"Aquele que conheceu apenas a sua mulher, e a amou, sabe mais de mulheres do que aquele que conheceu mil."
─ Leon Tolstói
A sala de arquivos está insuportavelmente quieta. Os únicos sons são o farfalhar das folhas de papel e o barulho ocasional da gaveta que deslizo com mais força do que deveria. Isso não é o que eu devia estar fazendo. Não com a equipe em Nova York, enfrentando sabe-se lá o quê, enquanto eu estou presa aqui com pilhas de documentos.
Suspirando, coloco os papéis sobre a mesa e passo a mão pelos cabelos, frustrada.
Preciso de uma distração antes que exploda. Pego o celular e rolo a lista de contatos até encontrar o nome de Amanda.
Ela tem sido uma espécie de terapeuta improvisada para mim ultimamente, mesmo que eu nunca tenha admitido isso em voz alta.
Quando ela atende, a voz dela soa clara e acolhedora do outro lado da linha.
─ Oi, Florence. Não esperava uma ligação sua agora. Tá tudo bem?
─ Depende do que você considera 'bem' ─ respondo, me jogando na cadeira da sala de arquivos. ─ Estou presa aqui, na UAC, enquanto todo mundo foi para Nova York. Tenho que lidar com Strauss me colocando para organizar documentos, e isso está me matando.Amanda solta uma risada suave, mas compreensiva.
─ Eu posso imaginar o quanto você deve estar odiando isso. Não é muito o seu estilo ficar de fora.
─ Nem um pouco. ─ Respondo, balançando a cabeça, mesmo que ela não possa ver. ─ Eu me sinto inútil, sabe? Eles estão lá, arriscando a vida, e eu... aqui, com papelada.
─ A questão é que você sabe o quanto é capaz, e ver isso sendo limitado por outras pessoas deve estar te frustrando. Mas, Florence, você também sabe que o que faz por trás das cenas também importa.
─ Eu sei ─ murmuro, embora ainda tenha dificuldade em aceitar isso. ─ Só que às vezes parece que não faço diferença. Eu não sou... como eles.
Ela faz uma pausa antes de falar novamente, a voz calma.─ Lembra quando trabalhávamos juntas no grupo de voluntários? Tinha muitas vezes que achávamos que o que fazíamos era pequeno demais para mudar alguma coisa, mas, no final, cada ação contava.
─ Só que aqui, Amanda, é diferente. Uma coisa é ajudar em causas pequenas, outra é lidar com casos de vida ou morte. Eu só... não sei."
Ela suspira, como se tentasse encontrar as palavras certas.
─ Você sempre foi exigente consigo mesma, Florence. E isso só piora quando você está longe do que realmente importa pra você.
Fico em silêncio por um momento. Ela está certa. Isso sempre foi algo que me perseguiu. Eu me cobro muito, e quando estou fora de ação, minha mente começa a questionar meu valor.─ Eu sinto que estou falhando, sabe? Falhando com a equipe... e com Spencer. Eu devia estar lá.
─ A equipe sabe que você faria qualquer coisa por eles, e Spencer... bem, ele te conhece. Ele sabe que você está sempre fazendo o melhor, mesmo quando não parece ser o suficiente pra você.Mordo o lábio, as palavras dela me tocando de uma maneira inesperada. Talvez ela esteja certa. Mas é difícil.
─ Eu só queria fazer mais.
Amanda sorri do outro lado da linha, quase posso ouvir o sorriso em sua voz.
─ Você está fazendo o que pode, Florence. E às vezes, isso é tudo o que importa.
Fecho os olhos por um momento, sentindo o peso nas palavras dela. Talvez essa sensação de impotência vá embora com o tempo. Ou talvez eu só precise encontrar uma forma de lidar com isso.
─ Obrigada por ouvir, Amanda. Eu precisava falar com alguém que não me dissesse para 'aceitar as ordens'.
─ Você sabe que pode me ligar sempre que quiser. Estamos nisso juntas desde a faculdade, não vai ser diferente agora.
Sorrio, me sentindo um pouco mais leve.
─ Sim, sempre juntas.
Desligo o telefone e olho ao redor da sala de arquivos novamente. O trabalho não parece tão sufocante quanto antes, mas ainda assim... não é onde eu deveria estar.
[...]
O silêncio da unidade parece mais pesado quando as horas passam lentamente.
Por outro lado, Spencer continuava me atualizando sobre o caso sempre que podia. Ele me enviava mensagens rápidas, descrevendo o que estavam descobrindo, sem nunca perder o foco do que estava fazendo. Isso, pelo menos, me dava algum conforto no meio de tudo. Saber que ele estava lá, fazendo o que precisava ser feito, me deixava um pouco mais tranquila.No fim do dia, quando finalmente fui liberada, a sensação de frustração ainda estava presente, mas eu sabia que não podia levá-la para casa. Haley e Jack estavam lá, e eu precisava desligar essa parte da minha mente.
Abro a porta do apartamento e, antes mesmo de fechar, ouço pequenos passos correndo na minha direção. Jack surge no corredor com um sorriso enorme no rosto, seus braços estendidos para mim.
─ Titia Bird! ─ ele grita antes de se jogar nos meus braços.
Todo o peso do dia se dissolve naquele momento. O abraço caloroso de Jack, a energia pura e inocente dele, é como um bálsamo para minha mente cansada.
─ Aí está meu garoto favorito! ─ digo, rindo enquanto o levanto e giro, o fazendo rir alto. ─ Como foi seu dia, hein?
─ Eu brinquei com meus carrinhos e a mamãe me levou no parque! ─ Jack fala com tanta empolgação que mal consegue respirar entre as palavras.
Entro na sala com ele ainda em meus braços e vejo Haley na cozinha, mexendo em algumas panelas. Ela se vira com um sorriso caloroso no rosto, claramente feliz em me ver.
─ Ei, finalmente em casa? ─ ela pergunta, enxugando as mãos em um pano de prato.
─ Sim, finalmente. ─ Coloco Jack no chão e me aproximo dela. ─ E você? Como foi o dia?Ela sorri mais largamente, com um brilho nos olhos.
─ Na verdade, eu tenho boas notícias. Consegui um emprego.
Meus olhos se arregalam.
─ Sério? Haley, isso é incrível!
Ela dá de ombros, meio tímida, mas com um orgulho discreto no olhar.
─ É em uma escola particular. Eles estavam precisando de alguém para a administração e, bem, parecia a oportunidade perfeita.
Eu me aproximo e a abraço.
─ Eu estou tão feliz por você! Isso é maravilhoso.
─ Obrigada, Bird. Eu estava precisando disso. Sabe, um pouco de estabilidade, algo para me concentrar além de... tudo.Eu entendo o que ela quer dizer. Desde a separação com Hotch, Haley tem tentado encontrar um novo equilíbrio para si e para Jack. Esse emprego parece ser exatamente o que ela precisava.
Enquanto ela volta a mexer nas panelas, respiro fundo e deixo a calma da casa me envolver. O aroma do jantar no fogão, a risada de Jack brincando na sala, tudo isso cria um contraste tão grande com o caos da unidade que é quase surreal.
Deixo meu corpo relaxar, sabendo que, pelo menos por esta noite, estou onde deveria estar.
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𝐅𝐋𝐎𝐑𝐈𝐃𝐀!!! | 𝘈 𝘊𝘳𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘭 𝘔𝘪𝘯𝘥𝘴 𝘍𝘢𝘯𝘧𝘪𝘤
FanfictionO poeta Saint-John Perse escreveu: "Os pássaros guardam entre nós alguma coisa do canto da criação." A leveza do pássaro comporta, entretanto, como acontece frequentemente, um aspecto negativo. Florence Bird Gideon, após ser rejeitada sete vezes pel...