Capítulo 11

309 8 1
                                    


Anastasia

Se tem um dia em que eu me sinto extremamente grata por Aaron, é em
um dia de competição.
Em contraste ao meu jeito nervoso e ansioso, Aaron fica calmo e
relaxado, falando para mim que vai dar tudo certo. Enquanto isso, estou
vomitando de tão ansiosa.
Como já esperado, pelo menos por ele, deu tudo certo, e vamos para as
seccionais. Brady até brincou que eu patinei melhor do que nunca graças ao
meu ferimento na cabeça.
Vai entender.
Eu sempre fico assim: quanto mais velha fico, mais tenho em jogo e mais
ansiosa fico. Aaron continua tão calmo quanto na época que começamos a
patinar, no primeiro ano, talvez até mais. Acho que a diferença é que ele
nunca deixou de se classificar para uma competição, nunca caiu nem saiu
voando pelo gelo, e, ainda bem, nunca me derrubou.
Ele nunca se deu um motivo para não se sentir confiante.
Passamos por isso hoje, mas a pressão para as seccionais mês que vem
aumentaram. Se passarmos, vamos para o campeonato nacional em janeiro.
Desde o primeiro dia, Brady ficou irritada comigo por não ter me
esforçado mais quando era mais nova. Ela disse que tenho talento e não
entende por que nunca fui para campeonatos internacionais antes. A
resposta sincera é que meu parceiro da época, James, não era bom o
bastante, e eu não queria encontrar outra pessoa porque eu o amava.Ela descreve isso como um “absurdo”.
— Você foi incrível hoje — diz Aaron, olhando para mim do banco do
motorista. Geralmente viajamos com Aubrey, mas Aaron foi dirigindo hoje,
já que a competição era perto de casa. — Mal posso esperar para mostrar o
vídeo para Lo.
Depois de algo assim, Lola sempre exige uma descrição detalhada da
nossa apresentação. Ela disse que viria nos ver ao vivo, já que era perto, mas
Robbie pediu para ela assistir ao primeiro jogo em casa da temporada do
Titans.
Eu estava esperando Aaron agir como um babaca quando ela comentou
isso de manhã, mas ele estava com uma atitude bem positiva e disse que ela
sempre poderia ver a próxima.
— Você também. Não teria conseguido sem você.
— Somos um bom time, Tasi. Brigamos às vezes, mas não
conseguiríamos fazer isso com outras pessoas. Não seria a mesma coisa.
Infelizmente, preciso concordar.
— Eu sei.
— Vamos longe, Tasi. Tenho certeza. Se continuarmos assim, e você
seguir o seu plano alimentar, vamos arrasar.
— Quer jantar ou algo assim? Duvido que a Lola já tenha voltado do jogo
do Titans.
— Não dá, foi mal. Combinei de sair com Cory e Davey; vamos sair pra
beber.
Meu celular vibra no apoio de copo, eu pego e vejo o nome de Lola na
tela.
LOLS
Teu boy é lindo demais, socooooorro.
Ele não é meu boy.
Pois devia. Ele acabou de empurrar alguém na
parede e juro que senti alguma coisa aqui.
O que tá acontecendo?Sei lá. Não entendo nada de hóquei ainda.
Robbie está de terno e gritando com todo
mundo
Uau. Eles estão ganhando?
Sim! Nate está deslizando pelo gelo que nem
deslizou pela sua pepeca.
Te odeio.
Vem brincar com o taco dele, Tasi.
Te bloqueando agora.
Quer sair mais tarde pra comemorar?
Não se for com o time de hóquei.
Estou ansiosa para ver você mudar de ideia
Conheço Lola o bastante para saber que não adiantava tentar evitar os
rapazes. Pode ser divertido porque, infelizmente, gosto de muitos deles.
Eu disse para ela que de jeito nenhum iria no aniversário de Robbie
semana passada, depois tive que ficar lá, sentada, observando o sorriso
presunçoso dela me maquiando para uma festa que eu disse com absoluta
certeza que não iria.
Se ela e Aaron vão sair hoje, não tem por que eu ficar em casa sozinha,
né?
— Tudo bem. Lo mandou mensagem dizendo que quer sair hoje — digo
para ele, colocando o celular de volta no apoio de copo.
— É típico da Lola se envolver com um jogador de hóquei — reclamou
ele, olhando para o retrovisor antes de fazer a curva. — Pelo menos o
Rothwell não é um babaca completo.
Faço uma nota mental para me lembrar disso. Ryan vai ficar feliz de saber
que é apenas um pouco babaca, e não por completo.
Apesar de quaisquer sentimentos que tenho ou tive sobre jogadores de
hóquei, Robbie é ótimo para Lola. Ele é carinhoso e gentil, e o mais
importante de tudo: ele a trata com o respeito que ela merece. Até os paisdele foram muito legais quando ela os conheceu por acaso, a prova de que
Robbie teve uma boa criação.
Diferente de certas pessoas que eu conheço.
— Ele a faz feliz e isso não é da nossa conta.
— Vai ser quando ela acabar grávida e sozinha.
— Isso não… — Não vale a pena falar. — Vai dar tudo certo.
— Você deveria ficar longe deles, Tasi. Não são gente boa. Você não tem
que fazer tudo que Lola fala.
Minha resposta está na ponta da língua, mas eu a engulo, fazendo o que
precisar para não estragar o que seria um ótimo dia.
— Aham.
Nem me dou o trabalho de dizer que vou passar a noite com aquelas
mesmas pessoas que ele quer que eu evite. Apesar de não querer passar um
tempo comigo, ele também não quer que outros passem.
— Estou tentando cuidar de você, Tasi. Eu gosto de você. Somos
parceiros para além da patinação. Você faria o mesmo por mim.
Eu passo pano para Aaron pelo apego que sinto aos momentos bons que
passamos juntos. Ele realmente se importa comigo e com Lola. Mas às vezes,
como agora, ele diz coisas que me fazem questionar seus motivos.
Tem situações em que a possibilidade de ele falar qualquer coisa ruim
sobre uma de nós é impossível. Quando é absurdamente leal e protetor, sem
ser tóxico, e ficamos os três aninhados juntos na sala de estar, rindo e
assistindo a filmes.
E aí tem ocasiões, como agora, em que essa veia maliciosa aparece. Às
vezes, vem do nada e me atinge como um chicote, e isso me faz questionar
se o conheço de verdade.
Espero o carro parar do lado de fora do nosso prédio antes de me inclinar
para abraçá-lo.
— Também gosto de você, Aaron.
Estou quase pronta quando Lola entra de repente no meu quarto,
chapada de uma mistura de cerveja com jujuba.— Eu amo hóquei! — Não é difícil de acreditar, já que ela está vestindo a
camisa do uniforme e uma touca do Titans, e estou com um pouco de inveja
de não poder ter ido. — Claro que não tanto quanto amo patinação no gelo.
Mas o hóquei é mais dramático; foi como uma ópera, mas com tacos. Estou
viciada. — Ela olha ao redor e percebe que estou sozinha em casa. — Cadê a
Princesa do Gelo?
— Bebendo com amigos. Perguntei se queria jantar comigo, mas ele disse
que não. Ah, e que os meninos do hóquei são uns merdas e não tenho que
fazer o que você manda, o que é uma grande novidade.
Ela resmunga, se jogando no sofá ao meu lado.
— Sério, esse cara é tão dramático. Vamos pro Honeypot, não nos casar.
O Honeypot é a balada mais famosa de Los Angeles. É superdifícil de
entrar; só conseguimos porque Briar, nossa vizinha, trabalha lá. Lola tomou
como missão pessoal ficar amiga dela quando descobriu que morávamos no
mesmo prédio.
Lo odeia fazer exercício. Não, mais do que isso. Lo odeia exercício de
corpo e alma, mas ela foi para a academia todo dia até conquistar Briar.
Ela sempre foi sincera sobre seus motivos, e, por sorte, Briar achou isso
engraçado. Toda vez que vamos para a balada, Lo me faz comprar um
drinque para ela em reconhecimento de seu sacrifício.
— Sem casamento? Então não é para eu usar meu vestido de madrinha?
— Eu termino a provocação cutucando-a bem onde ela sente cócegas.
— Para! — ela me implora e se afasta. — Não pode me cutucar depois do
tanto de cerveja que bebi. — Lo se espreguiça, tira os tênis e pega o cobertor
jogado no sofá. — Assim que eu tirar uma sonequinha vou começar a me
arrumar. Prometo.
A sonequinha de Lola vira uma soneca de verdade, e passei os últimos
quarenta e cinco minutos ouvindo-a xingar e correr pelo apartamento, se
arrumando às pressas.
Ela está colocando a culpa em mim, mas não se lembra de como me
xingou cada uma das cinco vezes que tentei acordá-la.
Fico perdida em meus pensamentos enquanto espero, e não consigo
ignorar o fato de que estou nervosa com a possibilidade de encontrar Nate.Ele pediu a Robbie para mandar mensagem para Lola me desejando boa
sorte, o que foi fofo.
Está na hora de fazer as pazes. Está na cara que ele é um cara legal, como
todo mundo disse. Agora que já se passou uma semana, tive tempo para
processar e não me sinto envergonhada com minha falta de autocontrole
semana passada.
Somos adultos. Às vezes, adultos deixam outros adultos provarem que
não precisam de instruções para achar um ponto G. É normal.
— Ok, tô pronta!
Lola está incrível em um vestido sem alças midi preto da Max Morgan. É
o que ela sempre veste quando não sabe o que vestir; diz que precisa fazer o
vestido valer o quanto pagou nele. Ela comprou ano passado em um passeio
raro na Rodeo Drive. É lindo, mas o pai dela não ficou feliz quando recebeu
a fatura do cartão de crédito.
Seu cabelo está liso e caindo pelas costas, ao contrário dos cachos que
costuma usar, e ela fez um delineado perfeito que destaca os seus olhos. Ela
me encara e sorri:
— Sei que estou gata, mas temos que ir. Faz cinco minutos que Steve está
esperando.
Ao cruzar o saguão em direção ao Uber que nos espera, Lola ri sozinha,
algo muito suspeito.
— O que foi?
— Nada.
— Lola…
— Estava me perguntando se alguém ia tirar sua calça hoje, mas percebi
que você não está usando calça.
— Você tem doze anos.
— Como é?
— Você deveria pedir desculpas.
Ela pisca e segura a porta do carro para mim.
— Você quer que eu fique de joelhos e implore pelo seu perdão?
— Te odeio.— Claro que odeia. Assim como demonstrou seu ódio por Hawkins
gozando na cara dele.
Steve, o motorista do Uber, quase se engasga, mas não fala nada. Isso é o
suficiente para eu lhe dar cinco estrelas quando nos deixa na festa.
O Honeypot está lotado, como sempre está aos sábados à noite.
Conversamos com Briar um pouco antes de alguém falar com ela pelo fone
de ouvido e ela ter que sair correndo para resolver a situação.
Os meninos reservaram uma das cabines da área VIP, prontos para
comemorar a primeira vitória da temporada. Estou muito empolgada para
ver Henry; acho que não preciso explicar por quê.
Parece que não somos os únicos que colhem os frutos de uma amizade
com Briar. Quando Lola me falou sobre a cabine mais cedo, também disse
que Nate tinha dado um jeito para que Henry não fosse barrado por causa
da idade. Nate sabia que Henry não iria para uma festa de faculdade sem
eles, e não queria que ele ficasse sozinho em casa.
Tento não pensar no quanto isso é fofo.
Comprei o drinque da Lo e agradeci pela milionésima vez pelas seis
semanas que ela passou na academia. Indo para a cabine, sinto um frio na
barriga.
Bobby é o primeiro a nos ver e nos esmaga com um abraço.
— Que bom que vocês vieram! — grita ele, mais alto que a música.
Mattie vem em seguida e mostra seu olho roxo com orgulho. Ele conta os
detalhes da briga aos berros, olhando para Lola em busca de confirmação de
que o confronto foi mesmo tão legal quanto ele está descrevendo.
Os outros rapazes estão conversando, esperando conseguir levar alguém
para a cama ao fim da noite. Mas por acaso está faltando uma pessoa, o que
não me incomoda. A única pessoa com quem vou voltar para casa hoje é
Lola. Eu disse isso no Uber vindo para cá. Ela me respondeu com um “Ah,
tá” e continuou a trocar mensagens com Robbie.
Estou na parte mais tranquila da balada com Joe e Kris, observando
Henry conversar com duas mulheres. O melhor jeito de descrever como me
sinto é em choque. Elas são lindas pra caralho, estão jogando o cabelo paratrás enquanto riem de tudo que ele fala. O que ele está falando para elas?
Cadê o Henry quietinho que eu conhecia?
Joe ri da minha expressão de choque.
— É assim toda vez que a gente sai. Todas as mulheres o amam.
Não brinca.
Kris bufa e vira seu copo de Coca-Cola com uísque.
— Eu só queria saber como ele faz isso pra eu poder fazer também.
Estou ocupada ouvindo as teorias deles e não percebo quando sinto mãos
pousarem na minha cintura e uma respiração no pescoço.
— Você não deveria beber. Teve uma contusão.
Eu me viro para encará-lo e imediatamente vejo um corte feio na
bochecha dele. Chego mais perto e passo o polegar com cuidado no corte.
— Tentou fazer um quádruplo Lutz também, não foi?
Nate ri, e o corpo dele estremece contra o meu.
— Pois é. Parecia fácil, então achei que valia a pena tentar.
Meu corpo está vibrando com a proximidade entre nós. Não, é o álcool.
Com certeza é o álcool. Não estou nervosa com a nossa proximidade.
Também não me incomoda o jeito como ele está sorrindo para mim.
Anastasia Tranquilíssima Allen.
— O que aconteceu? — pergunto, tentando manter a conversa rolando
para não surtar.
Ele leva o copo à boca e sorri.
— Parece que o pessoal de Washington não é muito gentil.
— Que mentira deslavada, Hawkins. Somos mundialmente famosos por
sermos gentis.
Ele dá de ombros e continua a sorrir.
— Você vai precisar me dar provas disso, porque tá difícil de acreditar.
— Prepare-se para ficar deslumbrado.
— Já estou deslumbrado com você, Anastasia — diz ele, piscando. Em
seguida, dá um passo para o lado e vai para a cabine.
O que foi isso?

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora