O caminho em direção a cidade se estreitava rapidamente. A dupla havia deixado os outros Corvos para trás fazia algum tempo, quando Marta disse para ficarem no hotel Gato Malhado, de frente a praça Três Jequitibás.
Segundo a Corva a dona do estabelecimento era discreta, e iria passar as mensagens entre o grupo, inclusive quando fosse necessário haver os encontros. Foi uma primeira conversa no mínimo interessante, ponderou Gabriel que vinha ao lado da parceira em um pedaço de chão que os Antigos chamavam de asfalto. Tinham dois pontos por onde começar a busca, mas antes era necessário conhecer a cidade
Pessoas andavam por todas as direções no caminho, e caravanas entram e saem da Cova freneticamente. Estranhos pássaros brancos voavam acima da cabeça dos passantes, flutuando na brisa marinha. O som do mar batendo contra as pedras que ladeavam o caminho faziam o ar ficar úmido.
— Incrível — exclamou uma criança ao lado de Gabriel, apontando em direção a cidade.
O Corvo sentiu que precisava concordar com a criança. Prédios e construções rasgavam o céu, algumas gigantescas em altura, outras em larguras, chegando a ocupar quarteirões.
Coqueiros com mais de cinco metros cada, flanqueavam o caminho, ficando em espaços regulares um do outro. A entrada não possuía um arco ou portal, a cidade simplesmente começava ficando de frente a uma rua de mão dupla, que passaria sem nenhum problema seis carroções de caravanas lado a lado, o que quase acontecia, pois dois ocupavam cada uma das mãos. O caminho que antes estreitava lentamente agora se abriu, um grande quebra-mar ficava ao lado esquerdo da cidade, o direito uma praia de areia muito marrom se estendia por boa parte do litoral.
Lojas abarrotavam o início da cidade, em algumas os proprietários discutiam preços com algum integrante de caravanas, vendedores ambulantes tentavam a todo o custo anunciarem seus produtos, enquanto um senhor sentado à beira da estrada praguejava com algumas crianças a tomarem cuidado para não serem atropeladas.
Gabriel percebeu o extremo mormaço do local, sendo este responsável por deturpar alguns objetos mais longe, poderia ser por consequência do mar pensou o rapaz. Os ventos marítimos faziam seus cabelos e roupas dançarem a cada momento em uma direção diferente. O próprio ar era um pouco salgado.
Uma construção que ocupava uma quadra inteira da rua se ergueu diante da dupla, a estátua feita de ônix com seu um metro e meio em formato de corvo explicou na mesma hora que era um dos Ninhos. A construção era feita por grossas vigas de madeiras, com dois metros, e uma outra logo em cima pregada fazendo a parede ficar ainda mais alta. Vários cabos gigantescos da grossura de um braço, rodeavam as paredes, âncoras enferrujadas e timões de madeira também foram colocados na madeira da parede. As portas extremamente grossas estavam abertas, e Corvos entravam e saiam sem parar. O telhado do Ninho tinha diversos cascos de navios. Uma visão impressionante pensou na mesma hora Gabriel, que sentiu um pouco de vergonha da simplicidade daquele que vivia. Exceto pelo ponto que ficava o Ninho, o resto da rua fervilhava de pessoas que procuravam os produtos desejados sem um pingo de pudor. Um vendedor passou ao lado de Gabriel vendendo asas de passarinho assado que ele dizia ser de um bicho chamado gaivota.
— Naomi! — chamou Gabriel. — Ei Naomi!
A jovem estava prestando atenção em uma loja onde diversos aquários estavam expostos, cheio de peixes coloridos, varas de pesca presas a parede se encontrava logo atrás do vendedor, na parte da frente um senhor tentava calmamente pegar um peixe avermelhado.
— Oi! — falou se virando para Gabriel.
— O que são gaivotas?
— Está vendo aquele passarinho voando perto da praia? — falou apontando em direção às aves brancas. — É isso.

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Corvos
Ficção CientíficaA Terceira Guerra dos Antigos fez a humanidade perder toda a glória, obrigando os sobreviventes a se esconderem no Bunker. Setecentos anos passaram desde o acontecimento, e para manter a ordem o grupo armado Corvos foi criado.