A festa tinha sido uma explosão de risadas e música alta, mas agora tudo o que eu queria era o silêncio e a paz da casa dos meus pais. O ar fresco da noite me envolveu enquanto eu deixava o carro estacionado e caminhava em direção à porta. Já era tarde, e o brilho das luzes da festa ainda dançava em minha mente. Tentei me lembrar de cada risada, cada conversa, mas a verdade é que, enquanto mais eu bebia, mais eu me sentia distante.
Ao abrir a porta, o silêncio que tomou conta da casa foi quase ensurdecedor. Era como se o mundo exterior tivesse desaparecido, e a única coisa que restava era o eco dos meus próprios passos. Já se passava das 11 da noite, e eu deduzi que todos já estavam deitados, incluindo Olívia e seus pais, que estavam ali de férias, aproveitando o tempo em família. A ideia de que ela estava tão perto, mas ainda assim tão distante, me causou um misto de emoções.
Com cuidado, subi as escadas, tentando não fazer barulho. O último que eu queria era acordar alguém. Cada degrau parecia um desafio, e eu me esforcei para não tropeçar. A casa estava estranhamente vazia, e a paz que emanava dela era reconfortante, mas também trazia à tona um vazio que eu não conseguia ignorar.
Ao chegar ao meu quarto, empurrei a porta lentamente, sentindo o cheiro familiar de madeira e roupa limpa. O espaço era meu refúgio, mas, naquela noite, ele parecia mais solitário do que nunca. Eu queria apenas me jogar na cama e deixar a bebida me levar para um lugar onde eu não precisasse pensar, mas, em vez disso, sentei-me na beirada, com a cabeça cheia de imagens da festa e de Olívia.
Os momentos que passamos juntos ainda estavam frescos na memória, e a visão dela sempre provocava um turbilhão em mim. Como se ela estivesse lá na casa dos meus pais e, ainda assim, tão longe. O que ela estava pensando agora? Será que ela ainda se lembrava de nós? Das conversas que tivemos, da tensão que parecia pairar entre nós?
E por que ela não saía da minha mente? A verdade era que, mesmo após tanto tempo afastados, eu não conseguia tirar Olívia do meu coração. Era como se cada risada, cada olhar que trocamos estivesse gravado em mim, e quanto mais eu tentava esquecê-la, mais eu me lembrava. O que eu realmente sentia por ela? Era confuso, e a bebida só deixava tudo ainda mais nebuloso.
Fechei os olhos por um instante, tentando afastar as dúvidas que pairavam em minha mente. Um leve som vindo da cozinha me tirou dos meus pensamentos, e, por um momento, pensei em me levantar para verificar. Mas o cansaço tomou conta de mim, e, em vez disso, eu deixei que a embriaguez me envolvesse.
Permaneci sentado ali, perdido em meus próprios pensamentos, sem saber que o que eu realmente precisava era enfrentar essa confusão que estava crescendo dentro de mim. A casa estava em silêncio, mas dentro de mim havia um tumulto que não ia embora. E enquanto eu olhava pela janela, desejando que a noite trouxesse alguma clareza, percebi que, mesmo em meio ao silêncio, as memórias de Olívia continuavam a me assombrar.
Tirei a camisa, jogando-a para o lado, e decidi que uma ducha fria poderia ajudar a clarear a mente. Uma água gelada do chuveiro talvez me desse o alívio que eu precisava, uma chance de deixar as preocupações e a confusão que Olívia causava na minha cabeça pelo ralo.
Entrei no banheiro e liguei o chuveiro, sentindo o jato gelado escorrer pelo meu corpo. A água me despertou um pouco, e enquanto o frio me envolvia, tentei me concentrar, buscando resolver essa tempestade de sentimentos que não me deixava em paz. A água escorria, e eu me perguntava como havia chegado a esse ponto, preso em um labirinto de emoções.
Depois de alguns minutos, desliguei o chuveiro e saí, meus cabelos desgrenhados pingando enquanto eu vestia apenas uma calça de moletom cinza. O frescor da água ainda me deixava alerta, mas, por dentro, a confusão permanecia. Ao abrir a porta do meu quarto, uma luz suave do corredor iluminou o espaço.
Foi quando a vi. Olívia estava prestes a entrar, e, por um breve momento, o mundo ao meu redor pareceu parar. Ela estava tão próxima, e o simples fato de vê-la causou um turbilhão de emoções.
— Olívia! — Chamei, a voz saindo quase em um sussurro.
Ela parou, seus olhos se encontrando com os meus, e naquele instante, toda a confusão e os sentimentos que eu tentava ignorar retornaram com força total.
— Ai! Você me assustou! — Disse ela, colocando a mão no peito, e eu pude notar a leveza do seu tom, quase como se tentasse disfarçar o nervosismo.
— Desculpe! — Respondi, tentando disfarçar o meu próprio constrangimento. — Eu só estava indo beber água.
Ela parecia hesitar, olhando ao redor do corredor, como se estivesse avaliando a situação antes de decidir se deveria entrar ou não. Então, sem dizer mais nada, ela começou a entrar no seu quarto, mas eu a chamei novamente.
— Olívia, espera! — A minha voz saiu mais urgente do que eu pretendia.
Ela parou e virou-se. Fiquei parado na porta, encarando-a, os nossos olhares se encontrando. A tensão no ar era palpável.
— Está tudo bem com você? — Perguntou ela, a voz mais suave agora, quase um sussurro.
A proximidade dela me deixava atordoado, e todas as dúvidas e sentimentos que eu tentava ignorar começaram a ressurgir com força. O que eu realmente sentia por Olívia? Como eu poderia explicar isso, se nem mesmo eu conseguia entender?
— Estou... tentando ficar bem — Respondi, a sinceridade em minha voz.
Ela não desviou o olhar, e o silêncio entre nós parecia mais intenso do que nunca. Era como se o tempo tivesse parado, e, naquele momento, tudo o que importava era a conexão que havia entre nós. As palavras não saíam, mas eu sabia que havia muito a ser dito.
— E, quanto você bebeu?
— O suficiente para não conseguir tirar você dos meus pensamentos — Falei, a verdade escapando antes que eu pudesse pensar melhor.
A confusão cruzou o rosto dela, e percebi que a frase a pegou de surpresa. Ela hesitou, parecendo não saber o que responder. O nervosismo dela era palpável, e eu não conseguia deixar de notar como seus dedos se moviam inquietos ao longo da borda da porta.
— Ah... — Foi tudo o que conseguiu dizer, antes de se oferecer. — Posso ir buscar um copo d'água para você, se quiser.
— Aceito, por favor — Respondi, sentindo uma mistura de alívio e expectativa ao ver que ela estava disposta a ficar um pouco mais.
Enquanto ela se afastava, a tensão no ar não se dissipava, mas havia uma sensação de que talvez, só talvez, essa conversa pudesse nos levar a um lugar mais claro. Eu a observava, notando cada pequeno detalhe — o jeito que seus cabelos caíam sobre os ombros, a forma como ela mordeu o lábio antes de se afastar.
E, enquanto esperava, percebi que aquela era a primeira vez em muito tempo que me sentia tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão disposto a enfrentar os sentimentos que eu tinha por ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além do laço de Sangue
RomanceOlivia e Nicholas sempre tiveram uma conexão especial. Desde crianças, passavam as férias de verão juntos na casa dos avós, correndo pelo quintal, rindo de piadas bobas e explorando o mundo ao seu redor. Com o tempo, aquela amizade inocente foi ganh...