pela barriga, estremecendo quando sinto um chute na costela.
— Acho que ela vai ser jogadora de futebol. Gosta de chutar.
— Tenho certeza de que vai ser incrível no que quiser fazer, com uma
mãe medalhista de ouro olímpica e um pai campeão da Copa Stanley.
— Neste momento, ela é incrível em me deixar quase fazendo xixi nas
calças.
Depois que me formei, voltei para Washington para ficar mais perto de
Nathan, e decidi fazer sessões de terapia semirregulares. A terapia não é
mais tão difícil, e fico feliz por isso. Refletir sobre meus sentimentos, sobre oque fiz, o que estou ansiosa para fazer, e até o que me deixa nervosa. Tudo
isso me lembra de como tenho sorte.
Quando estou voltando para casa, a bebê H está se movendo, tão
empolgada quanto eu para ver o pai. Bom, é o que eu digo para Nate,
deixando de lado o fato de que ela parece fazer sapateado nos meus órgãos
quando abro o segundo pacote de Cheetos picante.
Quando ele me comprou a Range Rover, também conhecida como meu
carro de mãe com um toque de desculpa-por-ter-te-engravidado, encheu
todo o painel com lanches.
Foi uma ótima ideia, já que sua filha está sempre com fome.
Sim, estou culpando meu bebê que ainda nem nasceu pelo tanto que
como quando estou no trânsito.
Estaciono na nossa garagem, ao lado do carro dos meus pais. Mal saí do
carro e já ouvi o latido de Bunny do quintal.
— Para de incomodar o meu bebê — grito mais alto que os latidos,
andando até onde Nathan e meu pai estão brincando com Bunny com
arminhas d’água.
— A mamãe chegou! — grita Nate, fazendo a bola de pelos molhados de
quase trinta quilos correr na minha direção, balançando o rabo sem parar.
Depois de saber que seria transferido para Seattle no fim da temporada,
Nathan me prometeu que, depois das Olimpíadas, em fevereiro, poderíamos
ter um golden retriever. O que nenhum de nós dois esperava quando
decidimos ser pais de pet era que a minha ansiedade pré-Olimpíadas me
faria vomitar meus anticoncepcionais.
Eu ganhei o ouro na categoria individual feminina.
Nós comemoramos.
Bastante.
Em todas as superfícies possíveis.
Seis meses depois, temos uma melancia no estômago e o filhote mais
caótico do mundo.
Nate vem na minha direção e mira a arminha de plástico em mim com
um brilho nos olhos castanhos. Seus shorts estão baixos nos quadris, com osúltimos raios de sol do dia brilhante na sua pele bronzeada. Caramba, como
ele é gostoso.
— Não se atreva, Hawkins.
— Bem-vinda de volta. — Ele larga a arma no chão, quase acertando
Bunny, que corria aos nossos pés. Ele pega meu rosto e me beija, fazendo
todas as células do meu corpo comemorarem.
A gravidez deixou tudo mais intenso, então se eu achava que me sentia
atraída por ele antes, estava muito enganada. O fato de meus pais estarem
aqui agora é a única coisa que me impede de escalar nele como em uma
árvore.
— Como estão minhas meninas hoje? — As mãos de Nate descem pelos
meus braços até chegar na barriga. Ela vai ficar agitada como sempre
acontece quando ele está por perto. — Quer que eu faça aquela coisa?
— Sim, por favor. Estamos bem. Estamos com fome. — Ele fica atrás de
mim e passa os braços ao meu redor até se unirem embaixo da barriga,
aliviando o peso, e eu imediatamente me derreto. — Ah, isso. Delícia.
Eu sempre suspeitei que um bebê Hawkins seria grande, mas desde o
primeiro mês minha barriga ficou aparente.
Muito em breve, adeus, minha vagina.
Eu sou apenas peitos e barriga. Peitos imensos que fazem todo mundo
me encarar. Visitei Lola em Nova York com minha mãe, e ela passou a
viagem inteira olhando para eles e se perguntando se deveria colocar
silicone.
Minha mãe aparece com um copo de limonada e, ao olhar para os dois,
me pergunto por que saí de casa hoje.
— Já fez as malas, amor?
Eu assinto.
— Nada me veste direito, então vou usar cropped a semana inteira.
Nate me dá um beijo na bochecha.
— Fica bem no Ursinho Pooh.
Quando Alex, o companheiro de JJ, se ofereceu para nos ajudar a planejar
nossa “lua de fraldas”, achei que era brincadeira. Mas parece que existe todoum universo de coisas de bebê que ainda não conheço. Coisas que envolvem
ganhar presentes e viagens são as minhas favoritas.
— Arrumou as coisas do bebê? — pergunto, coçando a cabeça de Bunny.
Minha mãe suspira.
— Você sabe que vai precisar parar de chamá-lo assim quando o bebê de
verdade nascer, né?
Eu faço uma careta na hora.
— Não vou, não. Primogênito. — Aponto para a carinha peluda
lambendo meu tornozelo, depois para a minha barriga. — Segundo filho.
Ela revira os olhos e se abaixa para fazer carinho em Bunny, evitando a
língua babada que vai na direção do seu rosto.
— Vamos, amiguinho, vamos tirar férias também!
A empolgação intensa que eu sentia quando viajava está bem mais fraca
agora que sou uma bola de boliche, mas gosto de mandar em Nathan
enquanto fico com os pés para cima.
Estamos juntos há mais de dois anos e o homem ainda não consegue usar
um organizador de mala.
A viagem de Seattle até Cabo é tranquila, e só nos param para tirar fotos
um milhão de vezes. Meus fãs favoritos são os que não assistem hóquei e
dão o celular para Nate quando querem tirar foto. Ele diz que não se
importa que as pessoas achem que ele só é famoso por ser meu namorado.
Não consigo deixar de rir quando ele fala isso, porque parece que é
verdade. Eu disse que podemos melhorar a reputação dele antes de eu
ganhar minha próxima medalha; talvez isso reduza seu trabalho como
fotógrafo.
Nossa villa está mais para uma mansão na praia, mas Nate diz que é
importante ser extravagante, porque quer que eu tenha privacidade e que
possa ficar confortável.
Nua. Ele quer que eu fique nua.
Passamos o dia na praia, lendo e cochilando, nos refrescando no mar.
Nate cavou um buraco na areia do tamanho perfeito para a bebê Hawkins, e
pela primeira vez em meses, consigo dormir de barriga para baixo. Paraíso.— Tasi, está pronta?
— Para de me apressar!
Ouço ele rir da sala de estar.
— Bom, pode ir mais rápido? Temos uma reserva.
Não tendo escolha a não ser lavar a água do mar do meu cabelo, cometi o
erro após o banho de me sentar na cama de toalha com um pacote de Lays
sabor churrasco e meu celular. Agora estou atualizada com o que todo
mundo está fazendo, mas não estou vestida e meu cabelo está úmido e cheio
de frizz.
Prendo o cabelo em um rabo de cavalo molhado, coloco um vestido floral
e passo um pouco de contorno em vários pontos do rosto, além de um
pouco de rímel. O lado bom de sair de férias é que posso fingir que era
assim mesmo que queria me vestir e ninguém pode negar.
Quando finalmente saio do quarto, Nate está assistindo à corrida de
carros com uma cerveja na mão.
— Vamos, vamos nos atrasar.
Ele abre a boca e vira a cabeça para me olhar em choque.
— Eu estava esperando por você! Por um tempão!
— Que exagero — eu murmuro e coloco meu celular na bolsa. — Vamos?
Em pé, ele termina a cerveja, balança a cabeça e me xinga baixinho.
— Preciso checar uma coisa. Te encontro lá fora.
— Depressa, Nathan. — Eu me controlo para não rir. — Temos uma
reserva.
Ele arregala os olhos e depois os fecha, respirando fundo.
— Eu sei. Foi o que eu disse.
O caminho para o restaurante é curto, e eles nos guiaram pelo salão
principal até uma praia privativa. Pétalas de rosa marcavam o caminho até
uma mesa solitária no meio da praia.
Nathan coloca o cabelo atrás da minha orelha antes de se sentar na
minha frente.
— Eu vou comer tudo no cardápio — aviso a ele. — Não vai ser bonito.
— Tudo que você faz é lindo.
— Vamos ver…Não consigo comer tudo no cardápio, mas como o meu prato, o de Nate,
e a cesta de pães. Fico sentada olhando para ele enquanto bebe vinho e
observa as pessoas. Ele está estranhamente quieto hoje, mas fica assim
quando está relaxando. Estar sempre rodeado de barulho e caos no trabalho
é cansativo, e alguns dos nossos momentos mais especiais foram passados
em silêncio, na companhia um do outro.
Sentindo meu olhar, ele vira a cabeça para mim, nossos olhos se
encontram e eu perco o ar. A ponta do seu nariz está rosa por causa do sol
de hoje, e a barba normalmente bem aparada está bem mais longa. Toda vez
que olho para ele, minha pulsação acelera e meu coração bate forte, e
quando acho que não poderia amá-lo mais do que já amo, algo muda.
Me apaixonar por Nate Hawkins não foi algo planejado.
Nenhum planner, iPad ou tabela de adesivos poderia ter me preparado
para o que iria acontecer.
Minha imaginação não conseguiria criar esse tipo de felicidade.
— Você está me encarando com aquela expressão boba que sempre tem
no rosto quando está pensando demais em algo — diz Nate, brincando.
Reviro os olhos, rindo da interrupção grosseira dele no meu monólogo
interno.
— Estou pensando no quanto eu te amo.
— Que engraçado. Estava pensando nisso também.
Ele empurra a cadeira para trás, se levanta, e observo ele, curiosa.
— O que você… — Ele afunda um joelho na areia ao meu lado. — Ai,
meu Deus.
Ele coloca a mão no bolso, meu coração desacelera e sinto um nó, um dos
grandes (mas não tanto quanto o diamante na minha frente), se formando
na garganta. A bebê H está dançando na barriga e lágrimas se formam nos
meus olhos.
— Anastasia, você é a melhor coisa que já aconteceu comigo, e te chamar
de amor da minha vida não faz justiça ao quanto eu te amo. Minha
existência não faz sentido sem você ao meu lado. Pelo resto das nossas vidas,
na próxima vida, em todas as realidades alternativas. Eu serei seu, se vocême quiser. Você é minha melhor amiga, meu maior presente, e Mila, e
Bunny, claro, têm tanta sorte de ter você como mãe.
Lá vêm as lágrimas.
— Quer se casar comigo?
Eu faço que sim rapidamente e me jogo nele, quase derrubando-o na
areia.
— Sim, sim, sim! — Minhas mãos estão tremendo quando ele coloca o
anel no meu dedo e imediatamente pega meu rosto e me beija como se não
houvesse amanhã.
— Anastasia Hawkins. Uau. E aqui estava eu pensando que isso era só
uma coisa casual, sem compromisso, sem ciúmes.
Ele ri e me beija de novo.
— Cala a boca, Anastasia.

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora