Além do laço de Sangue

Chapter 19

Era uma típica manhã de domingo, e o som do riso e das conversas preenchia o ar. O sol brilhava intensamente, aquecendo a pele, e eu estava deitada em uma espreguiçadeira ao lado da piscina, aproveitando o calor. Usava meu biquíni novo, que combinava perfeitamente com a saída de praia esvoaçante que tinha escolhido para o dia. A sensação do sol sobre a minha pele era revigorante, e eu respirava fundo, tentando relaxar.

À minha volta, a movimentação era tranquila, quase reconfortante. O aroma do churrasco que meu pai e tio Thomas estavam preparando se misturava ao ar, prometendo um delicioso almoço em breve. Eles riam e conversavam, trocando piadas e histórias como de costume enquanto viravam as carnes na grelha. O som familiar dos risos deles sempre me fazia sentir em casa, como se tudo estivesse no lugar certo.

Do outro lado do jardim, minha mãe e tia Grace estavam concentradas em montar uma mesa cheia de saladas frescas e acompanhamentos. Elas conversavam baixo, ocasionalmente trocando olhares cúmplices e sorrindo. A organização delas era impecável, e eu sabia que, em breve, tudo estaria perfeito.

Eu tentava me concentrar apenas no som das vozes, no barulho suave da água da piscina e na brisa leve que balançava levemente as folhas ao redor. Era um daqueles dias perfeitos para não fazer nada além de curtir o momento, mas minha mente insistia em vagar. E, como sempre, acabava parando em Nicholas.

Ele ainda não tinha aparecido no jardim, o que era estranho. Normalmente, ele estaria ali, mas, eu o conhecia o suficiente para saber que ele estava evitando a confusão em volta da churrasqueira, talvez para não ser colocado para ajudar.

Ainda assim, a ausência dele me incomodava de uma forma que eu não queria admitir. Fechei os olhos, tentando afastar esse pensamento, mas não foi fácil. Afinal, depois da nossa conversa ontem, as coisas ainda pareciam um pouco... diferentes. Apesar de termos concordado em reatar nossa amizade, uma parte de mim ainda estava insegura sobre como isso realmente funcionaria. 

Respirei fundo e me virei na espreguiçadeira, tentando deixar essas preocupações de lado. "Vamos aproveitar o momento", pensei. E assim, fiquei ali, deixando o sol me aquecer enquanto os sons da minha família ao fundo me faziam sentir que, pelo menos naquele instante, tudo estava bem.

O calor do sol, o som suave da água da piscina e as vozes ao fundo me embalaram de uma forma inesperada. Sem perceber, acabei pegando no sono, o corpo relaxando completamente na espreguiçadeira. Estava tão confortável que não senti o tempo passar, até ser suavemente despertada por uma sensação morna e reconfortante nas costas.

Um toque leve e cuidadoso.

Abri os olhos devagar, piscando contra a luz do sol, e percebi que Nicholas estava ao meu lado. Sua mão roçava suavemente minhas costas, e, ao notar que eu estava acordando, ele a retirou rapidamente, parecendo um pouco sem graça.

— Olivia... — Ele disse em um tom baixo, quase tímido, seus dedos agora longe da minha pele, como se estivesse incerto se deveria ter me acordado dessa maneira. — Desculpa, mas o almoço está pronto. Achei que você não quisesse perder.

Me virei para olhá-lo melhor, ainda sentindo o calor residual do toque dele nas minhas costas. Era uma sensação inesperadamente boa, algo suave e tranquilizador. Uma parte de mim se sentiu estranhamente protegida, como se o simples toque dele tivesse o poder de acalmar qualquer pensamento inquieto.

Nicholas parecia estar meio desconfortável com o momento, mexendo os pés no chão de forma nervosa. Eu, por outro lado, tentei não transparecer muito do que senti, embora ainda houvesse uma ligeira sensação de calor em mim.

— Obrigada por me acordar — Respondi, me espreguiçando ligeiramente antes de me sentar. — Acho que relaxei demais.

— Nem me diga... — Ele riu, mas parecia um pouco forçado, como se quisesse quebrar o momento estranho. — Mas vem, o churrasco está te esperando.

Assenti, me levantando devagar. Enquanto ele me acompanhava até a mesa, não pude evitar sentir que algo estava diferente. Não sabia se era pelo toque, ou pela maneira como ele tentou disfarçar o embaraço, mas uma parte de mim não conseguia deixar de pensar no quanto sua presença me fazia sentir bem. Mesmo que tentasse ignorar, havia algo ali, uma conexão que, por mais que tentasse evitar, parecia estar sempre presente, latente.

O almoço foi agradável, e o aroma do churrasco que meu pai e tio Thomas prepararam não decepcionou. Estávamos todos ao redor da mesa, saboreando os pratos e trocando risadas enquanto o calor do sol continuava forte. Nicholas sentou-se ao meu lado, e logo a conversa entre nós fluiu naturalmente.

— Você quase dormiu o churrasco inteiro — Ele comentou, rindo enquanto pegava mais um pedaço de carne.

— Culpa do sol, me deixou mole — Respondi, dando uma leve risada. — E talvez da sua insistência em me acordar.

— Achei que você fosse perder a comida, e eu não ia deixar você escapar de provar essa obra-prima — ele disse, orgulhoso. — Afinal, é o talento de dois mestres da churrasqueira em ação.

— Ah, claro — Eu brinquei, revirando os olhos. — Vou te deixar acreditar nisso só hoje.

— Como assim "acreditar"? É um fato comprovado! — Ele fez uma expressão fingindo estar ofendido, o que me arrancou uma risada.

Meus pais e meus tios estavam animados, trocando histórias do passado e rindo de lembranças antigas, o que deu a mim e Nicholas um pequeno espaço para nossas próprias piadas. A atmosfera era leve, quase como nos velhos tempos, e por um momento, tudo parecia tão simples.

Após o almoço, senti o calor do sol novamente e decidi que um mergulho na piscina seria perfeito para esfriar um pouco. Me levantei e peguei o protetor solar, aplicando-o com cuidado nas pernas e braços antes de caminhar até a borda da piscina.

— Vai se refrescar? — Nicholas perguntou, terminando o que restava do seu prato.

— Com esse calor, nem penso duas vezes — Respondi, mergulhando na água clara e sentindo o alívio imediato que a piscina proporcionava. A água estava perfeita, morna o suficiente para ser confortável, mas refrescante para o corpo aquecido pelo sol.

Não demorou muito para que Nicholas também resolvesse entrar. Ele pulou na água com um movimento rápido, criando uma pequena onda que me fez rir e me afastar para não ser atingida diretamente.

— Ei! — Reclamei de brincadeira, espirrando um pouco de água nele em resposta.

— Não resisti — Ele sorriu, nadando até onde eu estava.

Nós dois ficamos ali na água, conversando e rindo. A leveza da tarde tomou conta, e qualquer tensão que existisse antes parecia ter evaporado. De vez em quando, eu olhava para o jardim e via nossos pais e tios sentados nas espreguiçadeiras, ocupados com suas conversas despreocupadas, completamente alheios à nossa pequena brincadeira na piscina.

Nicholas começou a me provocar, nadando ao meu redor e espirrando água de leve, tentando me fazer rir. Eu respondi na mesma moeda, e logo estávamos rindo e nos divertindo como se nada mais importasse além daquele momento.

Era bom estar assim, apenas curtindo o dia, sem pensar demais. Mesmo com todas as questões que passavam pela minha cabeça quando se tratava de nós dois, ali, na piscina, tudo parecia mais simples. Como se o mundo lá fora pudesse esperar só um pouco mais.