"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar."
─ Friedrich Nietzsche
Eu olho pela janela do apartamento de Spencer, a vista de Washington sendo iluminada pelos últimos raios da tarde.
O sol ainda não está tão baixo no horizonte, mas o brilho já esfria o vidro da janela. As últimas 48 horas foram intensas, tanto para a equipe quanto para mim, ainda que eu tenha ficado na unidade.
Haley e Jack estão no meu apartamento agora. Eu estive lá mais cedo, explicando brevemente o que aconteceu em Nova York. O caso foi brutal, mas a equipe voltou em segurança, e isso é o que importa. Olhei para Haley e vi a preocupação em seus olhos quando mencionei Aaron.
─ Ele vai precisar de um ombro amigo ─ eu disse. ─ E os seus, e do Jack, são os que ele mais precisa agora. ─ Haley assentiu, meio hesitante, mas sabia que era verdade. Eles ainda têm um longo caminho pela frente, mas isso não é o tipo de coisa que desaparece com o tempo.
─ Eu vou ficar no apartamento do Spencer, qualquer coisa você me liga, tá?
Ela sorriu, embora com certa tristeza. Nós duas sabemos que os tempos são difíceis, mas estamos lidando com isso da melhor maneira possível.
Agora, sentada no sofá de Spencer, deixo os pensamentos se dissiparem enquanto ele divaga sobre algum assunto científico, algo que normalmente eu estaria atenta, mas agora só consigo focar em outra coisa.
As mechas de cabelo caindo sobre os olhos dele.Ele está falando sobre como o cérebro processa informações sob estresse, algo fascinante, mas minha atenção se perde nas ondas de seu cabelo, agora mais longas do que de costume. Elas caem suavemente sobre sua testa e me distraem.
─ Você deveria cortar o cabelo ─ eu interrompo, sorrindo suavemente.
Spencer para de falar, levanta o olhar e arqueia uma sobrancelha, visivelmente confuso por minha intervenção repentina.
─ Cortar? Por quê?
─ Porque está caindo sobre seus olhos,─ explico, apontando para as mechas que ele insiste em afastar com a mão.
Ele sorri de canto, como se estivesse prestes a confessar algo.
─ Eu não vou cortar.
─ Por que não? ─ pergunto, genuinamente curiosa.
─ Porque você disse que gosta dele assim,─ ele responde calmamente, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Sinto uma onda de calor no rosto ao ouvir isso. Uma lembrança distante surge - meses atrás, comentei que gostava de como o cabelo dele estava crescendo. Não achei que ele realmente se importaria tanto a ponto de manter o comprimento por minha causa.
─ Você se lembra disso?
Ele dá de ombros.
─ Claro que lembro. Não corto porque você gosta assim.
Fico observando-o por um momento, uma mistura de ternura e surpresa crescendo dentro de mim.
─ Você é impossível, ─ digo, rindo. ─ Tá bom, eu corto pra você, então.
Ele me encara por um segundo, tentando medir se estou brincando ou não, antes de se render.
─ Ok, mas só se você prometer não fazer nada drástico.
─ Confia em mim, ─ digo, já me levantando para pegar uma tesoura no banheiro.
Minutos depois, estamos sentados no chão da sala. Ele está à minha frente, imóvel, enquanto eu cuidadosamente corto algumas mechas que estão longas demais.
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𝐅𝐋𝐎𝐑𝐈𝐃𝐀!!! | 𝘈 𝘊𝘳𝘪𝘮𝘪𝘯𝘢𝘭 𝘔𝘪𝘯𝘥𝘴 𝘍𝘢𝘯𝘧𝘪𝘤
FanfictionO poeta Saint-John Perse escreveu: "Os pássaros guardam entre nós alguma coisa do canto da criação." A leveza do pássaro comporta, entretanto, como acontece frequentemente, um aspecto negativo. Florence Bird Gideon, após ser rejeitada sete vezes pel...