“A alegria de saber que você existe faz-me forte para suportar a tristeza de sua ausência.”
─ Desconhecido
Era início da noite quando ouvi a campainha tocar. Suspirei, deixando o livro que estava lendo de lado, e fui em direção à porta.
Ao abri-la, encontrei Spencer do outro lado, segurando uma caixa de pizza com um sorriso tímido no rosto.
─ Spencer, o que você está fazendo aqui? ─ perguntei, surpresa.
Ele parecia um pouco nervoso, esfregando a parte de trás do pescoço com a mão livre, algo que ele costumava fazer quando estava desconfortável ou inseguro.
─ Eu... eu pensei que você talvez estivesse com fome ─ disse ele, levantando a caixa de pizza como se fosse uma explicação lógica e universal. ─ E também queria ver como você está depois de tudo o que aconteceu.
Dei um pequeno sorriso, sentindo uma onda de carinho por ele. Spencer sempre encontrava uma maneira de se preocupar comigo, mesmo que às vezes parecesse um pouco desajeitado.
─ Bem, entre ─ convidei, abrindo a porta um pouco mais. ─ Acho que a gente pode dividir essa pizza.
Ele entrou, e eu fechei a porta atrás dele. Nos sentamos no sofá, colocando a pizza na mesa de centro. Enquanto ele abria a caixa e começava a servir, não pude deixar de notar a forma como ele olhava para mim, como se estivesse tentando ler meus pensamentos.
─ Como você está? ─ ele perguntou, pegando um pedaço de pizza e me entregando.
─ Estou bem ─ respondi, aceitando a fatia. ─ Quer dizer, ainda estou processando tudo, mas vou ficar bem.
Spencer acenou com a cabeça, pegando sua própria fatia e se acomodando ao meu lado no sofá. Por um momento, comemos em silêncio, o som de mastigação e o leve som de um vinil tocando preenchendo a sala.
Mas eu podia sentir a tensão no ar, como se algo não dito estivesse pairando entre nós.
Finalmente, ele falou.
─ Eu estive pensando muito nesses últimos dias ─ começou, com uma hesitação que não era comum nele quando discutia assuntos factuais. ─ Sobre como as coisas mudaram entre nós... e sobre como eu me sinto.
Eu coloquei minha fatia de pizza de volta na caixa, sentindo meu coração acelerar.
Sabia que este momento estava por vir, mas ainda assim, ouvir Spencer começar a abordar o assunto de maneira tão direta foi inesperado.
─ E como você se sente? ─ perguntei suavemente, olhando diretamente nos seus olhos.
Ele respirou fundo, os olhos castanhos brilhando sob a luz suave da sala.
─ Eu... eu percebi que não quero mais ignorar o que sinto por você, Florence ─ ele disse, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade. ─ Durante todo esse tempo, eu tentei racionalizar, mas percebo que o que sinto é algo que não posso mais esconder.
Minha respiração ficou presa na garganta. Eu sabia que também sentia algo forte por ele, mas ouvir Spencer admitir isso em voz alta fez tudo parecer mais real.
─ Spencer... ─ comecei, mas ele se aproximou um pouco mais, cortando minha fala.
─ Eu só quero saber ─ ele continuou, com uma vulnerabilidade que era ao mesmo tempo tocante e corajosa ─ se você sente o mesmo. Se você acha que... que isso poderia funcionar.
Eu não consegui mais segurar. O carinho, a admiração, e todos os sentimentos que vinham crescendo por ele nos últimos meses estavam à flor da pele. Sem dizer nada, me inclinei para frente e pressionei meus lábios nos dele, suavemente, sentindo o choque elétrico que aquele contato trouxe.
Por um momento, ele ficou imóvel, provavelmente surpreso. Mas então, quase hesitante, senti suas mãos tocarem delicadamente meu rosto, e ele retribuiu o beijo com uma intensidade tímida, mas cheia de sentimento.
Quando nos separamos, ambos estávamos um pouco sem fôlego, nossos olhares presos um no outro. Não era necessário dizer mais nada. O que antes era um sentimento reprimido agora estava claramente exposto entre nós.
Spencer deu um pequeno sorriso, o rosto corando levemente.
─ Eu acho que isso responde minha pergunta ─ ele murmurou, fazendo-me sorrir de volta.
─ Acho que sim ─ respondi suavemente, pegando sua mão e entrelaçando meus dedos nos dele.
Naquele momento, o mundo parecia mais simples, mais certo. E enquanto continuávamos sentados ali, compartilhando pizza e um novo entendimento, sabia que esse era apenas o começo de algo muito especial.
O silêncio confortável entre nós durou pouco. Eu podia ver a preocupação nos olhos de Spencer, mas também havia algo mais ali, algo que ele estava lutando para colocar em palavras. Então, decidi quebrar o gelo.
─ Spencer... ─ comecei, olhando diretamente para ele, tentando captar o que estava se passando em sua mente. ─ O que nós seremos daqui pra frente?
A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa. Ele piscou algumas vezes, claramente nervoso, antes de começar a falar, ou, melhor dizendo, tagarelar.
─ Bem, Florence, a gente... nós... poderíamos considerar, em um nível teórico, uma possível evolução na dinâmica da nossa relação, levando em conta os eventos recentes e a nossa compatibilidade emocional e intelectual. Claro, isso não é algo que possa ser decidido sem uma análise cuidadosa das implicações a longo prazo, mas... ─ Ele parou, respirou fundo, e então continuou, um pouco mais acelerado. ─ O que eu quero dizer é que, se você estiver disposta, nós poderíamos... sabe, formalizar as coisas? Como... um namoro. Mas só se você quiser, é claro, porque eu não quero pressionar você ou fazer algo que você não esteja pronta, ou...
Eu não consegui evitar; um sorriso suave se formou em meus lábios enquanto ele se enrolava em suas próprias palavras, tentando expressar algo que já estava claro para mim. Ele queria algo mais, assim como eu.
Interrompi sua tagarelice nervosa ao colocar minha mão sobre a dele, acalmando-o.
─ Spencer ─ chamei, minha voz firme, mas gentil. Quando ele olhou para mim, parei para observar a ansiedade misturada com esperança em seus olhos. ─ Sim.
Ele piscou, processando a simplicidade da minha resposta.
─ Sim? ─ ele repetiu, quase como se quisesse confirmar.
─ Sim, Spencer. Eu quero isso. Quero tentar com você.
Um sorriso surgiu no rosto dele, uma mistura de alívio e felicidade.
─ Você não faz ideia do quanto isso significa para mim, Florence ─ disse ele, sua voz finalmente desacelerando.
Sorri de volta, sentindo o calor da felicidade preenchendo o espaço entre nós.─ Acho que faço sim, Spencer.
Nos minutos que se seguiram, ficamos ali, apenas aproveitando o momento, o começo de algo novo entre nós.
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𝐅𝐋𝐎𝐑𝐈𝐃𝐀!!! | 𝘈 𝘊𝘳𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘭 𝘔𝘪𝘯𝘥𝘴 𝘍𝘢𝘯𝘧𝘪𝘤
FanfictionO poeta Saint-John Perse escreveu: "Os pássaros guardam entre nós alguma coisa do canto da criação." A leveza do pássaro comporta, entretanto, como acontece frequentemente, um aspecto negativo. Florence Bird Gideon, após ser rejeitada sete vezes pel...