O dia amanhecia sombrio, com nuvens pesadas sobre Porto Real, como se até o céu previsse o turbilhão que estava por vir. No salão do trono, Otto Hightower aguardava pacientemente. Seus olhos frios estavam fixos nas portas enormes de madeira à sua frente. Ele sempre soubera jogar o jogo do poder, tecendo suas teias de manipulação ao longo dos anos, e agora, mais do que nunca, cada peça precisava estar no lugar certo.
A porta se abriu, revelando S/n. Ela se aproximou com passos cautelosos, já prevendo que aquela reunião não seria casual. Otto nunca agia sem um propósito claro. Ao contrário de muitos na corte, ele sabia exatamente onde queria chegar, e seu olhar penetrante demonstrava que S/n estava agora em seu foco.
— Lady S/n, — começou Otto com uma falsa suavidade em sua voz. — Agradeço por vir. Tenho assuntos de grande importância para discutir com você.
S/n curvou levemente a cabeça, observando o homem à sua frente. A aparência calculada e o controle absoluto em suas palavras e gestos sempre a deixavam em alerta.
— Estou à disposição, Lorde Hightower — respondeu ela, com uma voz controlada.
Otto deu um pequeno sorriso, inclinando-se levemente para frente em seu trono improvisado na mesa de reuniões.
— Como você bem sabe, o futuro de Porto Real está... incerto. Mas há maneiras de garantir que você, e todos que importam, saiam fortalecidos dessa situação.
S/n manteve-se em silêncio, aguardando que ele chegasse ao ponto. Otto sabia medir suas palavras com precisão, mas ela não iria ceder facilmente ao que quer que ele planejasse.
— O príncipe Aegon... — Otto fez uma pausa, observando atentamente a reação de S/n. — Ele é um jovem com grandes expectativas e responsabilidades à sua frente. Um casamento com alguém de sua linhagem, Lady S/n, poderia solidificar ainda mais seu lugar no futuro que estamos preparando para ele.
O choque percorreu o corpo de S/n, mas ela se manteve serena por fora. Casar-se com Aegon? As implicações dessa união começaram a se formar rapidamente em sua mente. Um movimento estratégico, claramente, para vincular sua lealdade à coroa, ou melhor, à facção de Otto. Ele queria garantir que ela estivesse amarrada ao futuro que ele desejava para Porto Real — um futuro onde Aegon usurparia o trono de Rhaenyra.
Antes que ela pudesse responder, Otto continuou, sua voz ganhando um tom mais incisivo.
— Você tem uma escolha, é claro, mas devo ressaltar que essa união seria... extremamente benéfica para sua família. E para você.
S/n sentiu o peso daquela manipulação velada, como se a armadilha estivesse se fechando ao seu redor. No entanto, antes que pudesse formular uma resposta adequada, a porta se abriu com força.
Alicent entrou na sala, seus olhos brilhando de indignação, sua postura rígida como se estivesse pronta para a batalha. Ela mal disfarçava a raiva, seus lábios finamente pressionados em uma linha reta. Quando seus olhos pousaram em S/n, havia um misto de pena e proteção.
— Pai, — Alicent começou, seu tom frio e calculado, mas carregado de fúria contida. — O que você está fazendo?
Otto, com seu semblante sempre calculado, permaneceu impassível, mas S/n percebeu que a rainha o afetava de uma forma que poucos conseguiam.
— Estou assegurando o futuro de Porto Real, Alicent. É o que sempre fiz.
Alicent deu um passo à frente, sua voz tremendo levemente com a intensidade de suas emoções.
— Você está tentando empurrar S/n para o mesmo destino que me forçou! Não percebe que ela não deve ser manipulada assim? — As palavras escaparam de sua boca com uma amargura acumulada ao longo de anos de submissão.
S/n observou em silêncio, surpresa ao ver Alicent, sempre contida, finalmente confrontando o próprio pai de forma tão direta. A rainha virou-se para ela, e naquele momento, S/n viu mais do que uma simples mulher presa às circunstâncias da corte. Alicent estava cansada — cansada de ser uma peça no jogo de Otto, cansada de sacrificar sua própria vida e felicidade pelos planos de poder de outros.
— Não faça isso — implorou Alicent, sua voz agora mais suave, mas não menos determinada. — Você tem o direito de escolher seu próprio caminho, Lady S/n.
Otto permaneceu em silêncio, seu olhar avaliando a situação. Ele não iria se dobrar, isso era certo, mas Alicent, por ora, parecia ter conseguido deter seu avanço.
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Mais tarde naquele dia, no silêncio de seus aposentos, S/n escreveu uma carta para seu pai. O conselho dele sempre fora uma bússola em tempos de dúvida, e naquele momento, ela precisava mais do que nunca de sua sabedoria. Descreveu a proposta de Otto, o olhar frio do velho senhor e a inesperada intervenção de Alicent.
Horas depois, a resposta chegou.
"Minha filha, as escolhas que você faz neste momento determinarão muito mais do que seu futuro imediato. Eu confio em seu julgamento, e qualquer caminho que você escolha será o certo. Não se deixe prender pelas correntes da corte. Você tem o direito de decidir seu destino."
As palavras de seu pai a acalmaram. Ele não a pressionava, apenas lhe dava a liberdade que ela precisava para tomar sua própria decisão.
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Enquanto S/n ponderava sobre os acontecimentos, o Red Keep mergulhava em uma escuridão profunda. Viserys, o rei moribundo, finalmente sucumbiu à sua doença, deixando para trás um vazio perigoso. A notícia de sua morte não foi anunciada de imediato. Alicent e Otto, cientes de que a morte do rei abriria um caminho de caos, mantiveram o falecimento em segredo, preparando-se para os próximos movimentos.
Alicent, no entanto, sentia-se sufocada. O peso de anos de manipulação, as intrigas e as promessas vazias de seu pai pesavam sobre seus ombros. Ela sabia o que Otto planejava: Aegon seria coroado antes que Rhaenyra sequer soubesse da morte de seu pai. Isso não era mais uma disputa pela sobrevivência, mas uma guerra pelo trono.
Em uma sala escura, longe dos ouvidos da corte, Alicent finalmente explodiu.
— Você não vai mais controlar minha vida! — ela gritou, sua voz ecoando pelas paredes de pedra. — Durante anos, obedeci cegamente, joguei o jogo que você quis, mas isso... isso acaba aqui.
Otto, com seu semblante de pedra, mal reagiu.
— Você sempre foi uma jogadora inteligente, Alicent. O que mudou agora?
— O que mudou? — Alicent deu um passo à frente, o rosto tenso de fúria. — Eu. Não vou deixar você fazer com S/n o que fez comigo. Ela merece mais do que isso.
Otto se aproximou lentamente, como uma serpente que se arrasta antes de dar o bote.
— E o que você sugere, filha? Que deixemos Rhaenyra ascender ao trono? Você sabe o que isso significa para seus filhos, para Aegon.
Alicent hesitou, seus pensamentos uma confusão de lealdades e deveres. O jogo de poder era cruel, e as peças estavam se movendo rápido demais. Mas algo dentro dela, uma chama de rebeldia que ela pensava estar extinta, queimava mais forte.
— Vou proteger os meus — respondeu ela, com firmeza. — Mas não vou mais ser uma marionete no seu jogo.
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Os sinos da cidade começaram a soar ao amanhecer do dia seguinte. A morte de Viserys finalmente foi anunciada ao reino. A atmosfera dentro do Red Keep era densa, e todos sabiam que, com a morte do rei, a guerra pelo trono não estava mais distante.
S/n, em seu quarto, contemplava o céu cinzento pela janela. Ela sabia que precisava tomar sua decisão. As palavras de seu pai ecoavam em sua mente: ela tinha o direito de escolher seu caminho. Mas com o jogo de poder se intensificando, qualquer decisão que tomasse poderia mudar para sempre o rumo de sua vida — e de Westeros.
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Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)
FanfictionS/n Stark, uma jovem da Casa Stark, é convocada a Porto Real para um casamento arranjado com Jofrey Velaryon, o filho de Rhaenyra Targaryen e Daemon Targaryen. Contudo, enquanto navega pelas intrigas da corte, S/n se vê atraída por Rhaenyra, a rainh...