Capitulo 28

161 2 0
                                    


Nathan

Meu celular está cheio de mensagens e não preciso abrir todas porque já
vi uma e tenho certeza de que o restante é a mesma coisa.
Todas contêm um vídeo em que eu apareço andando pela sala de estar,
bêbado e praticamente pelado, tentando arrastar Anastasia para o quarto
comigo, como um bebê carente.
Ela ainda está aninhada comigo, sua respiração faz cócegas no meu peito,
os cabelos castanhos decoram meu bíceps. Vejo que o que sobrou do nosso
muro de travesseiros está jogado no chão do quarto.
Não consigo me lembrar, mas acho que a culpa é minha.
Eu diria que o fato de estarmos deitados de conchinha agora também é
culpa minha, mas a julgar pela expressão feliz no rosto dela enquanto dorme
tranquila, acho que Tasi está tão feliz quanto eu com essa proximidade.
Eu nunca costumo ficar bêbado a esse ponto, porque meus amigos são
irresponsáveis demais para ficar sem um adulto por perto. Mas ontem à
noite fui intimado a jogar um jogo de bebida por uma mulher que acho que
estava trapaceando.
Ela estava cuidando de mim, e não o contrário, o que praticamente
confirma minhas suspeitas. Eu decido encarar o pior enquanto ela está
dormindo e abro o grupo.
MARIAS PATINS
JAIDEN JOHALNate quando Tasi conversa com alguém que não
é ele.
JOE CARTER
Quando ele acorda e ela não está lá.
KRIS HUDSON
Quando ele diz sem sexo, só conchinha.
A próxima mensagem é da minha irmã, Sasha.
SASH HAWKINS
Mds, que vergonha de você.
Vou tirar a UCMH da minha lista de possíveis
faculdades.
Como você sabe disso?
Eu vi na página de fofocas da UCMH.
Preciso de terapia agora, valeu.
Maravilha.
Já estou puta porque você vai me abandonar no
Natal.
Ah, deve ser tão ruim pra você.
Como lidar com isso em uma praia em St. Barts?
De nada, por sinal.
Bom.
Aproveita o Natal sozinho, seu esquisitão.
Meu pai seguiu meu conselho e ofereceu nos levar para tirar férias em St.
Barts no Natal. Eu não sei quem ficou mais chocado: Sasha, por conseguir o
que queria, ou eu, por ele ter seguido meu conselho.
Eu adoraria passar o Natal com Sasha, mas sinceramente prefiro nadar
em águas infestadas de tubarões vestindo uma fantasia de foca do que passar
duas semanas com meu pai em outro país.
Meu celular vibra com outra mensagem do time.Ah, maravilha. Eu virei um meme.
Às vezes eu facilito muito a vida deles, mas essa foi demais. Eu não tive
uma namorada desde que entrei na faculdade. Não que Tasi seja minha
namorada. Por que estou surtando, como se ela pudesse ouvir meus
pensamentos? Quando eu disse que era do tipo tudo ou nada, estava meio
que brincando. Com certeza não estava esperando que ela se mudasse para
cá.
A ideia de ela não morar comigo e os caras é estranha agora, e fico
preocupado com o que vai acontecer depois. Ela disse uma vez que, depois
que se resolvesse com Aaron, iria voltar a morar lá. É difícil de entender,
ainda mais porque ela diz que esta casa é o lar dela.
Anastasia acha que ter começado nosso relacionamento — sim, ela usou
a palavra “relacionamento” — de um jeito muito intenso nos fez ser fadados
ao fracasso. Depois, ela me lembra que no fim do ano escolar eu vou me
mudar para o Canadá e ela vai ficar sozinha aqui. Ela tem razão, mas isso
ainda não me convenceu de que ela deveria voltar a morar com Aaron.
Ela se mexe nos meus braços, e parece uma boa hora para começar a
roncar de mentira, mas seus olhos abrem de repente, e ela não parece nada
impressionada.
— Por que está me encarando, seu esquisito? — Ela nem me deixa
responder. — Nem diz que é porque estou linda. Eu consigo sentir a baba
seca na minha bochecha.
— Eu adoro quando você fala safadezas pra mim.
— Você está em grandes apuros, rapazinho — diz ela ao bocejar, se
espreguiçando. Não sei se é a ressaca ou ansiedade causada pela expectativa
de ouvir uma bronca que faz meu estômago revirar, mas estou nervoso. —
Como está a cabeça? Quer que eu faça panquecas pra você?
Olha só. Por essa eu não esperava.
— Eu te fiz passar vergonha e você quer fazer panquecas pra mim?
— Você se fez passar vergonha. — Ela ri. — E eu tenho certeza de que
seus amigos vão acabar com a sua raça hoje. Talvez pro resto da sua vida, na
verdade. Pode-se dizer que vou fazer essas panquecas por piedade. Quer
gotas de chocolate?Ela se senta ao meu lado, o cabelo bagunçado que nem uma juba,
sonolenta, mas com olhos gentis. Não consigo deixar de tocar no rosto dela
e acariciar sua bochecha.
— O que eu fiz para merecer você?
Ela beija a palma da minha mão e sai da cama passando por cima de
mim.
— Você é muito bonzinho e muito bonito.
— E se eu for atacado por uma onça-parda e ela comer meu rosto, ainda
vai gostar de mim?
Eu a vejo tentando segurar a risada enquanto aperta os lábios.
— Você tem passado muito tempo com JJ. Ele sempre me pergunta essas
coisas. Hum, você ainda vai ser bonzinho quando não tiver rosto?
Penso um pouco.
— Sim.
— Vou continuar gostando de você.
Continuamos a conversa na cozinha, onde todo mundo está esperando
impacientemente pelas panquecas de Tasi.
— E se ele for mordido por um tubarão, mas sobreviver e ficar com uma
cicatriz massa, mas toda lua cheia se transformar em tubarão? Vai gostar
dele mesmo assim? — pergunta JJ, recuando após tentar pegar uma
panqueca da pilha que Tasi está montando e ela bater na sua mão.
— Quando ele for um tubarão, vai morar no mar ou numa banheira que
eu terei que encher e tal?
Sem hesitação, JJ responde:
— No mar. Você só tem que deixá-lo em Venice Beach antes do pôr do
sol.
— Sim, ainda vou gostar dele.
Ela serve as panquecas para todo mundo e cobre seu prato com
morangos e calda. Ela está viciada em panquecas com whey porque significa
que não precisa mais aturar o gosto dos shakes de proteína.
Henry está estranhamente quieto enquanto escuta Robbie, JJ e Lola
montarem cenários absurdos, como se estivessem num show de
improvisação. Ele não costuma ficar tão quieto assim por muito tempo.— Então, se eu entendi bem, Tasi, desde que Nathan te trate bem, não
tem nada que faria você não gostar mais dele?
Ela dá de ombros.
— Hum, acho que sim? Não sei. Não estou muito preocupada com a
possibilidade de ele entrar na máfia ou só poder vestir roupa de palhaço pelo
resto da vida, tipo, não é real, né?
— Pra mim, parece que você está apaixonada por ele. — Todo mundo
arregala os olhos e se vira para Henry. Com a boca cheia de panqueca, ele
olha para todos nós, confuso. — Que foi?
É bom saber que Tasi ainda gostaria de mim se eu tivesse mãos de
lagosta? Claro. Eu quero que Henry fale esse tipo de coisa no meio do café
da manhã, sendo que estamos esperando para ter essa conversa em janeiro?
Não.
Ele bebe um gole d’água e limpa a garganta.
— A julgar pelo jeito como todo mundo está me encarando, acho que
deve ser uma daquelas coisas que eu não deveria falar.
— As panquecas estão uma delícia, Tasi — diz JJ bem alto.
— As melhores — complemento e coloco mais uma garfada na boca.
Ela está bem concentrada em seus morangos, mas não consegue esconder
as bochechas rosadas.
Interessante.
— Nate, o rinque não é aqui.
— Não vamos pro rinque.
Brady disse que precisávamos lidar com nosso problema de confiança,
então é isso que vamos fazer. Problema de confiança é como estamos
chamando isso, porque somos uma equipe. Dizer que Tasi está com medo
coloca a culpa nela e faz ela se sentir pior.
— Não podemos matar um treino só porque você está de ressaca —
resmunga ela.
— Eu comi três donuts hoje de manhã com JJ, não estou mais de ressaca.
E não vamos matar o treino. Brady aprovou isso.
— O que vamos fazer?— Vamos aprender a confiar um no outro.
O restante da viagem foi silencioso, com ela sentada e irritada porque me
recuso a dizer para onde estamos indo. Mal sabe ela que eu gosto do bico
que faz e do modo como franze o nariz quando está irritada.
Quando paramos no estacionamento da piscina da UCMH, sinto os
olhos dela pairarem em mim.
— Nadar? Está de brincadeira, né?
— O time de natação está na Filadélfia para uma competição. Vamos ficar
com a piscina inteira para nós. Vou provar para você que consigo lidar com
qualquer coisa que você faça.
O princípio da coisa é bom, mas o jeito como o rosto dela murcha me
deixa triste.
— Eu não trouxe roupa de banho.
— Levei Lola para casa na hora do almoço e ela pegou suas coisas. Você
tem tudo que precisa e vai dar tudo certo.
— Se está dizendo — retruca ela, tirando o cinto de segurança.
Estou esperando por ela há quinze minutos na porta do vestiário e nada.
Pensei até que ela poderia ter pedido um Uber, mas a cabeça dela finalmente
aparece.
— Você fez algum pedido em especial para Lola quando pediu para ela
pegar uma roupa de banho?
— Eu pedi para ela pegar algo que a gente pudesse usar na piscina, por
quê?
Ela bufa e revira os olhos.
— Bom, saiba que a última vez que esse biquíni foi usado foi nas férias de
primavera em Palm Springs.
A cabeça dela some e depois aparece o corpo inteiro, e eu me engasgo
com nada. Ar? Saliva? Não sei, mas estou tentando respirar.
Chamar o que ela está vestindo de biquíni é um exagero. O que ela está
vestindo é um retalho que não cobre nada. Ela dá uma volta e, sim, a bunda
inteira está de fora, com uma linha rosa em cima de onde as nádegas se
encontram.
— Você sinceramente achou que Lo iria me mandar algo prático?Minha boca está seca como um deserto, e tenho dificuldade para engolir
saliva. Ela tem trocado de roupa no banheiro desde o nosso acordo, então
não tenho visto muita pele desde a última vez que tomamos banho juntos.
Na última vez que transamos, ela estava mais vestida do que neste momento.
— Hum. — Boa. — Hum, vamos entrar na piscina?
Ela está tentando não rir e eu estou tentando não encarar, e nenhum dos
dois está fazendo um bom trabalho. Ainda bem que o time de natação não
está aqui. Não sei se conseguiria socar todos os caras que olhassem para ela,
mas iria tentar.
O centro de natação tem algumas piscinas diferentes, então vamos até a
mais rasa. O objetivo é fazer Tasi acreditar que não vou derrubá-la enquanto
tem a segurança de que o pior que pode acontecer é engolir um pouco de
água.
— Ah, ótimo — ela resmunga ao ouvir o plano, enquanto entra na água
pela lateral da piscina. — Então não preciso me preocupar só com você me
derrubar, mas também com a possibilidade de me afogar.
— Não vou te derrubar, e você não vai se afogar. Repete para eu ter
certeza de que me ouviu — digo ao ficar do lado dela.
— Você não vai me derrubar.
— E?
— Você nunca deixaria eu me afogar.
— Muito bem. Então, o que vamos fazer primeiro?
Nunca me concentrei tanto em alguma coisa na vida. Mesmo com a água,
até aqui cada movimento, que praticamos pelo menos umas dez vezes, foi
muito fácil.
A profundidade da piscina é suficiente para dar a ela a segurança de que
precisa, ao mesmo tempo que nos permite trabalhar com a nossa diferença
de altura. Ela me disse que vamos começar com os movimentos mais
difíceis, e o entusiasmo dela muda na hora.
— Eu me inclino para a frente e me estico a partir do seu quadril — diz
ela, colocando as mãos na posição correta. — Eu vou me apoiar no seu
ombro, assim. Você precisa meio que segurar minhas costelas com os braços
e se inclinar para trás. Quase como se fosse um contrapeso.Eu faço exatamente o que ela diz, me inclinando para trás enquanto seu
corpo sai da água, com as pernas eretas. Tenho uma bela visão da bunda
dela agora, mas também estou feliz com o movimento.
O corpo dela desce e fico na posição até ela me dizer que posso parar. Seu
sorriso é contagiante e fico aliviado ao ver que isso tudo parece estar
funcionando. Fazemos mais algumas vezes até ela ficar satisfeita.
— Qual é o próximo passo, treinadora?
Ela pressiona os lábios com os dedos, as bochechas rosadas, e então
balança a cabeça.
— Eu não quero mostrar.
— Prometo que não vou te derrubar.
Ela bate as mãos na água, olhando para tudo, menos para mim.
— Não é só isso. Hum, estou preocupada porque… você vai ter visão
completa do meio das minhas pernas. Eu preciso abrir as pernas enquanto
estou no ar.
Eu a vi fazer isso uma vez. Eu diria que é uma preocupação bem válida,
considerando o pedacinho de pano que está vestindo.
— Não tem nada que eu já não tenha visto. Você sentou na minha cara,
Anastasia. Eu sou um grande fã seu, talvez o maior de todos.
Ela resmunga um “puta merda” baixinho e se vira para ficar de frente
para mim.
— Pronto?
Ela entrelaça os dedos nos meus e conta até três. Eu a empurro para cima,
travando os braços quando suas pernas se abrem. Ela está um pouco
trêmula e segura minhas mãos com força.
— Não fica nervosa. Eu tô aqui. Eu te pegaria antes de você bater na água,
meu bem. Concentre-se.
Consigo ouvir ela falando consigo mesma, mas não entendo o que está
dizendo, e, depois de alguns segundos, ela para de tremer e começa a rir. Ela
abaixa as pernas e eu desço seu corpo até a água.
— Muito bom, você foi muito bem.
Praticamos mais algumas vezes até ela ficar satisfeita com nossos acertos,
e todas as vezes que a desço de volta para a água, sinto seu medo sedissipando.
— Você é bem forte, sabia — diz ela, como se estivesse surpresa. Não vou
ter essa conversa com ela, porque sei que ela deve ter se pesado hoje de
manhã, e não é a hora certa.
— Por que não fazemos o movimento que você estava fazendo quando
caiu? Não é esse que mais te preocupa?
Ela está flutuando na água na minha frente enquanto explica o
movimento, mas não me deixa tocar nela. Eu afundo até os ombros estarem
cobertos também e escuto ela me dizer onde colocar as mãos. Consigo ouvir
a ansiedade na voz dela, e não posso nem imaginar como teria sido ruim se
ela tivesse mesmo batido no gelo.
— Anastasia, me escuta. Eu não vou te derrubar, e mesmo se derrubar,
você só vai cair na água. Esse é o pior que pode acontecer. Você vai molhar o
cabelo e engolir a água nojenta da piscina da Maple Hills.
— Eu sei que estou sendo idiota, me desculpa. Eu confio em você. Juro.
— Vamos, chega de falar. Vamos fazer.
Ficamos na posição, e, antes que ela possa mudar de ideia, está acima da
minha cabeça se equilibrando em uma das minhas mãos. Mesmo tocando
apenas seu quadril, sinto que está tremendo e escuto sua respiração nervosa.
— Respira fundo.
— Me coloca no chão, não gosto disso.
— Tente se derrubar, Tasi. Se mexe. O quanto você quiser.
— Você está sendo um idiota!
— Tenta!
Ela resmunga alguns xingamentos quando começa a se mexer no ar.
Demoro um segundo para colocar a outra mão no outro lado do quadril
dela e, não importa o quanto ela se mexa, não vai a lugar algum. Eu deixo
que ela se remexa por dez segundos, tentando se soltar, e então a desço até a
água na minha frente, segurando sua cintura com cuidado.
— Viu? Você está segura.
O estômago dela está colado no meu, seus braços no meu pescoço,
respirando pesado.
— O que eu fiz para merecer você?Eu beijo a testa dela, pensando na melhor resposta para essa pergunta.
Ela não existe, então eu escolho algo não tão bom:
— Não sei, mas também gostaria de você mesmo se tivesse mãos de
lagosta.

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora