Sementes de dúvida

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O som abafado dos passos ecoava pelos corredores do Red Keep, enquanto a noite caía pesada sobre Porto Real. As sombras dançavam sob a luz bruxuleante das tochas, criando um ambiente carregado de mistério e tensão. S/n caminhava pelo castelo, sentindo o peso da noite sobre seus ombros. Sua mente estava ocupada com as palavras de Rhaenyra durante o banquete, ecoando em seu interior como um chamado. Havia algo nela que despertava não apenas admiração, mas um desejo silencioso e crescente.

Ela se perguntou sobre as lutas internas que a rainha enfrentava, seus olhos sempre vigilantes sobre aqueles que poderiam tentar usurpar seu poder. S/n, no entanto, sabia que outra figura na corte também enfrentava batalhas silenciosas: Alicent.

Naquela mesma noite, enquanto o castelo adormecia lentamente, Alicent estava sozinha em seus aposentos. Seu rosto estava sombrio, refletido no espelho de sua penteadeira, onde ela retirava lentamente suas joias. Seu olhar era vazio, mas em sua mente, uma tempestade de pensamentos fervilhava. Seu casamento com o rei Viserys já havia perdido o brilho há muito tempo, e a pressão incessante de seu pai, Otto Hightower, a sufocava a cada momento.

Ela sabia muito bem o que seu pai planejava. Otto queria garantir que Aegon, o filho de Alicent e Viserys, ocupasse o Trono de Ferro, usurpando o direito de Rhaenyra, a herdeira legítima. Alicent sempre foi a filha obediente, sempre cumprindo o que era esperado dela, mas essa obediência vinha com um custo. Sua alma estava exausta, seu coração endurecido por anos de sacrifício e silêncio.

Enquanto olhava seu reflexo, Alicent sussurrou para si mesma:

— Quanto tempo mais...?

Ela não se permitia verbalizar seus pensamentos mais profundos. A frustração, o medo, e até o ressentimento contra seu próprio pai, contra o destino que lhe fora imposto. Mas, mesmo ali, no silêncio de seu quarto, Alicent não ousava confessar isso a ninguém. O papel de rainha lhe foi dado, mas o poder real sempre esteve nas mãos dos homens à sua volta.

De repente, um leve bater na porta a trouxe de volta de seus pensamentos. Alicent respirou fundo, endireitando-se antes de permitir que a pessoa entrasse. Era uma de suas damas de companhia, trazendo um recado de que o rei a chamava.

— Ele deseja sua presença, minha rainha — disse a jovem, a cabeça inclinada respeitosamente.

Alicent assentiu, mas por dentro sentia um misto de desânimo e irritação. Mais uma noite em que teria que enfrentar a indiferença de Viserys, seu marido doente e distante, que mal notava sua presença ultimamente.

— Já estou a caminho — respondeu com uma voz fria, controlada.

A rainha vestiu seu manto de seda verde escuro, o tecido pesado deslizando sobre o chão de pedra enquanto ela caminhava em direção aos aposentos do rei. Cada passo era um lembrete de sua posição e do que esperavam dela. Mas, enquanto caminhava, algo dentro de Alicent se revolvia. Um cansaço profundo, um desejo de liberdade que nunca fora satisfeito.

Quando chegou aos aposentos reais, Viserys estava deitado em sua cama, pálido e frágil. Seus olhos cansados se voltaram para ela com um vestígio de ternura, mas Alicent apenas olhou para ele com uma mistura de frustração e apatia.

— Alicent... — Viserys murmurou, estendendo uma mão trêmula em sua direção.

Ela segurou sua mão com delicadeza, mas seu toque era frio, quase automático. As palavras de Rhaenyra no banquete vinham à sua mente, ecoando com uma clareza irritante: "Não se esqueça de que você tem mais controle do que imagina." Alicent sentiu uma pontada amarga ao pensar na filha do rei. Rhaenyra, a quem Viserys idolatrava, a quem ele entregaria o reino. Alicent, por outro lado, sentia-se apenas uma peça de jogo na grande teia de Otto Hightower.

Depois de permanecer em silêncio ao lado do rei por um tempo, Alicent se retirou, deixando-o sozinho em sua fragilidade. Enquanto caminhava de volta para seus aposentos, sentiu uma raiva contida crescer dentro dela. Raiva de Viserys por sua fraqueza, de seu pai por manipulá-la, de Rhaenyra por viver livremente como desejava. Alicent sempre fizera o que esperavam dela, mas até quando?

Ao voltar para seus aposentos, encontrou S/n vagando pelos corredores. Os olhos da jovem Stark estavam cheios de uma curiosidade ingênua, mas havia uma força silenciosa nela, algo que Alicent reconheceu instantaneamente.

— Lady Stark, perambulando pelos corredores a essa hora da noite? — Alicent perguntou, sua voz mais sombria do que o habitual.

S/n virou-se, surpreendida pela presença da rainha, e fez uma reverência rápida.

— Minha rainha, peço desculpas. Apenas precisava de um momento para pensar — respondeu S/n, sua voz calma.

Alicent estudou a jovem por um momento, vendo nela um reflexo de quem ela própria fora um dia. Jovem, cheia de esperanças, mas prestes a ser engolida pelo mundo cruel da corte.

— Pensar pode ser um luxo perigoso neste lugar — Alicent disse, seus olhos fixos nos de S/n. — Especialmente para aqueles que ainda têm algo a perder.

S/n sentiu o peso das palavras da rainha, como se Alicent estivesse falando mais consigo mesma do que com ela. Havia uma amargura profunda na voz de Alicent, algo que a intrigava.

— E a senhora, minha rainha, também tem algo a perder? — S/n perguntou cautelosamente, suas palavras carregadas de respeito, mas também de curiosidade.

Alicent deixou escapar um leve sorriso, mas não havia alegria nele.

— Todos têm algo a perder, Lady Stark. Alguns apenas perdem mais lentamente que os outros.

Houve um momento de silêncio pesado entre as duas, até que Alicent finalmente quebrou o contato visual, olhando para a escuridão dos corredores.

— Volte para seus aposentos, Lady Stark. A noite é longa, mas os dias em Porto Real podem ser ainda mais — disse Alicent, sua voz voltando ao tom formal.

S/n fez uma reverência profunda e se afastou, deixando Alicent sozinha em meio às sombras dos corredores. A rainha observou a jovem desaparecer na escuridão, sentindo uma onda de solidão esmagadora tomar conta de si.

Ela desejava, mais do que nunca, escapar das correntes que a prendiam àquela vida. Mas as amarras do dever e da lealdade eram pesadas demais para serem quebradas. Pelo menos, por enquanto.

Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)Onde histórias criam vida. Descubra agora