Capítulo 50

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— Por que não desce pela escada? — quis saber Naomi vendo o parceiro olhando pela janela.

Gabriel analisava a distância que estava do chão, conseguir pular ele sabia que faria sem esforço, o problema maior seria subir depois.

— Essa janela fica de frente para esse beco com esse intuito Naomi, Martha deve ter escolhido esse quarto pensando nisso.

— Você só quer pular pela janela, certo? — questionou Naomi soltando o ar de forma cansada.

— É tão óbvio assim?

Trajando uma camisa marrom, que ele próprio rasgou em alguns pontos para dar uma aparência desgastada, armado com uma faca presa no calcanhar e outra escondida sobre a camisa, o Corvo estava prestes a sair para tentar arrumar alguma informação. Voltou para a cama onde deixou uma Pílula de Carvão, e o frasco de Olho de Gato.

Respirando fundo, coloca a pílula na boca e engolindo de uma única vez. Precisaria dela para a noite que teria, em seguida pega o colírio. O beco estava escuro, sendo a única fonte de luz a janela aberta do quarto. A garrafa de destilado estava encostada junto ao guarda-roupas logo abaixo do quadro com os gatos, Gabriel vai até ele dando uma piscadela para um dos felinos e volta se sentando na cama.

— Como estou?

— A aparência engana bem, mas precisa estar um pouco mais fedido.

— Naomi, minhas mãos cheiram a sangue.

— Para de ser idiota, estou falando sério.

— Dou um jeito — respondeu indiferente, indo em direção a janela.

Passou uma das pernas pela beirada deixando o membro pendurado, olhou uma última vez para Naomi, e segurando firme a garrafa pula, pousando sem problemas no chão. A Corva ficou olhando enquanto ele começava a desbravar o beco indo em direção à rua.

Gabriel virou em um beco apertado que dava diretamente em uma das ruas, mas parou um pouco antes de entrar, pois uma pilha de sacos pretos cheio de lixo o fez lembrar do que Naomi disse. Rindo um pouco sem graça o rapaz se solta sobre os sacos duas vezes, uma de barriga e a outra de costas. Felizmente o lixo não estava molhado, somente grudento. Ficando novamente em pé, Gabriel entra no corredor estreito e sem iluminação, sentindo suas costas vez ou outra raspar na parede, por causa da inconsistência da construção que parecia ter bolhas em algumas partes, o rapaz se espreme para a rua, sentindo que ganhou alguns ralados.

Os postes ligados eram um diferencial, ponderou o rapaz, afinal em sua cidade, como era em praticamente todas exceto por aquela e o Bunker, a iluminação noturna era fornecida por velas. Vários pedestres caminhavam apressados, e os bares que passaram o dia vazios agora fervilhavam de clientes.

As cidades tinham duas faces, a diurna e noturna. Quase sempre à noite, as coisas eram mais intensas e deixavam os poucos que se aventuravam nesta hora desconfiados, Gabriel esperava por isso, mas ficou perplexo com o que testemunhava. Homens e mulheres andavam em grupos, muitos cambaleando pelo álcool ingerido, ou tendo discussões acaloradas. Ficando próximo das paredes o rapaz começa sua peregrinação.

Tinha uma certa noção de onde ficava o primeiro ponto após a longa explicação de Guilhermina de como chegar em alguns lugares da cidade, Gabriel ruma por uma viela que cheirava a urina, sendo preciso pular por cima de uma pessoa que estava dormindo com a bochecha enterrada no próprio vômito. O rapaz só sabia que a figura estava viva, pelos movimentos que a barriga volumosa da pessoa fazia ao respirar.

Até mesmo as casas possuíam energia percebeu o Corvo, que era iluminado a todo instante por uma janela, recebendo diversas vezes olhares agressivos dos moradores. Diferente da primeira viela, esta tinha a abertura para a próxima rua mais larga, e assim ele entrou em outra rua relativamente movimentada.

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