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CHRISTOPHER

— Já terminei de arrumar minhas coisas — falou Dul, encostada no portal do meu escritório.

Eu já havia me acostumado a vê-la daquele jeito, pois ela adorava me observar quando eu estava distraído com o trabalho, algo que aconteceu bastante naquela semana, já que cancelei alguns compromissos para ficar com ela e isso me obrigou a trabalhar no escritório da cobertura.

Alguns diriam que, uma vez que eu teria que trabalhar, era melhor estar na empresa, com minha secretária e assistente apostos para ajudar no que precisasse. Mas era totalmente diferente. Saber que minha garota estava a poucas portas de mim, me distraía, mas também fazia as coisas fluírem com mais facilidade e eu me estressava menos.

A verdade era que passar esses dias com Dul estava sendo maravilhoso, ela me deixava tão leve e bem-humorado.

Toda essa mudança em minha rotina despertou a insatisfação, não só de Anahí, mas dos que trabalhavam em prol da minha campanha. Natália e Allen, por exemplo, não falavam muito, mas sempre que me procuravam e não me achavam no escritório, ficavam visivelmente irritados.

Tinha certeza de que todos estavam rezando para a semana acabar, já que Dul iria embora e eu voltaria ao normal.

Ao menos foi o que Poncho os escutou dizendo.

Todos achavam uma loucura estar me relacionando com uma garota tão nova e tão diferente do tipo que haviam idealizado para mim.

Eu, no entanto, não enxergava as coisas por esse lado. Acreditava que com uma boa conversa com o setor estrategista, as coisas poderiam virar a nosso favor. Afinal, Dul era educada e doce, sem contar o trabalho voluntário que fazia junto ao orfanato muito antes de me conhecer...

Os americanos adoravam esse tipo de história meio 'conto de fadas' e estava certo que com boas jogadas de marketing, conseguiríamos fazê-los enxergá-la da mesma forma que eu.

— Venha aqui — pedi.

Saber que o dia de sua partida havia chegado, deixava-me triste, desconfortável. Especialmente porque eu não poderia acompanhá-la ao aeroporto e ela não poderia ir no dia seguinte, já que coincidiria com a chegada de sua mãe, que voltaria das Maldivas.

Dul fez como pedi e caminhou em minha direção. Encontrava-se descalça, com os cabelos úmidos do banho e, se estivesse com sorte, nua por baixo daquele roupão.

Ela se sentou no meu colo, como fazia todas as vez e me beijou com extremo carinho. Mas antes que as coisas avançassem, levantou-se e falou:

— Precisamos conversar.

Franzi o cenho. Dul não era o tipo de mulher chata que ficava cobrando tempo ou explicações, então imaginei que deveria ser algo importante.

— Claro, estou ouvindo — garanti enquanto ela se sentava em uma das cadeiras em frente à minha mesa.

— Você está sabendo da visita que Anahí e Natália me fizeram essa semana?

— Como é?

— Pelo visto, não. Bom, elas apareceram aqui na terça à tarde querendo que eu assinasse um Contrato de Confidencialidade.

Fechei os olhos e torci a boca em desprezo.

— Eu não tinha ideia — afirmei, já morto de raiva.

— Pois é, elas insistiram que eu assinasse os papéis, pois era assim que você fazia com todas as mulheres com quem ficava. Quando me recusei, as duas tentaram me convencer de que se perdesse as eleições, seria por minha causa e você jamais me perdoaria caso isso acontecesse.

O políticoOnde histórias criam vida. Descubra agora