F A R A Ó
Estava no terreiro na casa da minha mãe de santo, vira e mexe eu broto aqui, pedir proteção e quando eu to com a mente meio birinbolada peço para que eles guiem meu caminho.
Estava sentado em um banquinho de madeira simples, observando o movimento ao meu redor. O som dos atabaques, os cânticos e os aromas das ervas queimando no defumador sempre me traziam uma sensação de paz, de conexão com algo maior.
Eu gostava de estar ali, no meio daquela energia. Era um lugar onde eu sentia que não estava sozinho, que havia uma força maior me guiando, mesmo quando eu não conseguia enxergar o caminho à frente. Minha mãe de santo sempre dizia que, quando estamos perdidos, os guias estão lá para nos mostrar a direção, basta abrir o coração e pedir ajuda.
Mãe Conceição, com seu jeito calmo e firme, se aproximou de mim enquanto ajeitava o pano branco que cobria sua cabeça.
Mãe Conceição: Tá com a cabeça cheia de novo, né, meu filho? - Ela me olhou como se soubesse exatamente o que se passava dentro de mim, sem que eu precisasse dizer uma palavra.
Farao: Nem tanto, mãe. Tentei disfarçar, mas minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia. : Só tô tentando entender as coisas. A vida não tem sido fácil.
O morro tava um caos, toda hora aparecia uma coisa para resolver. Quem disse que a vida de bandido é facil? me fala, que eu meto logo um tiro na mão.
Mãe Conceição: Você precisa aprender a soltar, Breno. Não adianta querer segurar tudo com força. Quanto mais você aperta, mais as coisas escapam. — Ela fez uma pausa, me olhando com um olhar profundo. :Hoje é dia de pedir clareza e proteção. Se você quiser, pode participar do trabalho e pedir para os guias te mostrarem o caminho.
Eu hesitei. Participar do trabalho? Parecia tão simples, mas eu sabia que, se fizesse isso, teria que encarar algumas verdades que talvez eu estivesse evitando.
Coçei o cavanhaque e concordei.
Breno: Tá certo, mãe. Vou participar. Acho que preciso disso.
Ela sorriu de leve e me guiou até o centro do terreiro. O som dos atabaques preenchia o ambiente, os cânticos ecoavam, e havia um peso no ar, uma energia que sempre me fazia sentir pequeno diante de algo muito maior. Eu me ajoelhei, como sempre fazíamos, e fechei os olhos.
Enquanto eu me concentrava, pedi para que os guias me ajudassem a entender o que eu estava fazendo com a minha vida. Que me dessem forças para controlar essa raiva, esse ciúme que queimava dentro de mim. E que, de alguma forma.
Eu sabia que ela enxergava além do que eu dizia, e isso me deixava inquieto, mas ao mesmo tempo era um conforto. Ela sabia do caos que era minha vida, das escolhas que eu fazia, das batalhas que travava diariamente no morro.
Enquanto caminhava em direção à saída, senti o toque suave de uma mão no meu ombro. Virei para ver Mãe Conceição ali, firme, mas com uma ternura que me desmontava.
Mãe Conceição: Breno, lembra que tudo que você coloca pra fora volta pra você. A vida é um ciclo. Se você espalha ódio, vai colher destruição. Mas se você começar a soltar o que te aflige, talvez consiga ver o que realmente precisa mudar.
Eu queria retrucar, dizer que as coisas não eram assim tão simples. Que eu não podia simplesmente "soltar". Eu estava no meio de uma guerra onde um passo em falso custava a vida. Mas algo naquelas palavras ressoou fundo. Fiquei quieto, apenas acenei com a cabeça e continuei andando.
Peguei meu celular, vi as notificações acumuladas de mensagens e chamadas. O trabalho não parava. A vida no crime não dá trégua. Era resolver problemas o tempo todo, manter as alianças firmes, controlar o território. Mas naquele momento, eu queria só uma pausa.
"Amor, posso passar ai?" enviei para ela.
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Amor sem limites
Teen FictionEu nunca vou ter limites quando o assunto se trata de você.