Capítulo 5

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Hermione

"Não."

"Não?" A bruxa mais velha levanta as sobrancelhas, lançando a Hermione um olhar muito familiar. É um pouco semelhante ao que ela lhe deu, junto com Ron e Harry, quando o trio mal conseguiu sobreviver a um encontro com um troll durante seu primeiro ano em Hogwarts.

Na época, Hermione ficou aterrorizada ao receber tal olhar de qualquer professor, muito menos da professora McGonagall. Agora, no entanto, depois de tudo o que lhes foi tirado, e enquanto ela está na sala da diretora de uma escola reconstruída às pressas, ela não sente... nada.

"Sinto muito, prof., Diretora. Mas eu realmente não desejo me tornar monitora", repete Hermione, com uma voz calorosa, mas definitiva. Ela quase deixou escapar a palavra errada no início, depois de anos considerando Minerva McGonagall como sua professora.

Ela não quer se sentir responsável por mais nenhuma vida. Ela não tem mais forças para lutar. É como se a exaustão que ela sentiu no final da guerra tivesse se agarrado a ela e, não importa quanto tempo passe, ela se recusa a se soltar.

Hermione sempre pensou que, depois que a guerra terminasse, tudo voltaria a ficar bem. É quase engraçado como ela estava errada.

Seus pais mal se lembram dela na maior parte do tempo - um efeito colateral comum do feitiço de apagamento de memória que ela colocou neles. Se deixada por muito tempo, a magia começa a corroer as memórias que deveria esconder, não mais as escondendo, mas apagando-as da existência.

Fred está morto.

Ele disse a ela que eles venceram - e depois morreu.

Ron está furioso com o mundo.

Harry está triste.

Hermione está... perdida.

A guerra terminou, mas a dor ainda está aqui, acordando-a à noite - gritando de uma ferida que há muito tempo já não tem mais cicatrizes. À noite, ela passa os dedos sobre as palavras, sabendo que nunca se livrará delas. A faca que perfurou sua pele carregava uma maldição tão ruim que sua sobrevivência foi um milagre. Às vezes, parece que ela ainda está lutando para sobreviver a isso. Não a maldição, mas as palavras. Seu significado. O momento em que elas foram infligidas a ela. O monstro que fez isso, que ainda está vivo em algum lugar.

Quase todos os aurores existentes ainda estão caçando o que resta do exército de Voldemort. Mas a maioria deles é boa em se esconder. Hermione se abstém de revirar os olhos ao pensar no covarde "rato" de Ron.

"Você é de longe a nossa melhor escolha, Srta. Granger. Tem certeza de que é isso que quer?" Minerva McGonagall insiste, com a decepção colorindo seu tom.

"Sim, Diretora."

"Tudo bem, então, acho que terei de perguntar a outra pessoa. Vá em frente, agora. Ainda tenho muitas coisas que precisam ser resolvidas antes do início do ano."

Hermione acena com a cabeça e começa a se afastar, com os olhos fixos em todas as lembranças de seu antigo Diretor espalhadas pela sala redonda. Os retratos e as raras bugigangas que ele colecionou ao longo de seus muitos anos, o pequeno suporte de madeira em que Fawkes costumava se empoleirar, olhando para quem quer que Dumbledore estivesse entretendo com seu olhar curioso e inquestionavelmente inteligente.

A ideia da bela fênix a obriga a reprimir um soluço repentino.

Será que Fawkes se sente tão perdido quanto ela?

"Hermione?" A diretora McGonagall a chama logo antes de ela sair do escritório, fazendo com que ela se vire de pé.

Será que esse será realmente o escritório dela? Será que Minerva McGonagall terá coragem de apagar Albus Dumbledore desta sala?

Luna Vinculum | TraduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora