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DULCE MARIA

– Você é mesmo uma vadia, foi só falar que Christopher a estava esperando que veio correndo feito uma cadela – Natália despejou, cheia de ódio.

– Natália eu sei que você está com raiva porque ele desistiu da reeleição, mas eu juro que não tenho nada a ver com isso.

– Eu sei que não, só que era óbvio que quando vocês se reencontrassem ele voltaria a ser o mesmo tolo de sempre. Mas depois eu cuido disso, agora a conversa é com você.

– Eu não tenho nada para falar com você – falei e lhe dei as costas.

Mas quando cheguei à porta, ela estava trancada.

– Que diabos está acontecendo aqui? Porque esta porta está trancada?

Natália me encarou com um ar calmo e cínico e caminhou pela sala.

– Sabe, Dul, eu pensei muito antes de entrar aqui, porque existem coisas que não têm mais volta, então eu pensei, pensei e pensei...

O tom que ela usava me dava arrepios.

– O que você quer? – perguntei para ver se me livrava daquilo logo.

– De você, sinceramente, nada. Christopher acabou de falar para todos os seus apoiadores e patrocinadores que não vai mais concorrer à reeleição, que não quer mais ser presidente. Pode haver absurdo maior, ainda mais vindo do candidato com mais chances?

– Já falei que a culpa não é minha.

– Você deve estar radiante. Em poucas semanas conseguiu destruir tudo pelo que batalhei durante anos.

– Eu não pedi para ele desistir! – falei um pouco mais alto, aquela conversa já estava me enchendo.

Ela soltou uma risada.

– Nem precisou, Christopher sempre foi um todo quando se tratava de você, imagine quando apareceu com um filho nos braços.

– Natália, eu sei que gosta desse mundo, mas talvez Christopher queira aproveitar o filho agora. A carreira política dele talvez tenha acabado, mas o casamento de vocês, não – tentei amenizar a situação, para acalmá-la, mas ela gargalhou novamente.

– Não seja idiota; Christopher Uckermann, sem o título de presidente, não serve de nada para mim.

Suas palavras eram rancorosas, cheias de ódio, amargura, como se, mesmo tendo conseguido o que queria, aquele casamento fosse um fardo.

– Se não o ama, por que está tão revoltada? – Me fiz de desentendida, querendo entender como ela pensava.

Natália balançou a cabeça de um lado para o outro e depois olhou no fundo dos meus olhos.

– Você nunca vai entender o prestígio de ser a primeira-dama do país mais poderoso e cobiçado do mundo, então, não adianta tentar explicar.

Natália não estava triste por perder Christopher ou o casamento, mas sim pelo fato de não ser mais primeira-dama, isso aliviou absurdamente a culpa que eu sentia por ter transado com ele aquela noite.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, uma avaliando a outra. Natália foi a primeira a desviar o olhar. Ela caminhou até um armário e tirou uma sacola de lá.

– Sabe, Dul, eu tinha pensado em me livrar de você de uma forma bem drástica, mas conversando com um amigo, acabei descobrindo que existem maneiras bem rápidas e eficientes de se matar uma pessoa.

A determinação com que falou aquilo, deixou evidente que eu não sairia viva dali.

Em um segundo, tudo começou a fazer sentido, e uma das suspeitas que tive quatro anos atrás voltou com tudo. A pessoa que mais se beneficiaria com minha partida seria Natália. Eu já sabia naquela época, mas não imaginava que ela fosse tão monstruosa quanto estava se revelando.

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