Capítulo 22

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Nathan

Os últimos catorze dias foram os mais longos da minha vida.
Passei esses dias me lamentando pelos cantos, morrendo de inveja dos
meus colegas de equipe, me martirizando por causa de uma garota que me
odeia.
Em resumo, fui um bosta por duas semanas.
Sinceramente quase chorei de felicidade quando Robbie me ligou falando
para ir me arrumar para o treino, porque o Babacão tinha sido liberado para
patinar de novo.
Não jogar com meu time me fez perceber o quanto amo hóquei. Sei que
parece absurdo, porque eu já deveria saber disso, né? Achei que sabia. Mas
passar um tempo longe me deu mais foco e clareza.
A segunda coisa que me veio à mente foi Anastasia e o fato de que os
sonhos dela eram possíveis de novo. Meu Deus, eu quero tanto vê-la.
Meu banheiro está cheio de produtos cheirosos como ela. Eu nunca
gostei tanto do cheiro de mel e morango como agora, já que não a vejo há
tempos.
Mas ela não me quer por perto. Eu vi na expressão dela quando achou
que eu tinha mentido de novo. Quero ligar para ela; pensei em fazer isso um
milhão de vezes, mas tenho medo de piorar as coisas.
Mattie me disse que a viu uma vez numa aula e ela parecia triste, e eu
odeio ser a razão disso. Ela deve se importar um pouco comigo, mesmo que
não perceba isso. Quando eu estava quase morrendo por causa daenxaqueca e vomitei várias vezes, e de um jeito nada atraente, ela ficou ao
meu lado, com a mão nas minhas costas.
Quando desmaiei na sua cama, ela se aproximou para medir minha
temperatura, eu liguei o foda-se e coloquei a cabeça no colo dela. Eu queria
me esconder da luz que estava fritando meu cérebro, e ela fez carinho no
meu cabelo por um tempão. Tentei ficar acordado para aproveitar o
momento, mas não consegui.
Lola está de saco cheio de tanto eu perguntar como está a melhor amiga
dela. Toda vez que menciono Tasi, ela me diz que o Departamento de Polícia
de Los Angeles tem uma infinidade de casos não resolvidos os quais eu
posso confessar. Talvez a polícia me ache menos irritante que ela.
É uma resposta elaborada, e você imaginaria que depois de duas semanas
ela teria criado uma versão mais curta, mas não, Lola é determinada. Por
mais que ela goste de implicar comigo, sei que está numa posição difícil e
muito chateada. Robbie me disse que Anastasia proibiu Lola de mencionar o
nome de qualquer um de nós, e isso faz eu me sentir ainda pior.
Eu queria mandar uma mensagem e desejar boa sorte na competição,
mas desisti quando pensei que isso poderia estressá-la. Nunca desejei tanto
que as coisas voltassem ao normal.
Sair de Maple Hills e ir acabar com o UT Austin por 8 a 3 foi um ótimo
jeito de esquecer esse drama todo.
Estava preocupado de estar enferrujado, mas tudo foi perfeito, com a
exceção de Joe e JJ praticamente acamparem no banco de pênaltis de uma
maneira que estávamos quase dando uma barraca para eles dormirem. Vou
deixar Robbie se resolver com eles porque não estou com saco pra isso.
Por enquanto, pelo menos… meu mau humor não vai durar muito, já que
estou me esgueirando pelo hotel com duas sacolas de bebidas.
Tecnicamente, não é ilegal, porque eu tenho vinte e um anos, mas
Faulkner não ficaria nada feliz se me visse distribuindo garrafas de
Jägermeister. Eu estava disposto a correr o risco; os caras disseram que eu
estava devendo essa porque eles tiveram que aturar Robbie enquanto eu
estava no banco.Coloco o cartão no lugar para abrir a porta e giro a maçaneta quando a
luz verde acende. A maioria do pessoal já está no quarto que divido com
Robbie e Henry, colocando seus pés suados na minha cama.
Parece que estou entrando em um funeral em vez do quarto de um time
que acabou de ganhar um jogo.
— Quem morreu? — Eles se viram para mim com expressões sérias. —
Estava brincando, mas agora estou com medo. Por que estão me olhando
assim?
Eles se entreolham, e Kris é o primeiro a limpar a garganta e falar:
— Faulkner está te procurando, cara.
— Eu nem abri uma garrafa ainda. — Dou uma risada, colocando a
sacola na mesa. — Como que já estou encrencado por causa disso?
— Não é isso — diz Robbie, passando a mão pelo rosto. — Aaron não vai
patinar, Nathan. Você vai voltar pro banco.
— Como assim ele não vai patinar? — grito. Vou ter outra enxaqueca. —
Eles competiram?
Silêncio.
— Alguém pode me dizer que caralhos está acontecendo?
— Ele derrubou a Anastasia — explica Henry, sem emoção, indo em
direção às bolsas e pegando uma garrafa. — O pulso dele cedeu quando
estavam patinando, e ele não aguentou.
Estou sentado em frente à Maple Tower há trinta minutos e ainda não
consegui entrar.
Quinze desses minutos foram no telefone com Lola, tentando convencêla
a dar meu nome para o porteiro para que eu receba o código do elevador.
Os outros quinze foram me preparando emocionalmente para ser expulso
por Anastasia.
Quando encontrei Faulkner, ele confirmou o que o pessoal disse. O pulso
de Aaron cedeu quando estavam no gelo; ele tentou segurar Anastasia
durante a queda, o que só piorou as coisas.
— Sinto muito, Hawkins — disse Faulkner, me entregando uma cerveja
do minibar. — Vamos saber mais na segunda-feira, mas Skinner quer quevocê fique no banco, pelo visto.
Não estou nem aí para mim agora. Estou pensando no meu time, como
sempre, mas em primeiro lugar estou pensando nela. Não vou conseguir
tirar isso da cabeça até ver com meus próprios olhos que ela está bem.
Sinto um aperto no estômago enquanto subo no elevador. Ainda bem
que Lo não pediu que me expulsassem do prédio e consegui entrar. Bato na
porta três vezes e dou um passo para trás. O aperto fica mais forte e meu
coração parece bater fora de ritmo.
Do outro lado da porta, consigo ouvir o sotaque brusco do Brooklyn com
o qual estou acostumado a lidar. A porta abre, e Lola se apoia no batente.
— Se você fizer ela chorar, Nathan, eu juro que seu pau vai morar em um
potinho no meu quarto e vai ser minha nova missão de vida garantir que
você nunca mais seja feliz.
— Entendido.
Ela me arrasta pelo moletom e bufa ao fechar a porta.
— Ela está no quarto e não sabe que você está aqui. Seja paciente; ela é
durona, mas está num momento vulnerável. — Atrás dela, Aaron abre a
porta para olhar para fora e fecha com força quando me vê. — Tudo fugiu
do controle, Nate. E ela não é o tipo de garota que gosta de não estar no
controle das coisas.
— Eu sei. Quero vê-la porque estou com saudade dela e preocupado.
Lola assente com a cabeça de leve e me deixa passar.
— Ela sente sua falta também.
Não tenho o direito de querer nada agora; fico feliz de ter chegado até
aqui. Mas uma pequena parte egoísta de mim espera não encontrar Ryan
Rothwell do outro lado da porta.
Bato de leve na porta e ouço um “pode entrar” baixinho antes de abrir.
Ela fica surpresa e se senta ereta na cama, estremecendo por ter feito um
movimento súbito.
Ela está vestindo minha camiseta.
— Oi.
Bom começo, Hawkins.Ela pisca para mim e não parece entender que sou eu ali. Entro no quarto
e fecho a porta, ainda mantendo distância dela.
— Oi — responde ela, baixinho.
— Eu sei que você não me quer aqui, mas fiquei sabendo do que
aconteceu. Mesmo que você arranque minha cabeça, eu precisava te ver,
Anastasia. Precisava ver com meus próprios olhos que você está bem.
Ela leva os joelhos ao peito, puxa a camiseta sobre as pernas e assente.
Definitivamente não parece nada bem.
— Você parece melhor do que da última vez que esteve aqui. Não sabia
que tinha enxaquecas. Foi assustador.
Dou um passo para a frente, e ela não tem uma reação ruim, então me
aproximo mais.
— Eu não queria te assustar e, hum, sinto muito por vomitar aqui. E sinto
muito por tudo. Eu fiz merda, mas não do jeito que você acha.
— Eu sei.
— Sabe?
Ela apoia o queixo no topo dos joelhos e suspira.
— Sei, Nathan.
Ela parece arrasada. O rosto está pálido e inchado, e os olhos, vermelhos
de tanto chorar ou esfregar, ou as duas coisas. O cabelo, que costuma estar
brilhante e esvoaçante, está amarrado em um coque e seu corpo inteiro
parece murcho.
— Tasi, posso te abraçar? Parece que você precisa de um bom abraço, e
eu senti muito a sua falta.
— Seria legal — responde ela, tão baixo que quase não escuto.
Tiro meus tênis e subo na cama em direção a ela. Ela estica as pernas e na
mesma hora vejo os hematomas de ontem. Sem saber onde me posicionar,
me sento ao seu lado, apoiado por mil travesseiros, perto o bastante para
nossas pernas se tocarem.
Parece que duas semanas longe fizeram a gente esquecer como se
comportar perto um do outro, mas quando a envolvo com o braço, ela entra
no meio das minhas pernas e enfia o rosto no meu peito.Meu corpo reage melhor do que meu cérebro. Eu a puxo para perto e a
abraço. Toda a tensão do meu corpo some, e consigo respirar de novo. Até
seus ombros começarem a tremer e seus dedos puxarem meu moletom. Eu
coloco os lábios na sua testa quando ela chora cada vez mais alto.
— Shh, meu bem. Vai ficar tudo bem.
— Tudo está… — a voz dela falha — ... uma merda.
Segurando o pescoço dela, passo o polegar pela bochecha até que o choro
para, e ela fica quietinha em meu peito.
Mantenho os braços ao redor dela, sem dizer nada, e a abraço até ela estar
pronta para conversar. Estou ouvindo o barulho tranquilo da sua respiração
quando ela finalmente fala algo:
— Me desculpa por chorar.
— Ei, eu vomitei e desmaiei em cima de você, Tasi. Um chorinho não é
nada. Quer conversar sobre o que aconteceu?
Ela se afasta de mim e, por um segundo, acho que vai fugir, mas em vez
disso, monta em mim, com uma perna de cada lado, e ficamos cara a cara.
Eu passo as mãos pelas coxas nuas dela enquanto Tasi limpa o rosto com
as costas das mãos, tirando as lágrimas.
— Você já caiu de uma grande altura na frente de centenas de pessoas?
— Caí do teleférico de esqui uma vez.
Ela solta uma risada e balança a cabeça.
— Claro que caiu. — Ela brinca com um fiapo da minha calça de
moletom e não olha para mim. — Tudo estava indo bem. Praticamos várias
vezes e ele estava indo bem. Estávamos no final da coreografia, fizemos o
levantamento, e aí o pulso dele simplesmente cedeu.
O jeito como a voz treme quando ela fala é como se estivesse me dando
um soco no estômago. Enfim, ela olha para mim com os olhos marejados.
— Eu a-achei que ia quebrar a cabeça. Foi tudo tão rápido; Aaron me
pegou quando caí, mas eu bati na perna dele quando ele me segurou. Ele
está com uns cortes e hematomas horríveis; me sinto tão culpada.
Passo o dedo por um hematoma bem feio na parte interna da coxa dela.
— Você também não saiu ilesa.— Eu caí em pé em vez de cair de cabeça, Nate. Poderia ter sido muito
pior. — Seu corpo inteiro está tremendo em cima de mim, e não sei o que
fazer. — Ele me segurou para eu cair de pé e me disse para continuarmos
patinando. Aí conseguimos terminar.
— O que aconteceu depois?
— Eu vomitei e chorei. — Ela bufa. — Nós esperamos pela nota e, por
um milagre, conseguimos nos qualificar. Fomos perfeitos até ali, então sei lá.
— Ela ri, mas sem humor na voz. Aos poucos, o riso se transforma em algo
mais parecido com um choro. Tasi dá de ombros porque acho que também
não sabe o que está acontecendo.
Puxo o corpo dela para perto de mim e faço carinho em suas costas
enquanto ela volta a chorar, Tasi passa os braços em volta do meu pescoço e
apoia a cabeça no meu ombro. Seus fungados e suspiros fazem cócegas no
meu pescoço, e eu me sinto perdido.
A bochecha dela está tocando na minha e sua respiração fica mais
pesada. Depois, ela pressiona o nariz no meu e suas mãos param no meu
rosto, onde ficam até ela me beijar.
Tudo parece mais devagar do que o normal. Não tem a urgência de
sempre, a pressa movida pela frustração sexual ou os impulsos bêbados.
Somos apenas eu e ela, sóbrios, seu corpo macio sob minhas mãos e sua
língua se movendo devagar na minha.
Ela se afasta, a mão acariciando minha barba por fazer enquanto um
milhão de perguntas passam pelos seus lindos olhos azuis.
— Nathan, quer brincar de casinha comigo?
— Sempre.
Eu imagino que lavar o cabelo de uma mulher não deva demorar tanto
assim, mas não consigo parar.
Eu tentei não encarar ou reagir quando ela tirou a camiseta e entrou no
chuveiro. Deu para ver as manchas roxas nas costelas e na barriga por causa
do impacto de quando Aaron a pegou, e me sinto enjoado.
Estou acostumado a ver pessoas machucadas e com hematomas. Faz
parte de ser um jogador de hóquei e ser amigo de um monte de palhaços.Mas nunca algo assim. Ela me dá um sorriso triste e estica a mão, me
chamando para entrar no chuveiro com ela.
— Não é tão ruim quanto parece, prometo.
Brincar de casinha, que significa esquecer da vida real por algumas horas,
foi a melhor ideia que ela já teve. Me lembrando do que Lola falou sobre
controle, perguntei para Anastasia o que ela queria fazer. Imediatamente ela
respondeu que queria lavar o cabelo, porque não ia conseguir desembaraçar
tudo sozinha.
Eu estou bom em massagear o couro cabeludo dela com essas coisas. No
começo, fiz meio forte, mas agora acertei e consegui tirar todo o resíduo de
produto.
Estar no chuveiro dela é fascinante; tem um monte de coisas cheirosas
que nem sabia que existiam. Descobri que existe um negócio chamado
esfoliante corporal e fiquei chocado.
— É por isso que você está sempre tão macia?
É bom pra caralho ouvi-la rir.
— Hum, sim, talvez.
Depois que nós entramos no chuveiro, o corpo dela relaxou junto ao
meu. Não tinha nada sexual nesse banho, e eu não quero que tenha. Quero
cuidar dela e me sentir grato por ela querer o mesmo.
Quando gira para me encarar, ela fica na ponta dos pés e massageia
minha cabeça.
— Posso lavar seu cabelo?
Os olhos dela estão mais vivos, as bochechas, coradas, a cor voltando ao
seu rosto. Faz cinco minutos que estou tentando fazer o cabelo dela ficar em
pé, tipo um moicano. É longo demais, e toda vez que consigo juntar espuma
de xampu nele, os fios caem e batem no rosto dela. Eu levo uma cotovelada
no estômago, e ela fica cheia de xampu na boca.
— Você nem alcança direito a minha cabeça — provoco, entrelaçando os
dedos. — Quer pezinho?
Ela parece prestes a reclamar, mas deve ter percebido que não tem outra
opção, porque acena com a cabeça.Eu a levanto devagar, colocando suas pernas na minha cintura. Deixo as
mãos embaixo dela para apoiá-la; bom, na verdade é para ela não tocar na
minha ereção. Meu pau não entende que a mulher pelada e molhada,
enrolada na gente, rindo, não quer se sentar nele.
Ela esfrega xampu nas mãos e as afunda no meu cabelo, e acho que chego
a gemer.
— Obrigada, Nathan. Eu precisava disso.
— Eu também.

Quebrando o Gelo- Hannah GraceOnde histórias criam vida. Descubra agora