Capítulo 41

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Anastasia

Qual é o meu nome?
Por que não consigo me lembrar da porra do meu próprio nome?
Ian Hawkins está ao meu lado e me olhando como se fosse Darth Vader
em pessoa, com a mão esticada para eu cumprimentá-lo pela primeira vez, e
eu não consigo lembrar qual é meu nome, merda. A mão de Nate aperta
meu joelho; era pra isso me acalmar, mas só me lembra de que não falei na
hora certa.
— Essa é Anastasia Allen, minha namorada. Tasi, esse é o meu pai, Ian
Hawkins — diz Nate calmamente, me dando a mão.
O pai de Nate é exatamente como imagino que Nate vai ficar daqui a
trinta anos. Ele é alto, tem um queixo bem definido, com cabelos escuros e
olhos castanhos grandes. Se não fosse meu novo arqui-inimigo, eu poderia
até admitir que é muito bonito, mas nem fodendo.
— Sr. Hawkins, é um prazer conhecê-lo — eu consigo dizer com o sorriso
mais falso do mundo, apertando a mão dele como se fôssemos políticos ou
algo assim. Ele se senta na minha frente e mal posso esperar para passar o
almoço inteiro trocando olhares desconfortáveis.
Porém, agora, ele está muito mais preocupado com a roupa de Sasha.
— Você não quis trocar a roupa da viagem? — pergunta Ian, ríspido. Mal
dá para perceber que ele passou quinze horas no avião: suas roupas estão
impecáveis, o cabelo arrumado. Mas, com essa única frase, essa crítica à sua
filha adolescente, já sei tudo que preciso saber sobre Ian Hawkins.A postura dela muda, ela se recolhe e abaixa a cabeça. Não consigo assistir
isso.
— Você parece muito confortável, Sasha. Eu queria estar com minha
calça de moletom também.
Isso é o bastante para chamar sua atenção de novo: seus olhos encontram
os meus e não desvio o olhar, por mais que queira. Sinto como se tivesse
aberto uma porta para ele, suas críticas e julgamento. Consigo vê-lo me
analisando, e fica claro pela forma como ele quebra o contato visual e analisa
meu rosto e minha roupa. Ele dá um sorriso discreto.
— Me conte sobre você, Anastasia.
— O que gostaria de saber, sr. Hawkins?
— Pode me chamar de Ian, não há motivo para formalidades. A julgar
pela forma como meu filho está cortando a circulação dos seus dedos,
imagino que seja muito apegado a você — diz ele, rindo, mas sem humor na
voz. — Que tal começarmos por onde você nasceu?
— Seattle, Washington. Estou morando há alguns anos em Maple Hills,
para estudar.
As bebidas chegam, os funcionários são rápidos e discretos na frente do
seu chefe. Nate não tira os olhos do pai, tem medo de afastar o olhar, acho,
mas diz um “obrigado” enquanto pega a Sprite com a mão que não está
esmagando a minha.
— De nada, Nate — diz uma voz suave. Nós dois olhamos para cima ao
mesmo tempo e vemos uma loira bonita colocando uma jarra de água na
frente de Ian.
Eu diria que ela tem a nossa idade, belos olhos verdes e um sorriso
encantador. Ela está olhando para ele de um jeito familiar, e alguma coisa faz
a minha pele se arrepiar. Sinto algo desconfortável na boca do estômago e
percebo que o sentimento é ciúme.
— Eu não sabia que você estava aqui — continua ela, ignorando minha
presença. — Devia ter me avisado.
Seus dedos relaxam, e sinto um aperto no coração assim que ele solta
minha mão, mas em vez de se afastar, ele se aproxima de mim, coloca umamecha de cabelo atrás da minha orelha e apoia o braço na minha cadeira,
tocando meu ombro do outro lado.
— Você pediu sem gelo, né? — pergunta ele, apontando para o copo na
minha frente.
Eu olho para os cubos de gelo flutuando e o copo molhado em vez de
encarar a mulher com quem Nathan obviamente transou em algum
momento.
Eu preciso parar, isso é desnecessário. Não me sinto assim quando
estamos em Maple Hills. Lá eu não me importo com quem ele transou, mas
aqui, na frente do pai e da irmã, sinto o ciúme tomar conta de mim.
— O quê? Ah, sim, mas não tem problema.
Ele pega o copo e entrega para a mulher.
— Ela não queria gelo. — Seu tom é ríspido, muito mais do que eu estou
acostumada a ouvir, e é estranho vê-lo tão sério.
A moça parece em choque ao aceitar o copo da mão dele, ainda sem me
encarar, mas conseguindo olhar para Sasha, que está tentando controlar uma
risada ao cobrir a boca. Muito tempo se passa sem ninguém falar nada.
— Isso é tudo, Ashley — diz Ian, entediado com a situação atual. —
Pegue uma bebida sem gelo para Anastasia, como ela pediu, e avise Mark
que estamos prontos para pedir.
O tom severo dele a traz de volta para a realidade.
— Sim, senhor.
— E Ashley?
— Pois não, sr. Hawkins? — responde ela rapidamente, se virando para
olhá-lo.
— Anastasia faz parte desta família e é uma convidada. Vou fingir que
você teve a gentileza de olhar para ela e se desculpar pelo erro, como faria
com qualquer outro cliente. Que isso não aconteça de novo, ou vai começar
o ano procurando por um novo trabalho.
Estou usando todos os músculos do meu corpo para não deixar meu
queixo cair. Nathan se remexe na cadeira e pega de novo na minha mão. Ian
se serve de um copo d’água e bebe um gole.
— Onde estávamos? Faculdade. O que você estuda?Eu explico que estou no terceiro ano de administração, que sou filha
única, que já tenho vinte e um porque comecei a escola um ano mais tarde,
já que fui adotada aos cinco anos. Tenho que admitir, ele assente nos
momentos certos e faz perguntas como quem se importa.
Minha bebida sem gelo chega, Nate e Sasha ficam sentados em silêncio,
provavelmente felizes que a atenção não esteja voltada para eles. Tenho uma
pequena folga quando vamos pedir. Nate se aproxima e beija minha
têmpora.
— O que você vai pedir? — ele pergunta, quase sussurrando. — Estou
muito orgulhoso de você, meu bem. Está indo muito bem.
Eu não consigo responder porque Sasha tenta pedir um hambúrguer de
frango com batatas fritas e seu pai diz que não.
— Ela vai querer a salada de frango e castanha de caju, com molho à
parte.
— Mas, pai, eu que…
— Não, Sasha.
Eu odeio isso, e todas as críticas que já tive sobre meus pais me cobrem
de culpa, porque eles nunca fizeram eu me sentir tão mal quanto me sinto ao
vê-lo interagir com Sasha. As palavras me escapam antes que eu consiga me
controlar.
— O mundo não vai acabar se ela comer um hambúrguer.
Pela primeira vez desde que nos sentamos, vejo um brilho de emoção no
rosto indiferente de Ian. Suas sobrancelhas se juntam, e ele aperta os lábios.
De repente, não parece mais nada com Nathan. Ele não tem os olhos gentis
ou o sorriso brincalhão dele quando uma expressão surpresa surge em seu
rosto.
— Não que seja da sua conta, mas Sasha tem uma competição em breve.
Ela precisa seguir seu plano alimentar — retruca Ian.
— Eu também, mas um hambúrguer não vai destruir a carreira dela. Se
ela quer um hambúrguer, deveria pedir um. Eu vou querer um também —
respondo.
Não sei por que estou fazendo isso, por que estou intencionalmente
irritando um homem que quero que goste de mim, mesmo que eu não gostedele. Não consigo evitar. Quero protegê-la de todos os pensamentos que vão
atormentá-la quando pensar em comer, mesmo depois que ele parar de
controlar suas refeições.
Eu nem quero o maldito hambúrguer. Eu ia pedir uma salada.
Nate aperta meu joelho, em sinal de apoio.
— Vamos querer três hambúrgueres de frango, Mark, por favor? Não
precisa da salada.
Mark olha para Ian, que coloca o cardápio na mesa e assente. Quando
Mark volta para a cozinha, suspirando, aliviado, na hora sinto o peso do que
acabei de fazer. Sasha está olhando para sua bebida, mordendo a cutícula.
— Eu não gosto dessa insolência na frente dos meus funcionários — diz
Ian, sem emoção na voz.
— Pai… — Nate o interrompe.
— Estou falando com vocês dois. Podem ter aproveitado as férias aqui
fingindo que eram os donos da casa, mas enquanto estiverem comendo no
meu restaurante e dormindo sob o meu teto, vão ter que me mostrar
respeito.
O corpo de Nate enrijece, e sinto a tensão aumentar, mas, antes que
continue, Sasha fala:
— Você é patinadora artística, né? É o seu esporte, Tasi?
E isso é o suficiente para chamar a atenção de Ian mais uma vez, então
começamos tudo de novo.
Agora, o quarto do Nate parece ser o único lugar seguro da casa.
Acho que o almoço poderia ter sido pior, mas com certeza poderia ter
sido melhor. Nathan acha que foi bem, o que é estranho para mim e me faz
pensar que, se isso é bom, como as coisas ficam quando estão ruins?
Hoje tem uma grande festa de Ano-novo que o pai de Nate faz todo ano
no resort para os hóspedes que passam o fim de ano lá, e “espera-se que
estejamos presentes”.
Enquanto Nate dorme na minha barriga, não consigo não pensar em
Mila Hawkins, a mãe de Nate e Sasha. Ela deve ter sido incrível, para gerar
filhos como eles, tendo um marido assim.Eu me lembro de que algumas semanas atrás, antes de perceber o quanto
não tinha como não me apaixonar por esse homem, ele me contou sobre a
mãe e sua criação. Sempre ir com o coração e a cabeça no lugar. Nate disse
que ela teria me amado, e a Lola também, porque ela amava mulheres
ambiciosas e determinadas.
Era assim que ela estava criando Sasha antes de falecer. Vejo traços disso
nela quando o pai não está por perto, e queria poder levar Sash para Los
Angeles com a gente.
— Às vezes você pensa muito alto — resmunga Nate de onde está deitado
no meu estômago. Ele olha para cima com os olhos sonolentos e as
bochechas rosa. — No que está pensando?
— Na festa — minto.
— Não vamos. É para pessoas arrogantes, e você vai odiar — diz ele,
beijando minha barriga. — Este quarto tem uma vista melhor dos fogos de
artifício.
— Bom, sua namorada iria cuspir na minha bebida mesmo.
Ele suspira fundo, apoia a cabeça na minha barriga, depois olha de novo
para mim com uma expressão triste.
— Eu queria não ter tido ninguém antes de você, mas não posso mudar o
passado. Posso prometer que não vai haver mais ninguém depois. Mas ela
nunca foi minha namorada. Éramos adolescentes. Estudamos juntos, nos
pegávamos quando eu vinha passar o fim de ano aqui.
— Estou brincando, juro. Desculpa, não sei por que fiquei com ciúme.
Juro que geralmente não me sinto assim e não me importo com o que você
fez antes de mim, juro que não. Eu nem acho que é sobre sexo, acho que é
porque ela se encaixa com a versão de você que existe aqui. A que usa botas
de neve e joga hóquei no lago no quintal. Você fica tão relaxado aqui, e eu
causei um estresse imenso hoje e…
— Anastasia — diz ele com um tom tranquilo, me interrompendo. —
Estou relaxado porque você está aqui. Esta é a primeira vez em anos que
gostei de estar aqui, e é só por causa da sua presença. Não tem nenhuma
versão de mim que seja melhor sem você ao meu lado.— Eu estava pensando sobre seus pais — admito. — Como sua mãe deve
ter sido legal, para você ser do jeito que é.
Ele se rasteja pelo meu corpo até ficarmos cara a cara e esfrega o nariz no
meu.
— Ela era demais. Eu não sou como ele, Tasi. Eu prometo ser bom para
você. Você nunca vai ter que se preocupar com isso. — A seriedade no rosto
dele mexe com o meu coração, e a ideia de que Nathan poderia ser
comparado com o pai é absurda.
— Eu sei, Nate. Juro que sei disso, e não duvido de você nem por um
segundo. Tenho muita sorte e não vou subestimar isso.
A boca dele encontra a minha, primeiro de leve, depois mais intensa,
mais urgente enquanto enfio os dedos em seu cabelo e deixo ele se
aconchegar entre minhas pernas. Ele está exalando amor, cada toque é
macio e gentil, todo olhar e movimento feito especialmente para mim, para
nós. E, quando ele entra em mim, me fazendo estremecer sob seu corpo, ele
sussurra no meu ouvido o quanto me ama, como sou perfeita para ele, como
ele tem sorte.
Perco a conta de quantas vezes meu corpo aperta o dele, quantas vezes
enfio meu rosto em seu peito, em seu pescoço, no travesseiro, quantas vezes
preciso me controlar para não gritar seu nome. Seus dedos apertam a carne
nos meus quadris, me guiando enquanto penetra tão fundo que consigo
senti-lo nos meus ossos. O peito dele arfa, seu estômago tensiona, a pulsação
bate forte contra meus lábios em sua garganta.
E, quando ele goza, se segura tão forte em mim que não sei como é
possível voltarmos a ser duas pessoas separadas.

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora