Já era possível ver a construção ao fundo da rua arborizada. A dupla havia deixado para trás a caravana fazia vinte minutos, em um local no mínimo interessante. Nasor deixou os dois em uma faixa de terra da qual era possível ver o mar à esquerda, e inúmeras árvores à direita, esta visão se perdia na distância até onde era possível ver somente uma mancha acinzentada onde ficava segundo o condutor da caravana, a Cova Dois. Andavam pelo resto de uma pista construída pelos Antigos, com alguns eventuais remendos, sendo algumas partes completamente refeitas, feita de concreto as partes remendadas usavam argila que fora pintada de cinza para se parecer com o resto.
Naomi reparou nas árvores, mesmo sendo espaçadas uma da outra compensavam isto em tamanho, as mangas vermelhas e amarelas apinhavam em suas copas, onde abelhas e pássaros se banqueteavam. Crianças corriam entre elas segurando longos bambus a fim de espantar os visitantes indesejados. O local tinha um cheiro doce enjoativo. A jovem reparou em uma das crianças comendo vorazmente o fruto amarelo, o que a surpreendeu, pois pensou que fosse vermelha igual sua casca.
Não eram os únicos que seguiam em direção a construção, adiante várias pessoas seguiam pelo mesmo caminho, indo e vindo. Um lugar alegre constatou Naomi animada. A construção era rudimentar, e igual a calçada também fora feita na época dos antigos, com diversos remendos.
Bancos compridos ficavam à volta da entrada do estabelecimento. Onde pessoas se sentavam comendo vorazmente a fruta ou tomando sucos da mesma. A casa foi pintada de amarelo e tentativas de mangas serem desenhadas nas paredes foram feitas, mas saíram parecendo somente bolas vermelhas.
— Gostei daqui — comentou Naomi que absorvia todos os detalhes do lugar com os olhos.
— É muito feliz. — respondeu Gabriel, vendo a cara que sua companheira fez para ele continuar. — Vai me dizer que não achou? Depois do acampamento, esse lugar sangra felicidade.
Naomi não teve como retrucar, a diferença era gritante. E depois que Gabriel a informou sobre o que ele viu, realmente entendia a estranheza do rapaz.
— Vamos Gabriel — disse batendo seu ombro no do parceiro. — Não me diga, que, não está nenhum pouco curioso para comer essa fruta?
O rapaz somente concordou fazendo biquinho, o que a fez soltar um riso abafado. Quem o visse assim jamais imaginaria as coisas que ele fez. Mas antes precisavam encontrar os Corvos.
— Achar os Corvos aqui vai ser fácil — falou Gabriel, como se estivesse lendo seus pensamentos. — É só procurar manchas pretas nesse amarelo todo.
Naomi estava prestes a retrucar, quando realmente viu um vulto escuro indo para trás da construção, falando.
— Sei que falou na maldade, mas realmente vai ser assim que vamos achá-los.
Disparou na frente deixando seu parceiro para trás perdido, mas logo saiu no encalço dela. O cheiro era ainda mais doce perto da construção, tirando um pouco da vontade dela de comer o fruto. Rodearam a casa até chegar na parte de trás onde quatro figuras estavam sentadas. A tensão entre eles era palpável.
Durante um breve momento Gabriel achou que iria ser atacado, pois todos os quatro levaram as mãos para suas facas escondidas, igual qualquer Corvo fazia, relaxando enfim. Uma mulher com longos cabelos loiros e olhos azuis que comia uma fatia de manga os olhou de cima para baixo analisando a ameaça que a dupla representava, se levantando. Era uma Corva baixa com seus um metro e cinquenta e quatro, e tinha a feição de alguém que gostava de zombar dos outros. Ela lembrava bastante Gabriel, pensou Naomi.
— O casalzinho pode arrumar outro lugar para dar umazinha! — falou a loira com um sorriso maldoso.
Ao lado dela um homem que usava uma roupa comprida escondendo qualquer parte de pele somente concordou, usava um gorro que deixava somente a ponta de seu queixo aparecendo, diferente da Corva que falou este por sua vez era muito magro e alto. Pelos movimentos que fazia com a boca era óbvio que estava resmungando algo.

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Corvos
Ficțiune științifico-fantasticăA Terceira Guerra dos Antigos fez a humanidade perder toda a glória, obrigando os sobreviventes a se esconderem no Bunker. Setecentos anos passaram desde o acontecimento, e para manter a ordem o grupo armado Corvos foi criado.