Uma garrafa de vinho

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No jardim iluminado apenas pela luz da lua, S/n segurava sua taça de vinho, ainda sem conseguir afastar o peso do que havia acontecido durante o dia. O ar fresco da noite era um alívio comparado à opressão que sentia internamente, mas ainda assim, o cansaço mental e físico pareciam continuar pesando sobre seus ombros.

Alicent observava da sacada, notando como a jovem Stark parecia perdida em seus próprios pensamentos. Decidiu ir até ela, não por curiosidade sobre os acontecimentos, mas por uma preocupação genuína. Não era comum S/n aparecer em lugares tão isolados e ainda mais com uma garrafa de vinho.

Descendo discretamente, Alicent caminhou até os jardins, e quando S/n percebeu a presença dela, se virou lentamente, tentando esconder a exaustão que estava estampada no rosto.

"S/n," a voz suave de Alicent quebrou o silêncio, "eu ouvi sobre o que você fez hoje." Ela se aproximou, notando as sombras sob os olhos da garota e a taça firme em suas mãos.

S/n suspirou, sem forças para esconder a realidade do que havia passado. "Eles mereciam. E eu faria tudo de novo, sem hesitar." Sua voz não carregava arrependimento, mas um eco de dor e fadiga.

Alicent se sentou ao lado dela, seus olhos varrendo o rosto de S/n com cuidado. "Você não precisa me explicar... não sobre isso. Só vim para... entender o que você está sentindo agora." Alicent raramente era direta, mas com S/n, as palavras vinham com mais facilidade, quase como uma confissão.

S/n hesitou, olhando para o vinho, girando o líquido na taça. "Eu só... não consigo tirar isso da cabeça. Cada vez que vejo um homem assim, lembro do que meu irmão fez. É como... um fantasma que nunca me deixa."

Alicent olhou com simpatia e ficou em silêncio por um tempo antes de colocar a mão suavemente no ombro da garota. "Eu sinto muito que tenha passado por isso. Ninguém deveria."

S/n sentiu o toque de Alicent, e algo nela vacilou. Uma proximidade que antes não havia, um calor no gesto que a fazia lembrar das palavras de Alicent sobre "ajudar" quando tivesse aquelas vontades. Mesmo que ela soubesse que não era esse o sentido, seus pensamentos não conseguiam parar de fugir para esses caminhos.

"Obrigada," S/n murmurou, "mas é difícil parar de pensar... em tudo isso. Acho que vim aqui para... me distrair, talvez." Ela ergueu a taça, sem saber se isso realmente ajudaria.

Alicent observou o vinho na taça da garota e então se aproximou mais um pouco, a voz mais baixa e firme. "Sabe que não é o vinho que vai te ajudar a esquecer essas coisas... Não quero que você afunde nisso."

S/n sabia que Alicent estava certa, mas ao mesmo tempo, a proximidade da rainha viúva, sua presença firme e ao mesmo tempo acolhedora, estava mexendo com ela. A tensão que sentia não vinha mais só das cabeças cortadas ou da memória de seu irmão. Algo dentro dela despertava, algo que ela não sabia como lidar.

"Eu só... queria que as coisas fossem mais simples," S/n murmurou, o olhar perdido na escuridão do jardim. "E que... eu pudesse entender o que estou sentindo, por tudo isso... e por..."

Antes que pudesse completar a frase, Alicent segurou o queixo de S/n gentilmente, a fazendo olhar diretamente em seus olhos. "Você não precisa dizer nada que ainda não entenda." Alicent sorriu de leve, tentando transmitir calma. "Mas quando estiver pronta para falar... eu estarei aqui."

S/n, novamente, sentiu aquela mistura de confusão e atração. Alicent a deixava confortável, mas ao mesmo tempo fazia sua mente e corpo despertarem sensações que ela não conseguia explicar.

"Obrigada, Alicent," S/n disse, sentindo o calor da mão da rainha em seu rosto. "Eu... aprecio isso."

Enquanto Alicent a olhava com preocupação genuína, S/n sentiu seu coração bater um pouco mais rápido. Os pensamentos que ela tentava enterrar estavam começando a emergir novamente, e dessa vez, não era só sobre uma pessoa. A proximidade de Alicent, seu toque suave e a maneira como suas palavras carregavam um cuidado quase íntimo faziam a mente de S/n vagar. Ela mal conseguia se concentrar no que Alicent dizia.

Seu olhar se perdeu na taça de vinho, mas sua mente viajava para Rhaenyra. O toque da rainha mais cedo, quando lavava seu cabelo e a abraçava após o episódio na praça, ainda estava fresco na memória. O calor daquele contato parecia ter ficado gravado em sua pele, e de algum modo, toda vez que pensava em Rhaenyra, seu corpo reagia, um calor diferente subindo pelo seu peito. Mas agora, sentada ali com Alicent tão perto, S/n sentia o mesmo calor crescendo dentro de si. Como podia estar sentindo isso por ambas?

Era confuso. Enquanto a presença de Rhaenyra trazia uma força indomável, quase protetora, o jeito de Alicent era mais sutil, mas igualmente perturbador. A promessa de ajuda, o toque cuidadoso, como se soubesse exatamente como acalmá-la, mas sem perceber o efeito que isso causava. S/n não conseguia evitar pensar em como seria ser segurada assim por Alicent, de um jeito mais íntimo, enquanto ainda sentia a firmeza dos braços de Rhaenyra em sua memória. As duas mulheres preenchiam sua mente de formas diferentes, mas igualmente intensas.

Por que essas emoções vinham todas de uma vez? E por que ela não conseguia distinguir o que estava sentindo por cada uma? Alicent era mais doce, mais compassiva, enquanto Rhaenyra carregava um fogo e uma autoridade que S/n respeitava profundamente. Mas agora, o fogo e a ternura se misturavam em seus pensamentos, e ela se perguntava: seria possível sentir algo por ambas, ao mesmo tempo?

Enquanto Alicent continuava a falar, S/n tentou focar nas palavras, mas sua mente continuava a vagar entre a força de Rhaenyra e o conforto de Alicent. E se... de alguma forma, essas duas forças estivessem se cruzando em seus sentimentos? Não era apenas o desejo carnal que mexia com ela, mas algo maior, que ela ainda não sabia nomear.

A única coisa clara era que, naquele momento, ela estava no meio de algo que mal começava a entender.

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Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)Onde histórias criam vida. Descubra agora