Capítulo 45

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A estrada estava movimentada. O caminho de terra batida cortava uma planície onde árvores nasciam espaçadas uma das outras A estrada fazia zigue e zague por entre estas pequenas florestas. Pássaros cantavam sonoramente em todas as direções, fazendo com que seus cantos se misturassem em alguns pontos. Pequenos roedores subiam pelos troncos de algumas árvores, e tinham aqueles mais corajosos que assistiam a caravana passar com seus olhinhos pretos.

Gabriel somente curtia o tempo fresco do local sentado ao lado de Nasor na primeira carroça. O som de vida e folhas se movendo ao vento traziam uma ótima sensação de conforto, vez ou outra este mesmo vento bagunçava seus cabelos.

Uma outra caravana passou rente a que estavam, e por um momento os homens na frente de suas comitivas trocaram olhares nenhum pouco amigáveis um com o outro, eram rivais neste ramo ponderou o rapaz que somente observava o desenrolar da situação.

— Bom dia — disse Nasor com um sorriso exagerado no rosto.

— Dia — respondeu o outro mostrando a mesma quantia exagerada de dentes que o outro.

A situação desconfortável durou até a outra caravana sumir por detrás de uma das curvas, fazendo o rapaz olhar para Nasor.

— Vou te dizer, não sabia que você era tão falso!

— Você é um assassino, e não tenho nenhum problema com isso.

— Aí — brincou o rapaz fingindo que fora acertado por algo no peito. — Realmente, você tem um ponto. Agora me diga uma coisa, é normal essa tensão entre comitivas?

— Sempre foi — disse Nasor de forma cansada. — Mas desde que a Milícia das Caravanas aumentou ainda mais o imposto em cima das viagens, as coisas somente pioraram.

Gabriel achou melhor não se envolver sobre aquela questão, as Milícias eram problemas do Bunker e ele era somente um Corvo. Mas sabia o básico para entender a frustração de Nasor: o Bunker sendo o centro de controle da população é normal ter pessoas capacitadas, algumas vezes não, trabalhando em algumas áreas específicas, e o líder do Bunker era sempre alguém escolhido dentre uma das Milícias, o atual era da área de infraestrutura, o anterior fora da área das caravanas. E como sempre fora nos últimos setecentos anos, a pessoa que comandava o Bunker focava mais na área que tinha maior afinidade, os Corvos por sua vez estavam lá somente para prestar como uma defesa dessa fraca democracia. Por este motivo que Corvos sempre estavam envolvidos em atividades essenciais para o funcionamento do sistema. O rapaz sabia disso muito bem, afinal não iriam ir Corvos com caravanas se não fosse por estes motivos.

— Estamos pegando um caminho diferente — falou o rapaz, tentando mudar de assunto, pois ele não sabia qual seria o caminho de qualquer forma.

— Então finalmente reparou! — disse Nasor satisfeito com o rapaz. — Precisamos passar em um local antes.

— Que? Não falaram nada disso para a gente!

— Vai ser rápido, eu mesmo não pretendo ficar mais do que o necessário lá. Um Acampamento de Exploradores.

Ao ouvir este nome Gabriel sentiu um frio desagradável subir por sua espinha, tais acampamentos ficavam próximos às Manchas, locais cheios de radiação. Os Exploradores entravam em locais possíveis das Manchas atrás de conhecimentos e tecnologias para ajudar o Bunker a reerguer a sociedade. Mesmo sendo importantes, ninguém gostaria de chegar perto de uma pessoa que transmite radiação.

— Isso é uma surpresa, um pouco desagradável — disse Gabriel mexendo os pés inquieto.

— Não só para você — confessou Nasor. — Mas é preciso, Conhecimento dos Antigos vale muito mais moedas do que você possa imaginar.

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