Espadas e sombras

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O castelo Red Keep, com suas torres altíssimas e muros imponentes, refletia a luz suave do amanhecer como um gigante silencioso. As pedras que formavam a fortaleza eram frias, guardiãs de segredos e conspirações que se acumulavam ali há gerações. Era nesse cenário que S/n tentava encontrar seu lugar, em meio ao jogo de poder que consumia cada canto da corte. O Red Keep não era apenas uma morada. Ele pulsava, respirava junto com os seus ocupantes, e cada passo dentro dele era um lembrete das incertezas e disputas constantes.

Após levantar-se, S/n sentiu a inquietação crescer. Desde que chegara a Porto Real, a sombra da disputa pelo trono se alongava cada vez mais, com Alicent e Rhaenyra em lados opostos, cada uma com suas próprias ambições e medos. No entanto, era o comportamento de Alicent que mais despertava a atenção de S/n. A rainha parecia estar sempre à beira de um abismo silencioso, presa entre os desejos de seu pai e as promessas vazias de um futuro que ela não controlava.

Caminhando pelos jardins, S/n se deixou perder por um momento na beleza simples do lugar. As flores ali floresciam apesar das intrigas, e o vento leve que soprava entre as folhas das árvores trazia uma sensação de paz rara no Red Keep. No entanto, ela sabia que essa serenidade era ilusória, e bastaria um único movimento errado para que tudo ruísse. S/n estava ciente de que precisava se mover com cautela, sempre observando, sempre ponderando.

Ao longe, no pátio de treinamento, ouviu o tilintar de espadas cruzando-se, o som característico de aço contra aço que sempre despertava seu interesse. Atraída pelo barulho, ela seguiu em direção à arena onde os jovens príncipes costumavam praticar. Foi então que avistou Joffrey Velaryon, filho de Rhaenyra, treinando ao lado de alguns cavaleiros. Seu porte era o de um garoto ainda aprendendo, mas a determinação em seus olhos revelava um desejo sincero de melhorar, de ser digno do nome Velaryon.

O príncipe estava concentrado, seus cachos prateados grudando na testa suada enquanto ele tentava, com esforço, acompanhar os movimentos rápidos dos soldados mais experientes. Era uma cena intrigante: ele não possuía ainda a força dos mais velhos, mas já exibia um talento natural, que se desenvolvia aos poucos com cada sessão de treinamento.

S/n se aproximou silenciosamente, observando com atenção. Joffrey a viu e, com um sorriso largo, largou a espada de madeira, correndo em sua direção.

— Lady S/n! — exclamou ele, os olhos brilhando de entusiasmo. — Está aqui para assistir ao meu treino?

S/n sorriu, gostando do jeito despretensioso do garoto. Em meio a tantas formalidades sufocantes na corte, a pureza e alegria juvenil de Joffrey eram um alívio.

— Estou — respondeu ela, com um tom leve. — E devo dizer que você está melhorando a cada dia, príncipe Joffrey.

Ele riu, esfregando a nuca de forma desajeitada, claramente lisonjeado.

— Ainda tenho muito o que aprender. Minha mãe insiste que eu treine todos os dias. Ela quer que eu esteja pronto, caso seja necessário defender nossa casa — disse ele, o sorriso diminuindo levemente, como se o peso das palavras o fizesse perceber a gravidade do mundo ao seu redor.

S/n notou a mudança em sua expressão. Por trás da fachada alegre, havia um jovem que, mesmo sem entender completamente, já sentia o impacto das guerras silenciosas que rondavam sua mãe. A tensão em Porto Real, a disputa pelo trono e os sussurros de traição eram palpáveis, mesmo para alguém da sua idade.

— Você é forte, Joffrey — disse S/n com suavidade. — Mas lembre-se de que nem todas as batalhas são vencidas com espadas. Muitas vezes, a sabedoria e o coração são nossas melhores armas.

O garoto inclinou a cabeça, absorvendo suas palavras com um olhar sério. Ele queria entender, queria ser forte, mas a inocência da juventude ainda estava presente, tornando-o vulnerável a um mundo que esperava muito dele.

— E você? — ele perguntou, mudando de assunto. — Como está se adaptando a Porto Real?

S/n riu baixo, cruzando os braços enquanto olhava ao redor.

— Estou aprendendo, devagar. Esta corte tem seus desafios, mas também... aliados inesperados. — Ela lançou um olhar significativo para Joffrey, que sorriu timidamente. — E tenho a sorte de ter amigos como você para me guiar.

Antes que ele pudesse responder, uma figura conhecida se aproximou com passos graciosos, porém firmes. Rhaenyra apareceu no jardim, sua presença irradiando autoridade, embora seu olhar fosse suave ao repousar sobre Joffrey e S/n. Ela era uma figura imponente, mas seu amor pelos filhos era claro como o dia.

— Meu filho, treinando duro, como sempre? — perguntou Rhaenyra, sua voz carregada de uma ternura rara de se ver em sua postura usual de princesa herdeira.

Joffrey sorriu para sua mãe e assentiu, o orgulho evidente em seus olhos. Rhaenyra, por mais que estivesse atolada em disputas políticas e preocupações com a sucessão, parecia sempre encontrar tempo para demonstrar afeição por seus filhos. S/n observou a interação com curiosidade, sentindo o peso das responsabilidades que recaíam sobre Rhaenyra, que lutava diariamente pelo trono que lhe pertencia por direito.

— Você tem uma mãe forte, Joffrey — comentou S/n, observando os traços firmes de Rhaenyra, seu olhar sempre focado. — E isso faz de você alguém igualmente forte.

O príncipe lançou um olhar de admiração à mãe, mas a paz do momento foi quebrada por outro conjunto de passos, desta vez mais pesados. Alicent entrou no campo de visão, seu manto verde profundo ondulando atrás de si como uma sombra. Seus olhos avaliavam o ambiente com frieza e cansaço. Havia uma amargura crescente na rainha, que parecia estar constantemente em conflito consigo mesma, carregando o fardo de viver à sombra dos planos de Otto Hightower.

A tensão no ar ficou palpável. O silêncio entre Alicent e Rhaenyra era um campo de batalha invisível, e S/n pôde sentir o peso das coisas não ditas entre as duas mulheres.

— Vejo que o treinamento está sendo bem aproveitado, Joffrey — Alicent falou, sua voz fria e carregada de formalidade. — Espero que esteja preparado para o que está por vir.

Joffrey assentiu, mas o olhar da rainha rapidamente se desviou para S/n. A rainha parecia mais sombria, os olhos cansados de tantos anos de submissão às vontades de seu pai e ao peso do trono que ela nunca quis de verdade.

— Lady S/n, já começou a entender como funcionam as coisas em Porto Real? — Alicent perguntou com um tom que não trazia apenas curiosidade, mas uma nota de advertência.

S/n sustentou o olhar de Alicent, sentindo o peso da pergunta. Ela sabia o que a rainha realmente queria dizer: sobreviver em Porto Real não era apenas sobre aprender as regras, mas sobre dominá-las antes que alguém as usasse contra você.

— Estou aprendendo, rainha Alicent — respondeu S/n com diplomacia. — E espero estar à altura do desafio.

O olhar de Alicent se estreitou levemente, como se ela avaliasse cada palavra dita. Havia um conflito interno nela, algo que S/n ainda não conseguia entender completamente, mas sabia que a rainha carregava mais do que apenas o peso do trono. Alicent estava exausta de viver à sombra dos outros, principalmente de seu pai, Otto, e de seu marido moribundo, o rei Viserys. Ela sabia que a guerra pelo trono era iminente, e seu papel, ainda que não completamente revelado, seria vital.

Rhaenyra, sempre observadora, percebeu o desconforto de S/n e, com um leve sorriso, disse:

— A corte nunca é fácil, mas você está se saindo bem. Aliados são preciosos aqui, Lady S/n, nunca se esqueça disso.

A mensagem era clara. Aliados, em Porto Real, eram mais valiosos que ouro. E talvez, ao se aproximar de Joffrey e ganhar sua confiança, S/n estivesse construindo sua própria rede de apoio em meio ao caos iminente.

Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)Onde histórias criam vida. Descubra agora