Capítulo 62

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3273palavras


Deitada na cama esculpida com arabescos, olhava para o teto de gesso. A claridade da lua adentrava através da janela, formando um feixe de luz aos pés da cama, o que a possibilitava enxergar os contornos de toda a mobília do cômodo.

Sentia os olhos pesados, mas por mais que tentasse não conseguia dormir, e pelo silêncio profundo da casa, devia ser bem tarde.

Suspirou descrente, se remexendo no colchão macio que a abraçava em aconchego, mas naquela noite não estava causando o seu efeito desejado.

Frustrada, se levantou, arrumando a saia da camisola branca. Não sabia o que fazer, indo até a janela afastou o cortinado grosso, vendo o belo jardim envolto em névoa e iluminado pela lua cheia, que banhava tudo a sua volta com sua luz prateada.

Era uma bela vista, se sentindo tentada a ir até lá. Mas não o faria. Não era de se aventurar e se sua tia o soubesse, tal atitude não a agradaria.

Afastou-se, ainda agitada. Não sabia o porquê de o sono ter se esquivado dela naquela noite, o que se tornava algo bem inoportuno.

Andou por alguns minutos pelo quarto amplo e acarpetado. Mas o movimento só servia para deixá-la ainda mais desperta.

Parou de frente ao amplo espelho de parede que ficava logo acima da cômoda. Viu seu reflexo disforme, com suas longas madeixas negra a cair envolta dos ombros, a pele clara se destacando com maior intensidade na parca claridade.

Aproximou-se da cômoda que estava repleta com suas joias, perfumes, pentes, vendo o anel de diamantes que se destacava no meio de tudo. O pegou sem ânimo, girando entre os dedos para melhor admirar os detalhes. Aquele anel de noivado era belíssimo! Simples na medida do possível, mas com belos detalhes. Havia uma rosa em seu centro e o aro era de ramos, feito de ouro branco.

Qualquer garota ficaria encantada com o anel devido a sua beleza e delicadeza, mas ela não se sentia assim. Olhar para ele lhe dava a sensação de algo ruim no estômago, que embrulhava em desprezo.

Agora sabia qual era o motivo de sua insônia.

Seu casamento aconteceria dali dois meses e o estresse já estava a invadindo. Não desejava aquele casamento, já que se casaria com alguém que não amava. Odiava isso com todas as forças, já que era obrigada a conviver com quem realmente amava e não podia fazer nada quanto a isso.

Frustrada, devolveu a joia com brusquidão a sua caixinha aveludada, sentindo a boca seca devido ao nervosismo.

Seguiu até a mesa de canto para se servir de um copo d'agua, se decepcionando ao ver a jarra vazia, o que serviu para deixá-la ainda mais nervosa.

Ponderou em voltar para a cama e tentar dormir, mas sabia que a boca seca a incomodaria.

Sem muito ânimo, pegou o hobby de cetim para cobrir os braços desnudos para protegê-la do frio que a casa quieta exalava. Não pegou nenhuma vela, a lua iluminaria seu caminho.

Saiu no corredor escuro, vendo apenas vultos da noite a envolvê-la.

Hora ou outra uma corrente de ar frio provinda das janelas mal fechadas a atingia, causando calafrios. A casa rangia mediante ao silêncio sepulcral.

Desceu as escadas um passo de cada vez, rangendo os dentes com cada som que produzia, com medo que alguém a escutasse.

Insistiu em seu progresso, logo chegando ao enorme e vazio salão. O atravessou apressada com um senso de urgência inexplicável. Com toda a certeza isso se devia a imensidão escura e deserta semelhante a um mausoléu que aquele ambiente propiciava.

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