Além do laço de Sangue

Chapter 26

NARRADOR

Nicholas ainda estava na festa, cercado pelo brilho das luzes coloridas e o som pulsante da música. A bebida nas mãos parecia não ter fim, e o peso do álcool começava a afetá-lo de forma mais evidente. Ele se jogava na pista de dança com Cooper, rindo alto e sem se importar com o resto do mundo. Tentava a todo custo esquecer o quanto Olivia dominava seus pensamentos, mas era difícil.

Após horas de risadas, música e bebidas, Nicholas sentiu que era hora de voltar para casa. O caminho até a porta pareceu mais longo do que o habitual, e, ao se despedir de Cooper, notou que sua visão estava um pouco turva. Mesmo assim, com um sorriso no rosto, decidiu chamar um motorista para levá-lo de volta.

A casa estava em completo silêncio quando ele chegou, tarde da madrugada. Ainda sentindo os efeitos das bebidas, ele tentou ser discreto ao entrar, mas a chave fez um barulho estrondoso ao girar na fechadura. Ele praguejou baixinho e empurrou a porta.

As escadas, que sempre foram fáceis de subir, pareciam intermináveis naquele momento. Ele tropeçou no primeiro degrau, tentando se equilibrar enquanto ria sozinho. Sua risada, baixa e desajeitada, ecoava pelo corredor vazio. Ele tentou mais uma vez subir, mas errou o degrau novamente, o que o fez cair de joelhos. Ao invés de se levantar imediatamente, ele ficou sentado, rindo consigo mesmo, sem se preocupar em abafar o som.

— Não acredito que tô rindo disso... — Murmurou para si, ainda rindo, apoiando-se no corrimão para finalmente levantar.

Nicholas cambaleava, tentando subir as escadas sem fazer barulho, mas o álcool em seu sistema o fez tropeçar em mais um degrau. Ele caiu com um baque surdo, rindo sozinho e abafando o som para não acordar ninguém. Tentou tirar os sapatos, mas suas mãos descoordenadas não conseguiam puxá-los direito.

De repente, ele ouviu passos leves no corredor. Olivia, com o rosto sonolento e um ar preocupado, apareceu no topo das escadas. Ela franziu a testa ao ver a situação de Nicholas e suspirou.

— Nicholas, o que você tá fazendo? — Ela perguntou, se aproximando devagar.

Ele olhou para ela, meio embaraçado, mas ainda rindo.

— Tentando... tirar meus sapatos... mas eles não querem sair. — Ele balançou um dos pés no ar como se fosse uma solução.

Olivia se ajoelhou, ajudando-o a tirar os sapatos e puxando-o gentilmente para ficar de pé.

— Vamos, vou te ajudar a chegar no quarto. — Ela murmurou, passando o braço dele por seus ombros e guiando-o com cuidado pelo corredor.

Quando eles chegaram ao quarto de Nicholas, Olivia o fez sentar-se na cama.

— Você precisa de um banho, Nick. — Ela disse com um sorriso terno. — Vou esperar você aqui. Vai lá.

Nicholas, ainda meio confuso, assentiu e foi para o banheiro. Enquanto ele estava no chuveiro, Olivia olhou ao redor do quarto. Fazia tanto tempo desde que ela havia entrado ali. O espaço tinha mudado, mas algumas coisas ainda lembravam os dias de infância e adolescência que passaram juntos. Ela passou os dedos por alguns livros na estante e sorriu, relembrando momentos antigos.

Nicholas saiu do banheiro com os cabelos ainda molhados, as roupas meio tortas. Ele ainda parecia embriagado, com um olhar perdido.

— Como você está? — Olivia perguntou, preocupada, enquanto ele se jogava na cama com um suspiro.

Ele se virou de lado, olhando para ela com uma expressão sonhadora. O álcool o fazia sentir-se mais leve, solto. E sem perceber, ele começou a falar.

— Eu... eu tô confuso. — Ele murmurou, a voz arrastada. — Porque toda vez que eu te vejo, Olivia... sinto coisas... coisas que eu não deveria sentir por você.

Ela ficou quieta, o coração disparado, mas deixou que ele continuasse, sem saber se ele realmente sabia o que estava dizendo.

— Você sempre esteve aqui... sempre foi você, e eu tentei tanto ser só seu amigo de novo... mas eu... — Ele engoliu em seco, respirando fundo. — Eu quero mais, sempre quis. Não consigo mais esconder isso, principalmente quando você está tão perto...

Olivia não soube como reagir. Ela o olhou fixamente, o peito apertado com cada palavra que ele dizia. Ele estava embriagado, mas era claro que essas confissões estavam guardadas há muito tempo.

Nicholas suspirou pesadamente, fechando os olhos.

— Me desculpa, Olivia... eu... eu só não queria perder você de novo.

Olivia ficou completamente sem reação diante da confissão de Nicholas. As palavras dele, carregadas de sentimentos reprimidos, a atingiram em cheio, ecoando repetidamente em sua mente. Ela observava o rosto dele, agora tranquilo em um sono pesado, causado pelo álcool, sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

Com cuidado, ela o ajeitou na cama, puxando o cobertor até seus ombros. Sem perceber, seus dedos deslizaram pelos cabelos ainda úmidos de Nicholas, e ela passou a mão suavemente sobre eles, como se quisesse acalmá-lo, mesmo que ele já estivesse imerso no sono profundo. Em um gesto quase instintivo, ela fez um carinho delicado em seu rosto, seus dedos traçando o contorno de sua mandíbula, sentindo o calor que emanava de sua pele.

Enquanto olhava para ele, uma mistura de emoções tomava conta de Olivia. Por um lado, havia o carinho que sempre sentiu por Nicholas, um laço que os conectava desde a infância. Por outro, havia a confissão que mudava tudo. As palavras que ele havia deixado escapar com tanta sinceridade e vulnerabilidade mexiam com algo profundo dentro dela.

Ela não sabia o que fazer. Seus sentimentos por Nicholas já estavam confusos há algum tempo, mas ouvir que ele sentia o mesmo a deixava ainda mais dividida. Louis era incrível, sempre presente, sempre atencioso. Mas Nicholas... Nicholas mexia com algo que parecia ser exclusivo dele, algo que só ele conseguia despertar nela.

Olivia continuou acariciando o rosto de Nicholas, perdida em seus próprios pensamentos. O rosto dele parecia tão angelical, tão vulnerável naquele momento, e ela não conseguia parar de pensar no quanto suas vidas poderiam mudar a partir daquele ponto.

Ela se afastou lentamente, suspirando, sentindo o peso da confissão que ele havia feito. Sabendo o que sabia agora, Olivia sentia-se ainda mais perdida. Como reagir? O que fazer? Esses pensamentos a dominavam enquanto ela saía do quarto em silêncio, fechando a porta atrás de si, sem saber o que o futuro reservava para eles dois.