O dia passou incrivelmente rápido. Parecia que, num piscar de olhos, a manhã ensolarada havia se transformado em tarde, e eu mal conseguia acreditar em como o tempo voou. O churrasco, as conversas, o riso fácil... tudo parecia encaixar de uma maneira tão natural que era quase como se nada tivesse mudado entre nós. Ter Olivia por perto novamente, naquela leveza, trouxe uma sensação que eu nem sabia que sentia tanta falta.
Enquanto estávamos na piscina, eu não conseguia evitar a satisfação de vê-la sorrir. A sensação de termos retomado nossa amizade me trazia um alívio imenso, mesmo que uma parte de mim soubesse que, no fundo, isso não seria o suficiente. Não para mim. Mas, por enquanto, era o que eu tinha, e eu estava adorando cada segundo. Tê-la por perto de novo, rindo e relaxada, fazia com que qualquer coisa parecesse menos importante.
A conexão entre nós, aquela que sempre existiu, estava de volta. Cada troca de olhares, cada palavra que falávamos, me fazia querer mais, mas também me lembrava do quanto eu prezava por esse laço, mesmo que ele fosse apenas de amizade. Talvez fosse por isso que, mesmo querendo mais, eu me segurava. O medo de perder o pouco que recuperamos me impedia de agir de outra forma.
Cada vez que ela me olhava, aquele sorriso leve no rosto, eu tinha que me lembrar de não deixar transparecer o que realmente se passava dentro de mim. A linha entre querer ser seu amigo e querer ser mais que isso estava constantemente ali, mas, por agora, eu precisava aceitar as coisas do jeito que estavam. Mesmo que cada momento ao lado dela só reforçasse o quanto eu queria algo além.
Mas, naquele dia, isso não importava. Estar ao lado dela, rindo e brincando na piscina, era suficiente. O simples fato de tê-la de volta, de forma tão despreocupada, já era mais do que eu poderia pedir. E enquanto nossos pais conversavam nas espreguiçadeiras, completamente alheios ao que acontecia, eu só queria aproveitar o tempo com ela... mesmo que, para mim, sempre houvesse um desejo por mais.
A noite havia chegado e, após um dia inteiro cheio de risadas e momentos tranquilos, o clima na casa parecia calmo. Enquanto caminhava pela sala com dois copos de suco de maracujá nas mãos, vi Olivia sentada no sofá, os olhos voltados para o nada, como se estivesse perdida em pensamentos. Aquele momento de quietude, após um dia agitado, parecia o cenário perfeito para uma conversa mais tranquila.
— Trouxe algo pra você — Disse, me aproximando e estendendo o copo a ela.
Ela olhou para cima, um leve sorriso surgindo em seu rosto quando pegou o suco da minha mão.
— Suco de maracujá? Você mesmo fez? — Perguntou, um pouco surpresa.
— Eu mesmo. — Sorri, sentando-me ao seu lado. — Estou testando minhas habilidades. Se não gostou, pode ser sincera.
Ela riu levemente antes de tomar um gole.
— Está ótimo, Nicholas. Já posso ver você abrindo um restaurante de sucos pelo mundo.
— Acho que prefiro os palcos a restaurantes, mas vou guardar essa ideia — Brinquei, encostando-me no sofá. Por mais que a piada fosse leve, falar da minha vida pública era algo que, ultimamente, parecia inevitável.
— E por falar em palco, como está sendo toda essa nova fase? — Ela perguntou, genuinamente curiosa. — Agora que você está famoso... mudou muita coisa?
Eu sabia que essa pergunta viria em algum momento. Desde que as coisas começaram a tomar essa proporção, falar sobre minha nova realidade havia se tornado um tópico comum em qualquer conversa, mas com Olivia era diferente. Eu queria que ela soubesse, mas sem parecer arrogante ou distante.
— Mudou bastante, na verdade — Respondi, olhando para o copo em minhas mãos antes de encará-la. — Às vezes parece surreal. Eu costumava sonhar com isso, mas viver isso é algo totalmente diferente. As pessoas te olham de um jeito estranho, como se você fosse outra pessoa, e tudo o que você faz parece estar sob um microscópio.
Ela me escutava com atenção, os olhos fixos em mim, e aquilo me fazia querer ser ainda mais sincero.
— Tem sido incrível de certa forma, sabe? Viajar, conhecer lugares, pessoas... mas também pode ser solitário. Às vezes sinto falta de dias como hoje, onde posso ser só eu, sem a pressão de ser "o Nicholas famoso". Só... estar com as pessoas que realmente me conhecem, sem todo esse barulho ao redor.
Ela assentiu, compreendendo, e por um momento, me senti aliviado de poder compartilhar isso com ela. Não havia ninguém que eu quisesse mais que entendesse como eu me sentia do que Olivia. Mesmo que estivéssemos só retomando nossa amizade, poder ter essa troca com ela era mais valioso do que qualquer sucesso.
— Deve ser difícil equilibrar tudo — Ela comentou. — Mas você sempre foi bom em se adaptar, então tenho certeza de que vai encontrar um jeito de lidar com tudo isso.
Eu sorri, grato pelas suas palavras.
— É, talvez eu consiga... se tiver pessoas como você por perto, acho que dá pra sobreviver a essa loucura.
Ela sorriu, e naquele instante, sentado ali ao lado dela, percebi que ter Olivia ao meu lado, mesmo que apenas como amiga, tornava tudo mais suportável
Após alguns momentos de silêncio confortável, enquanto ambos bebíamos o suco, decidi perguntar sobre algo que sempre me intrigava quando pensava nela.
— E você, Olivia? Como está indo a faculdade de gastronomia? — Perguntei, curioso, virando-me para encará-la. — Eu lembro de como você sempre gostou de cozinhar, então imagino que esteja arrasando por lá.
Seus olhos brilharam ao ouvir a pergunta, e um sorriso apareceu no rosto dela. Era óbvio que a gastronomia a fazia feliz, e isso me deixou contente.
— Está indo bem, na verdade — Respondeu, com um toque de entusiasmo. — É cansativo às vezes, tem muita coisa para aprender, mas eu amo cada parte. Fazer as aulas práticas, testar receitas novas... sinto que estou no lugar certo, sabe?
Eu assenti, tentando imaginar como seria para ela, que sempre amou estar na cozinha. Para mim, parecia que Olivia havia encontrado sua verdadeira paixão.
— Isso é incrível — Comentei. — Lembro de quando você ajudava minha mãe na cozinha. Sempre soube que você tinha talento pra isso. Dá pra ver que você está no caminho certo.
Ela riu, um pouco tímida com o elogio, e eu continuei, agora mais interessado.
— E você já tem alguma ideia do que quer fazer depois? Tipo, abrir um restaurante ou algo assim?
Ela pensou por um momento antes de responder.
— Ainda não tenho certeza. Acho que gostaria de viajar um pouco, aprender mais sobre diferentes culturas e culinárias antes de me fixar em algo. Talvez um dia eu tenha meu próprio restaurante, mas por enquanto, quero explorar o máximo que puder.
— Isso soa perfeito pra você. Sempre achei que você seria o tipo de pessoa que quer descobrir o mundo através da comida — Disse, genuinamente admirado. — E, quem sabe, você pode até me ensinar algumas coisas pelo caminho.
Ela riu de novo, mas dessa vez, havia um brilho de diversão em seus olhos.
— Quem sabe? Talvez você se surpreenda com o quão bem eu ensino.
Aquele sorriso despreocupado dela era contagiante, e eu senti, mais uma vez, como estar perto de Olivia me fazia esquecer o resto do mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Além do laço de Sangue
RomanceOlivia e Nicholas sempre tiveram uma conexão especial. Desde crianças, passavam as férias de verão juntos na casa dos avós, correndo pelo quintal, rindo de piadas bobas e explorando o mundo ao seu redor. Com o tempo, aquela amizade inocente foi ganh...