30

58 7 1
                                    

DULCE MARIA


Eu não dormi quase nada e essas poucas horas de descanso serviram apenas para ampliar a miríade de sentimentos que havia tomado conta de mim.

Jamais poderia imaginar que me envolver com Christopher causaria esse tipo de reação nas pessoas que viviam fora da nossa bolha. Nunca passou pela minha cabeça que existiria um interesse tão forte por parte das pessoas envolvidas em sua candidatura, que justificasse o horror que fizeram à minha amiga.

Eles a ameaçaram de morte, pelo amor de Deus! Tudo por causa de poder.

Enquanto escutava a voz modificada daquele homem, eu me senti dentro de um filme cheio de conspirações, onde inimigo está bem ao nosso lado.

Foi por causa disso que o nome de Anahí me ocorreu por várias vezes desde aquele telefonema, contudo, a assessora era transparente demais e alguma coisa me dizia que ela não iria tão longe apenas para me afastar de Christopher.

Mas, se não era Anahí, quem seria?

Essa dúvida continuou me atormentando durante minha higiene e também enquanto eu trocava de roupa e descia as escadas, bocejando de sono.

Pretendia ir ver Maite imediatamente, mas quando passei pela cozinha, notei que Consuelo ainda não havia preparado o café da bruxa, provavelmente por ter ficado cuidando da filha.

Para evitar um escândalo logo de manhã, fiz seus ovos mexidos, depois coloquei sua cápsula preferida na cafeteira enquanto cortava algumas frutas, isso era tudo o que ela comia no desjejum.

Estava quase terminando de montar a bandeja quando Consuelo apareceu, toda esbaforida.

— Ah, Dul, obrigada, fui dormir tão tarde que acabei perdendo a hora e ainda precisava fazer os curativos de Mai — explicou, dando um beijo em minha testa. Depois foi colocar o avental que fazia parte de seu uniforme, afinal, tinha que estar impecável na frente da patroa.

— Como ela está? — perguntei e me esforcei para não chorar ao me lembrar que tudo o que aconteceu com ela foi por causa de mim.

— Acordou melhor do que eu esperava e já pediu por você; vai lá que eu termino aqui.

Foi o que fiz. Quando entrei na casa de hóspedes, Maite estava sentada no sofá vendo TV, mas se virou e deu um leve sorriso ao me ver.

— Ah, Maite — falei ao ver seu rosto. À luz do dia, o aspecto era muito pior e fez eu me sentir ainda mais culpada.

— Ei, está tudo bem — falou quando me sentei ao seu lado e ela viu meus olhos marejados. — Sou durona, vou sobreviver — completou, tentando encostar o ombro no meu, mas acabou fazendo uma careta de dor.

— Eu sinto tanto que tenha passado por isso. Foi tudo culpa minha — falei, sem conseguir me conter.

— Você já está sabendo, então — concluiu ela, pegando minha mão numa tentativa de me confortar.

— O quê? Como assim? — perguntei, sem entender. Ela me encarou e depois de um longo suspiro, falou:

— Enquanto me batiam, os caras que me arrastaram para aquele beco deixaram bem claro que eu estava apanhando por que "minha amiga" havia se metido onde não devia. Claro que no início eu não entendi nada e disse que eles tinham pegado a pessoa errada, mas então eles citaram os nomes dos meus pais e a cada soco ou pontapé que me davam, falavam que na próxima vez seria a mamãe no meu lugar e depois o papai e, por último, você. Disseram também que na vez de vocês, os chutes não seriam dados nos quadris e sim nas costelas. Quando ficaram satisfeitos, falaram para lhe dizer que terminasse com Christopher Uckermann, ou eles voltariam.

O políticoOnde histórias criam vida. Descubra agora