A noite havia sido longa. Deitada na cama, virei para o lado pela milésima vez, com a cabeça a mil. As palavras de Nicholas ecoavam na minha mente, repetidas como se fossem gravadas em um disco riscado. Eu mal consigo pregar os olhos. A confissão inesperada, cheia de emoção e vulnerabilidade, me pegou completamente desprevenida. Eu sabia que ele estava embriagado, que aquelas palavras provavelmente escaparam sem ele nem perceber, mas... aquilo mudava tudo.
Naquele momento, Nicholas dormia profundamente, provavelmente nem lembraria do que havia aqui. Mas e eu? Como seguiria em frente com essa informação? Sentia-me perdida, e a única certeza era que não poderia ficar ali, remoendo aquilo.
Levantei da cama assim que o sol despontou no horizonte. Coloquei uma roupa de caminhada, amarrei meus tênis e desci silenciosamente pela casa. Precisava de ar, de movimento, de espaço para pensar. Ao sair pela porta, o frescor da manhã me envolveu, mas não consegui rir da tempestade dentro de mim.
Enquanto caminhava pelo bairro, os pensamentos rodavam desordenadamente na minha cabeça. Como eu deveria lidar com os sentimentos de Nicholas? Ele nem ao menos sabia que havia confessado o que sentia, mas agora eu sabia. E isso complicava tudo.
Minha mente vagava entre as lembranças da noite anterior. O toque delicado dos meus dedos nos cabelos molhados dele, o carinho involuntário em seu rosto. Por mais que eu tivesse tentado manter tudo sob controle, havia algo na fragilidade daquela cena que mexeu comigo de uma maneira profunda. Aquelas palavras, ditas sem filtros pelo álcool, despertavam algo que eu vinha lutando para esconder.
Caminhei mais rápido, tentando fugir do turbilhão de sentimentos que me perseguia. Cada passo parecia levar mais peso. Afinal, o que eu faria agora?
Assim que cheguei em casa, o aroma do café fresco e das torradas me aqueceu, mas não consegui me distrair com isso. A mesa da cozinha já estava ocupada. Meus pais conversaram animadamente, e Nicholas estava ali também.
Depois do café, Nicholas clamou-se em silêncio e subiu para o quarto. Não disse uma palavra, nem mesmo um "até logo". A cada passo que ele dava para longe, parecia que meu coração afundava um pouco mais. Passei o dia inteiro sem vê-lo, mas minha cabeça não conseguiu se afastar dele. As palavras da noite anterior ainda se entrelaçavam nos meus pensamentos, me fazendo questionar tudo. Será que ele estava bem? Será que ele queria me evitar?
Para me distrair e afastar aquelas sensações de dúvida e angústia, decidi fazer algo que sempre trouxe calma: cozinhar. Fui para a cozinha e resolvi preparar um bolo para o café da tarde, um presente simples para todos que estavam ali em casa. Mexer nos ingredientes, sentir o aroma da massa crescendo no forno, aquilo me trouxe uma espécie de colapso momentâneo. Quando o bolo ficou pronto, coberto de glacê e com o cheiro doce espalhando-se pela casa, todos vieram à mesa curiosos.
— Isso aqui está com uma cara maravilhosa, Olivia! — Disse tio Thomas, cortando uma fatia generosa. Ele deu a primeira mordida e seu rosto se iluminou. — Menina, você acertou em cheio!
— Ah, nem é tanto assim — Falei, tentando disfarçar o sorriso de satisfação. Mas por dentro, fiquei feliz que todos gostaram.
Tia Grace, sempre cuidadosa, pegou um pratinho e colocou uma fatia à parte, com um olhar pensativo.
— Vou guardar um pedaço para o Nicholas. Ele vai gostar quando descer — Disse, empurrando o prato para o centro da mesa, como se esperasse que ele pudesse aparecer a qualquer momento.
Assenti em silêncio, mas a verdade é que não sabia se ele desceria naquele dia. E, mesmo se descesse, eu me perguntava se ele ainda pensava no que tinha dito na noite anterior, assim como eu, que não conseguia parar de pensar nele. O dia seguiu, mas minha mente continuou presa em cada palavra, cada gesto dele.
Passei o restante daquele dia tentando me distrair. Tudo o que eu mais queria era afastar meus pensamentos de Nicholas. Liguei a TV e encontrei um filme de terror, meu gênero preferido. Todos se acomodaram, e ficamos assistindo e comentando sobre o que acontecia na tela.
Nicholas não apareceu naquela tarde. O tio Thomas comentou que conhecia bem o filho e que, provavelmente, ele estava de ressaca, dormindo o dia todo. Mesmo querendo evitar qualquer encontro com ele, parte de mim ansiava por vê-lo. Eu torcia, em silêncio, para que ele descesse as escadas e se juntasse a nós.
Minha mente me alertava: eu precisava manter distância de Nicholas, evitar qualquer aproximação. Mas meu coração queria o oposto. Ele insistia para que eu fosse sincera, dissesse tudo o que sentia, entregasse meu coração e jogasse com todas as cartas na mesa. No entanto, não podia me permitir seguir os impulsos do coração. Não agora.
Já era noite quando me permiti um momento para mim mesma. Tomei um banho quente, tentando relaxar, mas meus pensamentos me traíam. A cada gota de água, a lembrança de Nicholas voltava com mais força. As palavras que ele havia me dito na noite anterior, embriagado, ecoavam em minha mente sem parar. Ele havia se aberto, ainda que confuso, mostrando sentimentos que eu não sabia se eram reais ou apenas o efeito do álcool.
O que ele quis dizer com tudo aquilo? Será que suas palavras tinham algum peso ou eram apenas palavras jogadas ao vento em meio à sua confusão? Minha mente se enchia de dúvidas, enquanto a água corria pelo meu corpo, mas uma coisa era certa: por mais que eu quisesse esquecer, aquilo não sairia da minha cabeça tão cedo.
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Além do laço de Sangue
RomanceOlivia e Nicholas sempre tiveram uma conexão especial. Desde crianças, passavam as férias de verão juntos na casa dos avós, correndo pelo quintal, rindo de piadas bobas e explorando o mundo ao seu redor. Com o tempo, aquela amizade inocente foi ganh...