O luto

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Rhaenyra se movia como uma tempestade silenciosa em direção ao Fosso dos Dragões, sua raiva fervendo dentro dela. O luto pela perda de Joffrey ainda era profundo, mas mais do que isso, a fúria. Ele havia sido tirado dela, um filho perdido para a crueldade da guerra, para a brutalidade dos Verdes. E agora, ela não se contentaria em esperar, não suportaria ver mais nada ser tirado de sua família. Ela precisaria de algo mais, algo que demonstrasse ao mundo que ela era, de fato, a verdadeira herdeira ao Trono de Ferro. Vermithor seria esse poder.

Ao entrar no fosso, o ar ficou pesado com a presença do enorme dragão. Vermithor era uma fera imponente, a Besta de Bronze, cujo tamanho gigantesco e presença avassaladora não deixavam dúvidas sobre sua letalidade. Ele respirava profundamente, com olhos amarelados como ouro queimando na direção de Rhaenyra. O dragão sabia que ela já tinha uma montaria, Syrax, mas também reconhecia o sangue Targaryen que fluía por suas veias.

Rhaenyra se aproximou, falando em Valiriano antigo, sua voz baixa e cheia de poder. "Ēza iā Vezhof, nūmāzma ñuha issa. Vāedar Vēzos syt nykeā jelmāzma ēngos. Nyke Targārien, āeksio hen drakari."

Sua voz ecoou pelas paredes de pedra, enquanto Vermithor rosnava, relutante. Era uma criatura independente, acostumada à liberdade desde a morte de seu último cavaleiro, o rei Jaehaerys. Mas ele também era um dragão Targaryen, e o fogo nos olhos de Rhaenyra falava mais alto do que qualquer dúvida. Ela não se movia, encarando a Besta de Bronze com uma força que parecia vir dos próprios deuses.

"Rybar nykeā drāqe, jorrāelagon hen īlva lenton." Ela deu mais um passo. “Nyke jaelagon lo skorkydoso va perzot, hen ziry, iksā. Gūrogon se sir naejot iā barz.”

Vermithor abaixou a cabeça lentamente, o rosnado profundo de seu peito indicando que ele aceitava a ordem de uma verdadeira Targaryen. Seus olhos de ouro se fixaram nos de Rhaenyra, e com um rugido ensurdecedor, ele finalmente cedeu. O pacto entre dragão e cavaleira estava selado, e ela sabia que agora tinha o poder de fogo necessário para destruir seus inimigos.

Enquanto isso, nas sombras do castelo, S/n continuava a treinar sozinha, incansável. Sua raiva e tristeza pela morte de Joffrey eram uma tempestade dentro dela, e cada golpe de espada parecia inútil para dissipar a dor. O lobo de S/n, sempre atento às suas emoções, estava inquieto, rosnando baixo, como se sentisse a inquietação de sua dona. Ele rondava o campo de treinamento, os olhos brilhando na escuridão, enquanto S/n empunhava sua espada com fúria.

A madrugada já avançava, e S/n não parava, recusando-se a ceder ao cansaço. Era como se a raiva fosse a única coisa que a mantinha de pé, a única forma de lidar com a perda. Mas sua exaustão não passou despercebida por Alicent. A rainha viúva vinha observando a jovem Stark em silêncio por dias, vendo como a morte de Joffrey a destruía pouco a pouco.

Quando Alicent entrou no campo de treinamento, S/n estava desferindo golpes violentos contra um manequim de madeira, o som das lâminas ecoando no ar. Alicent esperou um momento, observando a intensidade com que S/n se movia, como se estivesse lutando contra algo invisível dentro de si mesma.

"S/n," a voz de Alicent cortou o ar suavemente, mas com firmeza. "Você vai se destruir assim."

S/n parou por um momento, ofegante. Seus olhos estavam cheios de raiva e dor, e quando olhou para Alicent, não conseguiu conter o peso de suas emoções.

"Ele não merecia isso. Joffrey era... ele era o melhor de todos nós." Sua voz falhou por um segundo, mas ela continuou, apertando a espada com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. "Por que ele? Por que sempre os melhores são os primeiros a morrer?"

Alicent se aproximou lentamente, seu rosto refletindo a tristeza que ela também sentia. Joffrey, apesar de tudo, era um garoto inocente, pego em uma guerra que não era sua escolha. "Eu sei," ela disse suavemente. "Não há palavras que possam amenizar essa dor. Acredite, eu sei o que é perder alguém que você ama."

S/n virou o rosto, tentando esconder as lágrimas que ameaçavam cair. "Você não entende. Ele era... a bondade personificada. Ele não tinha ódio no coração. A guerra não deveria tocá-lo."

Alicent estendeu a mão, tocando o braço de S/n com gentileza, apesar do receio da jovem Stark em se abrir. "Você está certa. Joffrey era bom, e nada do que Aemond fez pode ser justificado. Mas viver consumida por essa raiva... só vai destruir você. E ele não iria querer isso."

Por um momento, o silêncio pairou entre elas, enquanto S/n lutava contra a tempestade dentro de si. A raiva ainda estava lá, ardendo como fogo, mas as palavras de Alicent, sua presença calma, começavam a alcançar S/n. "E o que você sugere que eu faça? Fingir que isso não está me destruindo por dentro?" Sua voz estava carregada de amargura, mas também de um cansaço profundo.

"Não," respondeu Alicent, com um tom que demonstrava empatia genuína. "Mas você não está sozinha, S/n. Não precisa enfrentar isso sozinha." Ela fez uma pausa, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. "Eu sinto muito pelo que aconteceu. Não posso mudar o que meu filho fez, mas posso tentar evitar que mais tragédias caiam sobre nós. Deixe-me ajudar."

S/n permaneceu em silêncio por mais um momento, processando as palavras de Alicent. Ainda sentia a raiva ardendo, mas uma pequena parte de sua dor parecia aliviada pela presença da rainha viúva. Alicent a segurava, mesmo que por um fio, numa tentativa de impedir que a jovem Stark fosse engolida pelo luto.

Enquanto isso, Helaena estava acima de tudo isso, voando com Dreamfyre pelos céus escuros. O vento em seu rosto lhe trazia uma sensação de liberdade e proteção, como se ela pudesse, de alguma forma, vigiar todos em Pedra do Dragão lá de cima. Voar se tornara sua maneira de processar a brutalidade da guerra e a traição de Aemond. Cada vez que as asas de Dreamfyre cortavam as nuvens, ela se sentia mais longe da crueldade do mundo abaixo e mais perto de uma tranquilidade que ela só encontrava nas alturas.

Mas Helaena não conseguia parar de pensar no irmão que ela acreditava conhecer. Como Aemond poderia ser tão cruel? Como ele poderia ter feito isso sem remorso? Cada pensamento era uma faca em seu coração, uma ferida aberta que ela tentava curar sozinha, acima de todos, entre as nuvens e o vento gelado.

Em Pedra do Dragão, os corações estavam em luto e o desejo por vingança ardia mais forte do que nunca.




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Aqui está a tradução do que Rhaenyra falou em Valiriano para Vermithor:

1. "Ēza iā Vezhof, nūmāzma ñuha issa."
— "Você é uma fera, mas sua alma é minha."

2. "Vāedar Vēzos syt nykeā jelmāzma ēngos."
— "Domine o céu por uma vontade inquebrável."

3. "Nyke Targārien, āeksio hen drakari."
— "Eu sou uma Targaryen, filha dos dragões."

4. "Rybar nykeā drāqe, jorrāelagon hen īlva lenton."
— "Queime pelo meu comando, em nome da nossa casa."

5. "Nyke jaelagon lo skorkydoso va perzot, hen ziry, iksā."
— "Eu preciso de você como fogo no sangue, assim como você precisa de mim."

6. "Gūrogon se sir naejot iā barz."
— "Destrua e leve nossa vingança aos céus

Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)Onde histórias criam vida. Descubra agora