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DULCE MARIA

– E, contra todas as minhas expectativas, ele disse que iria ajudar – expliquei a Maite, que abriu um amplo sorriso.

Como não tinha podido ficar com Dan, que fora transferido para a UTI, ela e seus pais já estavam em nossa casa.

Claro que sua vontade era ficar ali, conosco, mas o hospital não permitiria que ninguém recebesse visitas às 10h30 da noite, por causa disso, minha amiga teve que se contentar com uma chamda de vídeo.

E já estávamos nisso há quarenta minutos, eu na poltrona do quarto, ela, em sua cama, querendo saber absolutamente tudo o que eu e Christopher conversamos, desde o nosso encontro naquela tarde, até o telefonema que eu recebera dele duas horas atrás.

Devo confessar que ainda estava um pouco comovida com isso.

Quando liguei para Rafael, tinha esperanças de que ele conseguisse falar com o irmão, mas minha fé acabava aí.

Pelo fato de o teste de DNA ainda não estar pronto, achei que Christopher ficaria relutante. Mas, não, apenas aceitou o que eu disse e ofereceu ajuda. E, para mim, ele não poderia ter feito nada melhor, pois somente quem era mãe conseguia entender a dor que eu estava sentindo por saber que tudo o que meu filho sofreu, pode ter sido por causa da ambição de pessoas inescrupulosas e que ainda havia o risco de esses desalmados tentarem de novo. Tudo isso me deixava desesperada.

Tá, mas e aí? – Maite perguntou, interrompendo minhas divagações.

– E aí, nada. Ele vai garantir a segurança de Lucas, mas não acho que irá se aproximar até que esteja com a comprovação da paternidade na mão – respondi e a ouvi reclamar do outro lado.

Bastaria olhar para Lucas que ele veria as semelhanças. Mas só de estar disposto a proteger nosso menino, já basta. Por enquanto – acrescentou ela, após bocejar pela terceira vez, o que me fez obrigá-la a encerrar a chamada.

Todos estávamos passando por um grande estresse, então, seria bom se conseguíssemos descansar um pouco.

Deixando o celular de lado, voltei minha atenção ao meu filho e senti uma vontade enorme de chorar, colocar para fora a dor que afligia sempre que olhava para ele.

Ele estava pálido, com olheiras e mesmo por baixo do curativo, dava para ver um hematoma se formando em sua testa.

Não consegui segurar as lágrimas ao pensar que ele poderia ter morrido, por isso, apesar de estar penalizada, eu agradeci a Deus por não ter me tirado a única coisa de valor que eu tinha naquela vida.

Com medo que Lucas acordasse de repente e me visse daquele jeito, obriguei-me a me recompor, não deixaria aquela energia melancólica tomar conta de mim. Aquele garotinho inocente tinha que sentir que a mãe dele era forte, que ela sempre estaria ali por ele.

Fui até o banheiro para lavar o rosto e quando estava saindo, vi a porta se abrir.

– Srta. Espinosa, nós recebemos ordem de liberar os corredores do andar e preciso que permaneça dentro do quarto pela próxima meia hora, tudo bem? – pediu Diane, a enfermeira da noite, uma moça muito simpática e prestativa.

– Não pretendo sair – afirmei.

Ela assentiu com um sorriso e fechou a porta.

Voltei a me sentar perto de Lucas e peguei o celular, apenas para ver que havia duas chamadas não atendidas de Rafael.

Embora parecesse chocado e curioso quando lhe fiz um resumo do que aconteceu, ele não fez perguntas, apenas disse que daria um jeito de falar com o irmão. Mas eu devia ter adivinhado que não se contentaria apenas com as parcas informações que lhe dei.

O políticoOnde histórias criam vida. Descubra agora