"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar."
─ Machado de Assis
A noite estava tranquila no apartamento de Spencer, o ambiente suavemente iluminado pelo brilho quente de um abajur antigo.
O lugar tinha o ar familiar de sempre, com pilhas de livros organizadas em ordem impecável, mas o clima entre nós estava diferente, mais leve. Tínhamos passado por dias intensos no trabalho, mas ali, juntos, era como se todo o peso do mundo pudesse ser momentaneamente esquecido.
Spencer estava absorto em um livro, como de costume, seus olhos castanhos movendo-se rapidamente pelas linhas, absorvendo cada palavra com a rapidez e precisão que sempre me impressionavam.
Mesmo após todos esses meses, ainda me fascinava a forma como ele conseguia mergulhar tão profundamente em seus pensamentos, analisando e catalogando tudo ao seu redor com uma mente que nunca descansava.
Eu observava-o por um tempo, sorrindo para mim mesma, até que uma ideia súbita me fez levantar.
A música suave de Across the Universe, na versão de Fiona Apple, tocava em um vinil que Spencer comprou do filme Pleasantville, um dos meus filmes favoritos.
A melodia, suave e etérea, parecia perfeita para o momento.
─ Spencer? ─ chamei, aproximando-me e estendendo minha mão para ele.
Ele levantou os olhos do livro, uma expressão de surpresa atravessando seu rosto antes de se suavizar em um sorriso curioso.
─ O que você está fazendo? ─ ele perguntou, o tom misturando seu habitual ceticismo com um toque de ternura.
─ Vem dançar comigo ─ pedi, balançando minha mão como um convite.
Ele hesitou por um segundo, os olhos estreitando levemente, como se estivesse tentando calcular a lógica de um convite tão simples. Mas, para minha surpresa, ele colocou o livro de lado e aceitou minha mão, deixando-se guiar para o meio da sala.
─ Você sabe que não sou exatamente um Fred Astaire, certo? ─ ele comentou, um leve sorriso brincando nos lábios.
─ Você é perfeito do jeito que é ─ respondi, envolvendo meus braços ao redor do seu pescoço enquanto ele colocava as mãos suavemente na minha cintura.
Começamos a nos balançar devagar ao som da música, a melodia nos envolvendo em um ritmo tranquilo.
Eu comecei a cantarolar baixinho, a letra escapando de meus lábios sem que eu percebesse.
─ Words are flowing out like endless rain into a paper cup...
Spencer apertou minha mão, um gesto simples, mas que dizia muito sobre ele.
Ele não era o tipo de pessoa que se entregava facilmente a esses momentos, mas quando o fazia, havia algo tão puro e genuíno na forma como ele se conectava, mesmo que de maneira desajeitada.
─ Gosto quando você canta ─ ele murmurou, sua voz suave quase se perdendo na melodia.
Continuei a cantarolar, o ambiente ao nosso redor se dissolvendo em uma bolha de tranquilidade. Eu estava tão imersa no momento que, sem perceber, as palavras escaparam de minha boca.
─ Eu amo você, Spencer Reid. ─ sussurrei, quase sem me dar conta.
Houve uma pequena pausa, como se o mundo parasse por um segundo. Meus olhos se arregalaram levemente quando percebi o que tinha dito, e o nervosismo começou a crescer dentro de mim. Eu tentei me corrigir, quase tropeçando nas palavras.
─ Quer dizer, você não precisava responder - apressei-me em dizer, sentindo meu rosto corar. ─ Eu só... as palavras saíram, eu...
Spencer, sendo Spencer, inclinou a cabeça ligeiramente, analisando minha reação com a curiosidade de quem observa um quebra-cabeça. Ele abriu a boca para falar, mas hesitou por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado, algo que ele sempre fazia.
─ Birdie... ─ ele começou, a voz suave e cheia de significado. ─ Eu também amo você, Florence Gideon.
Seus olhos estavam fixos nos meus, e por um momento, o tempo pareceu parar. Não era apenas a declaração que me tocava, mas a maneira como ele a dizia, como se cada palavra carregasse o peso de um universo inteiro de pensamentos e sentimentos que ele geralmente mantinha para si.
Senti meu coração acelerar, e um sorriso bobo se espalhou pelo meu rosto. Eu sabia que Spencer não era do tipo que dizia essas palavras levianamente, e isso só as tornava ainda mais especiais.
─ Está tudo bem ─ ele disse, percebendo minha confusão e nervosismo. ─ Não precisa ficar nervosa. Eu só... queria que você soubesse.
Eu ri, um riso leve e nervoso, mas cheio de felicidade. Encostei minha cabeça em seu peito, ouvindo o batimento regular do seu coração enquanto continuávamos a nos mover suavemente ao som da música.
─ Nothing's gonna change my world...
Continuei a cantarolar, agora com mais confiança, deixando-me embalar pelo momento.
Spencer me puxou um pouco mais para perto, e assim ficamos, dançando sob as estrelas imaginárias do teto do apartamento dele, perdidos em nosso próprio mundo.
Era nesses pequenos momentos, nas simplicidades e imperfeições, que eu sentia mais fortemente o quanto o amava.
E mesmo que as palavras tivessem escapado, naquele instante, eu sabia que não havia nada de errado em tê-las dito. Porque estar com Spencer, de qualquer forma, era exatamente onde eu queria estar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐅𝐋𝐎𝐑𝐈𝐃𝐀!!! | 𝘈 𝘊𝘳𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘭 𝘔𝘪𝘯𝘥𝘴 𝘍𝘢𝘯𝘧𝘪𝘤
FanfictionO poeta Saint-John Perse escreveu: "Os pássaros guardam entre nós alguma coisa do canto da criação." A leveza do pássaro comporta, entretanto, como acontece frequentemente, um aspecto negativo. Florence Bird Gideon, após ser rejeitada sete vezes pel...