Chapter 8

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Após o jantar, a conversa seguia descontraída. Eu estava sentada com uma taça de espumante na mão, mas meus olhos insistiam em procurar Nicholas pelo jardim. Era impossível não observá-lo.

Ele conversava animadamente, e eu não conseguia ignorar seu sorriso largo e descontraído.

— Oi, prima. — A voz de Jacob me tirou dos meus pensamentos.

O garoto, que antes era cheio de sardas, agora quase não tinha mais nenhuma. Seu cabelo, um pouco mais longo, ainda lembrava o jeito que ele usava quando criança.

— Jacob! — Levantei-me e o puxei para um abraço. — Quanto tempo! — Exclamei assim que nos separamos.

— Nem me fale, da última vez eu tinha o quê, nove anos?

— Você não mudou nada, Jacob. Só perdeu algumas sardas, mas continua o mesmo. Lindo como sempre. — Sorri gentilmente, enquanto ele retribuía o sorriso.

Logo, uma garota loira se aproximou, meio envergonhada. Seus olhos verdes encontraram os meus, e ela sorriu timidamente.

— Essa é Angel, minha namorada. — Jacob a apresentou com orgulho.

— Oi, Angel. — Abracei-a rapidamente. — Você é linda, adorei a cor dos seus olhos.

— Obrigada! Você deve ser a Olivia, certo? — Assenti com um sorriso.

Continuamos conversando, e Jacob me contou como eles se conheceram e há quanto tempo estavam juntos. Era encantador vê-lo tão apaixonado.

Porém, senti que alguém me observava. Desviei o olhar do casal por um segundo e encontrei os olhos de Nicholas. Ele me encarava fixamente, o que me deixou levemente nervosa. Com um copo de uísque na mão, ele tomou um gole, sem desviar o olhar.

— E como anda a sua vida, Olivia? — A voz de Jacob me chamou de volta à conversa, mas eu mal havia prestado atenção nas últimas palavras dele.

— Desculpa, o que disse? — Perguntei, sorrindo sem jeito.

— Quais são as novidades?

— Ah, nada demais. San Marcos é melhor do que eu imaginava. Vocês precisam visitar algum dia, tem muita coisa legal para fazer. — Respondi animada. — E estou fazendo faculdade de gastronomia. — Acrescentei, com um sorriso.

— Gastronomia? A sua cara! Você adorava testar suas habilidades na cozinha quando era mais nova. — A voz de Nicholas soou aguda atrás de mim. Eu nem havia percebido sua aproximação. — Desculpa, acabei ouvindo a última parte. — Ele falou, agora mais próximo.

Agora que ele estava parado ao meu lado, o aroma amadeirado do seu perfume se infiltrava no ar ao meu redor, impossível de ignorar. Era um cheiro que poderia me prender ali por horas, uma sensação reconfortante e, ao mesmo tempo, perigosa. Fiz um esforço consciente para não deixar meu nervosismo transparecer mais do que já devia. Endireitei a postura e levei a taça de espumante aos lábios, tentando encontrar um equilíbrio entre o álcool e os pensamentos que rodopiavam na minha mente.

— Desculpe interromper, mas a reunião dos primos está rolando por aqui? — Uma voz feminina cortou o ar, trazendo-me de volta à realidade. Ao me virar, meus olhos encontraram Mathilde. Ela quase não havia mudado desde a última vez que nos vimos, exceto pelo piercing no nariz e a tatuagem de uma borboleta no centro do peito, destacando-se contra sua pele clara. Seu cabelo loiro, na altura dos ombros, ainda estava exatamente como eu lembrava, assim como a pintinha que adornava o queixo. A verdade é que, embora todos nós tivéssemos crescido, as marcas de nossa infância ainda eram evidentes, agora moldadas em uma versão mais adulta de nós mesmos.

— Olívia, prima, você está uma tremenda gostosa! — Exclamou ela, antes de me puxar para um abraço caloroso e apertado. Do meu lado, ouvi Nicholas tossir, claramente desconcertado, talvez engasgado com o Whiskey ou com a própria presença de Mathilde, que sempre tinha o dom de desconcertar qualquer um com sua honestidade desinibida.

— Obrigada, prima, você está fabulosamente linda! — Respondi, abraçando-a de volta com força.

Logo depois, Eric e Jasmine se juntaram ao grupo, e nós instintivamente abrimos espaço, formando um pequeno círculo onde os primos se reuniam. Senti meu corpo enrijecer com a proximidade ainda maior de Nicholas, que agora estava praticamente colado ao meu lado. De canto de olho, o observei enquanto ele escutava Eric contar animadamente uma das nossas histórias de infância.

— Mas, gente, entre todos nós, os dois mais grudados sempre foram a Olívia e o Nicholas — Disse Mathilde, com um sorriso malicioso enquanto seus olhos iam de um a outro. — Eles moravam lado a lado, estudavam juntos, passavam todos os fins de semana na casa um do outro... Às vezes, eu até ficava com ciúmes dessa cumplicidade. — Ela brincou, lançando um olhar provocador para nós.

O comentário pairou no ar como uma faísca, e, por um momento, o tempo pareceu parar. A tensão entre mim e Nicholas, já quase palpável, se intensificou. Meus olhos encontraram os dele por um breve segundo, e naquele instante, todas as memórias que eu tentava manter enterradas vieram à tona, como um rio transbordando após uma tempestade.

— Venham, vamos fazer uma foto de vocês todos juntos. Faz tempo que não se reúnem assim — A voz de tia Grace nos chamou de repente, interrompendo a crescente tensão. Eu agradeci silenciosamente pela intervenção, pois a conversa estava se encaminhando para um lugar ao qual eu não queria chegar.

Nos alinhamos lado a lado, cada um no seu lugar. Fiquei entre Mathilde e Nicholas, ainda sem jeito com a proximidade dele. Era como se o simples fato de tê-lo ao meu lado criasse uma eletricidade no ar, algo que eu tentava, em vão, ignorar.

— Vamos, mais perto, se abracem! — Jasmine nos instruiu, posicionando o celular para a foto.

— Com licença — Ouvi Nicholas dizer, e antes que eu pudesse processar, senti o braço dele envolver minha cintura. Um calafrio percorreu minha espinha, e de repente todo o meu corpo estava hiperconsciente daquele toque. Nicholas, ali, ao meu lado, com a mão firme na minha cintura... era como se eu estivesse presa entre o passado e o presente. Nada nunca tinha me afetado dessa forma, nem mesmo Louis.

Engoli em seco, tentando me recompor, e puxei Mathilde para mais perto, abraçando-a para disfarçar. Sorrir para a câmera se tornou um desafio monumental; meu sorriso estava forçado, enquanto lutava para processar o que aquele simples toque estava desencadeando dentro de mim. Não era apenas desconforto... era algo mais. Algo que eu não queria admitir: me sentia protegida.

— Ficaram ótimas! — exclamou Jasmine após tirar umas cinco fotos.

Assim que as fotos terminaram, me afastei relutantemente do toque de Nicholas, como se estivesse rompendo uma conexão invisível. O breve contato tinha sido suficiente para despertar memórias e sensações que eu preferia manter enterradas. Meus olhos, contra a minha vontade, encontraram os dele por um segundo, e a intensidade em seu olhar era inegável, quase como se ele estivesse me devorando com os olhos. Rapidamente, desviei o olhar.

Aquela sensação... era exatamente a mesma de quando éramos adolescentes, quando um simples olhar entre nós dois era o suficiente para me tirar o fôlego. Nada parecia ter mudado, como se estivéssemos presos no tempo. Mas eu me forçava a acreditar que era só uma ilusão, um truque da mente.

Eu não podia, nem iria, me deixar levar por qualquer emoção que achasse estar sentindo. Não agora, não com Nicholas. Meu coração e minha razão precisavam estar alinhados, e eu sabia muito bem o que acontecia quando um dos dois se perdia no caminho.

Além do laço de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora