Luna Vinculum | Tradução

Capítulo 20

Hermione

Hermione, juntamente com Ginny, encontra-se aninhada na sala comum da Grifinória durante as horas tranquilas do início da manhã, com o suave crepitar da lareira lançando um brilho quente e relaxante sobre o ambiente. Ela aproveita um momento para saborear a atmosfera aconchegante, com os dedos traçando delicadamente a borda de sua xícara de chá entre os goles.

Seus pesadelos têm uma maneira de mantê-la sob controle até altas horas da noite. No entanto, nesta manhã, não foram os sonhos assombrosos habituais que a despertaram do sono. Em vez disso, foi uma sensação difícil de descrever, fora do lugar, que puxou sua consciência.

Como se algo estivesse errado, mas ela não consegue identificar o quê.

Talvez a notícia inquietante do avistamento de Bellatrix esteja pregando peças em sua mente, despertando esse sentimento inquietante. Seja qual for a causa, ele permanece como uma sombra, perseguindo-a até hoje.

"Então, sobre o Ron", Ginny começa, com a voz neutra, exceto por uma leve pontada de preocupação. "Ele se sente muito mal por ter machucado você durante o duelo, mesmo que tenha sido contra o Malfoy."

Hermione acena com a cabeça, pensativa, enquanto olha para as chamas dançantes. O ferimento em seu braço ainda lateja com uma dor surda. "Sim, posso imaginar", ela responde suavemente, com a voz distante ao se lembrar do duelo. "Mas eu preciso que ele entenda o impacto de suas ações, Ginny. Não estou menosprezando a dor dele ou tudo pelo que sua família passou, mas..."

"Você também perdeu pessoas", Ginny interrompe gentilmente, suas palavras são um reconhecimento silencioso. "Seus pais..."

A menção de sua mãe e de seu pai desencadeia uma montanha de angústia reprimida em Hermione, uma dor que ela manteve escondida por muito tempo no fundo de seu coração. Lembrar-se daquele momento - quando ela percebeu que as memórias de seus pais haviam quase desaparecido - ainda é cru e agonizante. É uma coisa difícil, lamentar alguém que ainda está vivo. Abraçar sua mãe enquanto ela pensa que está abraçando um estranho.

Seus olhos ficam úmidos enquanto ela se esforça para encontrar a voz. "Eles não estão mortos, Ginny."

"Mas eles não se lembram de você", afirma a ruiva, com um tom pragmático e objetivo. Hermione não sabe como responder, sua tristeza é muito grande para ser colocada em palavras.

Ginny não é fria ou indiferente aos outros, mas às vezes tem dificuldade com o tato. É só depois de perceber a lágrima que Hermione sente escorrer por sua bochecha que os olhos de sua amiga se voltam para ela e ela desabafa: "E-eu sinto muito", em um tom levemente de pânico. "Eu não queria aumentar sua dor. Eu... estou começando a perceber que só porque você não consegue ver a dor de alguém, não significa que ela não esteja lá."

"Ginny..." Hermione fala, com a voz pesada.

"A dor do Ron é forte. A minha também", continua Ginny, mexendo com as mãos. "E você esteve ao nosso lado durante todo o verão, ajudando-nos a nos curar da morte de Fred como se você não precisasse se curar também. Você passou por tanta coisa... Sinto muito por não termos visto isso".

Colocando a xícara de chá na mesinha ao lado do sofá, Hermione se inclina para a frente, estendendo a mão e segurando uma das mãos de Ginny com a sua. "Não preciso me desculpar, Gin", diz ela gentilmente, com uma voz calorosa. "Todos nós estamos fazendo o melhor que podemos."

O olhar de Ginny permanece fixo em Hermione, seus olhos estão procurando. "Eu simplesmente não conseguia entender, por mais que tentasse", ela confessa vagamente, timidamente. "Mas depois de ontem, tudo começou a fazer sentido."