Capítulo 48

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A chuva caia violentamente nos paralelepípedos da rua. Como Guilhermina havia dito, veio uma tempestade. Ambos os Corvos estavam ao lado do balcão junto a velha vendo pela porta as torrentes de água que caíam do céu.

O dia escureceu muito por causa das densas nuvens que cobriam o céu, e mesmo diante a isso as pessoas andavam nas ruas, em quantidade muito menor, mas andavam ainda assim. Gabriel ficou olhando para eles, que por sua vez usavam capa de chuva, das mais diversas cores. Um garoto correndo no meio usando uma capa amarela clara chamou sua atenção. A criança corria junto a algo que flutuava na água no meio fio.

— Garoto idiota — sussurrou para si mesmo. — Depois caí em um bueiro, e some.

— Oi? — Disse Naomi sem tirar os olhos da água que lavava toda a cidade.

— Nada — respondeu, vendo que o garoto havia sumido, continua. — Capa de chuva é algo legal, são como sobretudo, mas para a chuva.

— Não sei de onde tira essas coisas — comentou Naomi se encostando no balcão.

— Gostaria de uma emprestada? — falou Guilhermina, para o rapaz.

— Uma capa? — vendo que a velha concordou com sua pergunta Gabriel continua. — Lógico!

Com um sorriso, Guilhermina começa a mexer na parte de baixo do balcão procurando o que ofereceu. Gabriel não conseguiu controlar a empolgação fazendo seu calcanhar bater no chão freneticamente. O som da chuva era alto a ponto de ser possível falar com alguém somente se aproximando bastante da pessoa, precisando gritar um pouco também.

— Você está pensando em sair? — indagou Naomi, e acrescentou. — Neste tempo?

— Lógico! — vendo que a jovem não entendeu por causa do barulho, se aproxima do ouvido dela. — Lógico! Não vou perder uma oportunidade dessa.

— Gabriel, você é louco!

— Quem não é!? — retrucou, enquanto via a velha se levantar.

Guilhermina colocou na bancada uma capa amarela, igual ao que o garoto usava antes, percebeu o Corvo. A dona do hotel fez um gesto com as mãos para o rapaz ficar à vontade, e sem perder tempo Gabriel pegou a vestimenta de plástico, era fria, constatou ele e comprida, descendo até suas canelas.

Com alguma dificuldade vira a capa, que lembrava um vestido de tão longa, e se enfia na parte de baixo deslizando por dentro do plástico. Passou a cabeça pelo colarinho sem dificuldades, mas ficou se contorcendo para passar os braços. Vendo o esforço do companheiro, Naomi vai ao rapaz para ajudar sorrindo diante a cena ridícula de um Corvo lutando para vestir uma capa amarela. Com a ajuda dela, o rapaz enfim conseguiu colocar a capa.

— Como estou? — quis saber Gabriel enquanto cobria a cabeça com o gorro da capa.

— Parece uma banana — respondeu Naomi, que teve a concordância de Guilhermina.

— Perfeito! — se colocando diante a porta, ele olha para as duas. — Logo mais estou de volta!

Não esperou uma resposta, se atirando para a tempestade. A primeira coisa que reparou foi o peso das gotas, que caiam violentamente por todo o seu corpo. A água descia pelas paredes das construções, vidros e formava pequenos canais no canto da rua.

Gabriel andava com cuidado pois os paralelepípedos da rua estavam escorregadios, mas se não fosse por ele provavelmente toda a rua estaria transbordando naquele momento. Desviando das poças o rapaz desce em direção à praia. Junto a um grupo pequeno de outros que se propuseram a se aventurar naquele tempo, o Corvo vê o parapeito antes da praia. As pessoas que seguiam com ele, se dirigiram a um estabelecimento de esquina onde o som de vozes e música conseguiam competir com a tempestade, a luz saia pela porta e janelas do lugar. Sentindo o corpo tremendo pelo frio, Gabriel desvia de um córrego no meio fio que levava as imundícies da cidade em direção ao bueiro mais próximo, era impressionante a quantidade de lixo, reparou o rapaz.

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