999palavras
Já passava das três da tarde e ainda não tinham chegado a lugar nenhum. O que era o esperado, já que fazia dois anos que ninguém aparecia por ali e havia muitas coisas a resolver.
Depois de longas conversas decidiram que deveriam descansar um pouco, por isso faziam uma pequena pausa para refrescarem a cabeça.
Sem nada falar, Haydeé saiu às pressas, indo para um canto isolado no meio de algumas árvores. Foi atrás, pois não sentia segurança alguma em deixá-la sozinha naquele lugar.
Ela olhava para o horizonte, parecendo perdida em pensamentos. Aproximou-se vagarosamente para não a assustar.
— Você está bem? — questionou a deixando saber sobre sua presença.
— Sim, estou — respondeu, não o convencendo.
— Não se preocupe. Vamos dar um jeito em toda essa situação — falou para tranquilizá-la.
— Espero que sim. Mas acho difícil.
— Por quê?
— Você não reparou!? — inquiriu sobressaltada. — É claro que não — concluiu em deboche.
— Do que está falando? — estava perdido, não entendendo tais atitudes.
— Sou uma idiota se pensei que notaria algo. Homens como você são acostumados a ter toda a atenção sobre si.
— Desculpe, mas não estou entendendo.
— Eu sou a condessa e dona dessas terras, não sou?
— Sim.
— Então, me diga por que em nenhum momento aqueles homens me deram o mínimo de atenção? Eles só se direcionaram a você. Me ignoraram completamente.
— Isso não é verdade.
— É claro que é. E sabes disso.
— Tem razão. Mas estava apenas tentando ajudar. Se isso a incomodou eu posso...
— Está tudo bem — o cortou, não parecendo muito mais tranquila.
— Não foi minha intenção chateá-la e nem a deles de fazê-la se sentir inferior. Dê tempo ao tempo e eles se acostumarão com sua presença.
— Acho difícil, mas se quero me manter como senhora dessas terras, acho que vou ter que ter mais paciência e saber lidar com tal situação.
— Exatamente. Ou pode fazer de outra forma.
— O que quer dizer com isso?
Suspirou, pensando se deveria ou não tocar em tal assunto no momento.
— Eu sei sobre a condição imposta por seu pai no testamento — por fim disse o que estava tentando evitar falar há dias.
Seu semblante mudou de imediato como se nuvens negras pairassem ao seu redor. Era nítido sua raiva e indignação.
— Não vamos falar sobre isso agora — disparou agitada dando a entender que se afastaria.
— Mas...
Tentou argumentar, mas ela o cortou de imediato.
— Mas nada. Temos coisas mais importantes para resolver neste momento — disse seca, o olhando severa.
— Tudo bem — concordou, mas voltaria ao assunto mais tarde.
— Eu não entendo. Como isso pode estar acontecendo com essas pessoas? Estas terras são muito produtivas e geram um grande lucro anual. Então, por que estas pessoas estão passando fome?
— São os impostos.
— O quê? — inquiriu perdida.
— Seu pai aumentou a taxa de impostos sobre as terras e no que é produzido. São taxas tão altas que eles mal conseguem se sustentar.
— Por que meu pai faria isso? Não existe só essas terras, há outras. Mais do que o suficiente para nos manter com todo o conforto.
— Sim, mas eu estive dando uma olhada em uns documentos e percebi que todos os lucros daqui são enviados para a Bulgária para a manutenção de um castelo.
— O quê? O Palácio de Plovdiv na Bulgária? — era visível sua surpresa e indignação.
— Exatamente.
— Mas, esse castelo... Eu apenas nasci nele, mas depois nunca mais voltamos para lá. Como ele pode dar tantos gastos se nem mesmo o usamos?
— Bem, manter um castelo por si só já é muito caro.
Ela balançou a cabeça em negativa, parecendo pensar em algo, totalmente frustrada com toda a situação.
— Não acredito que meu pai tenha feito isso. É um absurdo!
Nada disse a observando remoer seus pensamentos conflituosos.
— Tudo bem. Então tenho a solução — lançou decidida.
— O que seria? — estava curioso pela reposta.
— É simples. Vamos diminuir os impostos.
— Tal atitude pode acabar causando um rombo nos cofres.
— Ótimo. E também vamos vender o castelo.
— O quê?
— Exatamente. Não preciso de um castelo em um lugar onde nunca fui e provavelmente nunca irei. Se eliminar tal gasto, as taxas podem ser diminuídas sem causar grandes avarias nos cofres, não é mesmo? — falava afoita.
— Sim.
— Então já está decidido.
— Acredito que deveria pensar melhor antes de tomar tal decisão. Talvez ter alguma outra ideia.
— Você tem alguma ideia?
— Não. Mas podemos pensar em algo.
— Por quê? Essa é a melhor solução. Ou você não acha que é uma boa ideia?
— Sim, é.
— Então qual é o problema?
— Só estou preocupado com o que os advogados, que seu pai deixou tomando conta de toda a herança, possam pensar com isso.
— E o que eles pensariam?
— Que a senhorita não está conseguindo administrar as coisas já que vai vender um bem muito valioso.
— Mas é por um bom motivo.
— Eles não vão pensar assim. Vão apenas ver que a senhorita se desfez de um grande bem sem cerimônias.
— Não me importo com isso.
— Pois deveria, ainda mais na situação que se encontra de ainda não ter toda a herança em mãos.
— Já disse que não vou conversar sobre este assunto no momento — se sobressaltou raivosa. — E esta é a minha decisão. Agora, posso contar com o senhor para que cuide deste assunto?
— É para isso que estou aqui, não é mesmo? — se deu por vencido, vendo que não teria mais diálogos.
— Ótimo. Precisamos voltar para resolver outras questões — concluiu, já se afastando para voltar ao local da reunião.
Sabia muito bem que tal atitude era louvável e bem pensada. Admitia que tinha pensado que ela não seria capaz de tomar tais decisões, mas estava enganado. Ela não apenas fez isso, como manteve o pulso firme, não voltando atrás com a decisão.
Mesmo sob pressão ela se manteve firme e agiu com maestria. Sentiu orgulho! Era mais do que notório que ela cuidaria muito bem dos negócios. Mas, tinha medo que tal atitude pudesse vir a prejudicá-la em um futuro bem próximo.
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Wedding Tales - Contos De Casamento
أدب تاريخيClassificação +16 Ano 1830, Oxfordshire, Inglaterra. As Green são três irmãs muito bonitas e bem quistas pela sociedade, além de possuírem um belo dote herdado do pai. As duas mais novas são apaixonadas por seus pretendentes, e desejam se casar, m...