Os traços de antigas manipulações

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Rhaenyra acordou antes do habitual, determinada a começar o dia de maneira diferente. Queria tempo para chamar S/n e garantir que compartilhassem o café da manhã juntas, um momento que, agora, parecia mais significativo após os eventos dos últimos dias. Assim que S/n chegou à mesa, a atmosfera estava leve, com conversas suaves e uma leve tensão no ar, mas nada desconfortável. Alicent logo se juntou a elas, trazendo Haelena e a pequena Rhaens.

Rhaenyra observava com um olhar afetuoso enquanto Haelena e Rhaens conversavam animadamente sobre o que as aguardava na escola. S/n, mesmo ocupada com seus pensamentos, sorria de vez em quando, sem perceber que, em certos momentos, Rhaenyra trocava olhares divertidos com Alicent, cujo rosto estava marcado pela tensão visível de estar na presença das duas. Alicent, com o semblante mais rígido, evitava olhar diretamente para a rainha.

Quando Haelena e a sobrinha saíram juntas para a escola, o clima mudou sutilmente. S/n logo se levantou para seguir com suas tarefas do dia, deixando Rhaenyra e Alicent sozinhas na mesa. O silêncio que se instalou era denso, e Alicent, claramente desconfortável, tentou terminar sua refeição rapidamente, com o objetivo claro de se retirar. Mas, antes que pudesse escapar, Rhaenyra a interrompeu com um tom calmo, mas firme.

— Vai continuar fugindo de mim para sempre, Alicent? — Rhaenyra perguntou, inclinando-se levemente para frente, o olhar fixo na outra mulher. Embora houvesse diversão em suas palavras, seu rosto mantinha uma seriedade controlada, o que deixava Alicent ainda mais inquieta.

Alicent parou, apertando os lábios, e por fim respondeu, nervosa. — Eu... não estou fugindo, Rhaenyra. Mas... nós não deveríamos... — Alicent parecia lutar para encontrar as palavras certas, os olhos baixos. — A fé dos Sete... considera pecado... isso que você insinua. Eu sou viúva do seu pai. Não podemos... ceder a tentações.

Rhaenyra suspirou, vendo a rigidez de Alicent e entendendo que precisariam de uma conversa longe dos olhares curiosos da corte. Decidiu, então, adotar um tom mais sério e sereno, como se quisesse romper a barreira que Alicent ainda insistia em manter.

— Vamos falar sobre isso em um lugar mais privado — disse Rhaenyra, se levantando e fazendo um gesto para Alicent segui-la.

Alicent, hesitante, a seguiu em silêncio, seus passos denunciando a mistura de nervosismo e confusão que a consumia. Ela sabia que Rhaenyra não deixaria esse assunto morrer facilmente, e algo em seu coração lhe dizia que, quanto mais tentava fugir, mais ficava presa a esse laço inquebrável. Rhaenyra guiou Alicent para uma pequena sala longe do salão principal, onde poderiam falar sem interrupções.

Ao entrar, Rhaenyra fechou a porta e se voltou para Alicent, que evitava seu olhar, de pé no meio da sala, rígida como uma estátua. — Isso não é sobre tentações, Alicent — Rhaenyra começou, sua voz mais calma agora. — E não tem nada a ver com os Sete ou com o passado. É sobre você e eu, aqui, agora.

Rhaenyra, firme, continuou a conversa, aproximando-se de Alicent com um olhar decidido. — Está na hora de você se libertar, Alicent. — A rainha disse, sua voz grave, mas com uma suavidade que mostrava o quanto se importava. — Desde que você era jovem, Otto enfiou essas crenças na sua cabeça. Mas os Deuses... eles não vão te condenar por sentir. Não importa se é por homens ou por mulheres. Sentir não é pecado.

Alicent respirou fundo, seu coração acelerado. Era como se cada palavra de Rhaenyra perfurasse uma parede que ela mesma havia construído por tanto tempo. Ela ainda evitava o olhar da rainha, mas sabia que não poderia fugir do que estava ouvindo.

Rhaenyra, sua presença dominando o pequeno espaço. — Eu sei que não podemos escancarar o que há entre nós — disse, sua voz suave, mas carregada de uma certeza inabalável. — Mas isso não significa que seja errado. Apenas significa que a religião, as crenças... foram manipuladas pelos homens para controlar mulheres como nós. Sempre foi assim. Daemon me disse isso muitas vezes, quando ainda éramos casados.

Corações Em Conflito (Rhaenyra, Alicent e S/N)Onde histórias criam vida. Descubra agora