Corvos

Capítulo 49

O sol brilhava forte no céu limpo e sem nuvens, se Naomi não tivesse presenciado jamais imaginaria que houvera uma tempestade. Andavam apressados por uma rua estreita passando por construções que eram mais remendos do que propriamente concreto.

Gabriel chegou na noite passada completamente molhado, e contou para ela o que viu. Conhecia o rapaz bem suficiente para saber de sua mania de aumentar alguns fatos, mas naquele momento não achou que estava fazendo isso. Não foi um primeiro dia agradável.

Seguiam as instruções de Guilhermina para o local de encontro dos Herdeiros, que segundo a senhora acontecia em um grande galpão antes abandonado. Não era algo escondido, pois segundo as regras do Bunker não podiam se intrometer em assuntos do gênero, ainda assim não duvidava nenhum pouco se encontrassem alguns Corvos de tocaia.

Gabriel andava taciturno ao seu lado mascando uma folha que conseguiu em uma das praças, andava quieto imerso em pensamentos. Sempre que o rapaz estava nervoso tinha a mania de mascar alguma coisa.

— Vamos participar de um encontro desses Herdeiros — disse Naomi, repassando o que planejaram mais cedo. — E a noite você vai até estes locais de maior número de desaparecidos.

— Sim — respondeu Gabriel, mesmo não tendo sido uma pergunta. — Vou passar por morador de rua. Naomi estas pessoas que estão andando na mesma direção que a gente, são membros dos Herdeiros?

A jovem reparou que um grupo seguia na mesma direção que ambos, mais a frente e para trás outras pessoas também. Poderia ser somente coincidência, esperava que fosse, mesmo aquela sendo uma rua estreita, e após a chuva do dia seguinte continua bem suja, não ajudava a negar esse pensamento. Um aglomerado à frente chamou a atenção dela. Diante a entrada de um prédio pessoas se cumprimentavam animadas, entrando lentamente no lugar em grupos. Recepcionando as pessoas estava uma mulher com um longo vestido vinho, que ia até o chão escondendo seus pés, a vestimenta lembrava mais uma camisola.

— Bom dia Interlocutora! — cumprimentava uma garota com no máximo sete anos entrando no local.

Naomi prestou bastante atenção ao tratamento dirigido para com aquela mulher, se virou para Gabriel que somente concordou com um gesto. O encontro seria realizado naquele local.

— Bem-vinda , minha querida — respondeu a mulher para a menina, e logo em seguida cravou os olhos na dupla diante dela. — Primeira vez de vocês?

Surpresa com a pergunta repentina, Naomi concorda instintivamente, outras pessoas olham para os dois curiosos.

— Bem-vindos! — falou a mulher com um sorriso felino enquanto os despia com um longo olhar em cada. — Espero que achem o que procuram conosco.

Dando um passo para a direita a Interlocutora abriu espaço para ambos entrarem no edifício, a Corva passa pela porta escancarada que dava diretamente para uma sala de espera com longos bancos de madeira. Uma segunda porta com somente um dos lados aberto ficava à direita, quatro homens conversavam animadamente no banco sempre parando para olhar descaradamente para quem entrava.

Gabriel passou por eles os cumprimentando entrando na sala, a jovem foi logo em seu encalço. Era como Guilhermina havia dito, o chão era de concreto com algumas rachaduras, mas extremamente conservado, as janelas ficavam quase próximas às vigas que sustentavam o teto, sendo impossível qualquer curioso espiar. Bancos de madeira semelhantes aos usados na recepção formavam longas fileiras. Naomi contou vinte fileiras, e quase todas cheias, algumas ficavam contra as paredes onde estavam ocupadas. E igual a antes essas pessoas encaravam cada novo integrante que adentrava o local de forma perfurante.

— Ali no canto — constatou Gabriel apontando para a beira de um banco que se encontrava mais vazio na última fileira. — Podemos nos sentar ali.

— Claro — disse Naomi se aproximando do parceiro enquanto sussurrava. — Os homens na entrada, e que estão nas laterais sentados, são guardas.