DULCE MARIA
Este solário é maravilhoso, pensei comigo mesma pelo que devia ser a milésima vez desde que me mudei para aquela casa.
Com suas paredes de vidro, era o espaço ideal para o meu ateliê, uma vez que recebia a luz do sol por todos os cantos. De lá, eu tinha vista para o lago, para o pequeno aglomerado de árvores que circundava um dos lados da propriedade e para o belo jardim que cercava a casa.
A luz era perfeita, a vista era inspiradora e ali eu criei belas pinturas. Como a que estava finalizando naquele momento.
Era provável que quem a olhasse pela primeira vez, achasse perfeita, mas eu sabia que não estava pronta; apesar de linda, sentia que faltava alguma coisa.
– Nossa, essa ficou incrível – Maite elogiou ao entrar.
Apenas nesta hora olhei para fora e percebi que o dia já estava indo embora.
– Obrigada, mas ainda não está acabada.
– Sim, talvez falte aquele toque "Dul", mas está linda – falou, indo de acordo com meus pensamentos.
Ela tinha aprendido tanto a respeito de arte, que já adquira a sensibilidade apurada que só os grandes apreciadores possuíam.
– Sim, falta apenas descobrir o quê – respondi, desanimada, e quando me virei, vi que ela havia montado a mesa para lancharmos, um convite claro para que eu desse um tempo.
– Mais um movito para você vir aqui, tomar um café, comer alguma coisa e relaxar, assim vai ter mais inspiração para perceber o que falta – falou, enchendo minha xícara.
– Tudo bem, mas não posso me demorar, prometi entregá-la a John amanhã. Não sei a que horas ele vem, mas quero terminar logo – falei, enquanto deixava minhas coisas sobre a mesa de trabalho e ia ao banheiro anexo lavar as mãos.
– Você ainda tem dúvidas da hora em que ele vai aparecer? – perguntou ela em tom de zombaria quando me sentei.
– Não, nenhuma – respondi e ambas rimos.
John Kent era um marchand, superelegante, que ficou encantado com minhas obras quando, por intermédio de Maite, teve acesso ao meu portfólio. Apesar de ser um homem sofisticado, ele amava uma comida caseira, especialmente dos bolos e do café que eram servidos em nosso desjejum. Desconfiava até que sempre marcava suas visitas no primeiro horário para poder desfrutar das delícias que Consuelo fazia.
E ela adorava, aliás, todos nós o apreciávamos muito, afinal, foi ele que, sem saber, nos ajudou a dar a volta por cima. Primeiro ao dar emprego a uma garota latina e meio doidinha que não entendia nada de arte, depois, quando começou a vender meus quadros. Mas a ajuda mais surpreendente e bem-vinda veio quando me propôs uma sociedade na pequena galeria que possuía.
No dia em que ele chegou à nossa casa dizendo que sua nova secretária o havia mandado para ver meus quadros, eu quis matar Maite. Tinha acabado de dar a luz e um pouco da depressão que havia ido embora, acabara por voltar, deixando-me supersensível e, consequentemente, bastante insegura.
Ao me ver, tudo o que havia pintado desde que chegara ali refletia a tristeza que estava sentindo e duvidava que fosse agradar alguém.
Mas foi exatamente o contrário. John adorou o que viu e após uma longa conversa, descobrimos uma grande afinidade, tanto em nível pessoal como no que se referia a arte. Naquele dia ele já saiu dali com três quadros que em pouco tempo haviam sido vendidos.
Alguns meses depois, quando eu já estava bem, ele me surpreendeu ao perguntar se eu não gostaria de me tornar sua sócia.
Apesar de ter ficado muito empolgada, pedi um tempo para lhe dar uma resposta e fui falar com Joseph que imediatamente mandou investigar para ver se havia algum problema com Kent ou a empresa. Como estava tudo bem e minha família me incentivou, eu aceitei, mas estipulei algumas regras.
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O político
RomanceChristopher Uckermann foi criado em um ambiente de luxo, riqueza e poder, típico da família Uckermann, famosa pela gestão da maior fábrica de armas do mundo e pela beleza que atravessa gerações. Desde cedo, ele se interessou por política, e seus pas...