41 - Forty-One

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Tem gatilho sim.






Senti minha bochecha latejar, uma sensação incômoda que se intensificou quando franzi o rosto, ofuscada pela luz intensa que banhava um ambiente anteriormente envolto em trevas. A transição era brutal, como se a escuridão tivesse sido arrancada de mim à força.

Meus braços doíam, pendurados pelas correntes grossas de ferro, e o pulso latejava sob a pressão das algemas que os mantinham aprisionados. Era uma dor crônica, uma lembrança constante da minha impotência. Apenas a ponta dos meus dedos tocava o chão, e isso causava uma tensão agonizante no meu abdômen, rigidificado pelo tempo.

Não me atrevi a levantar a cabeça, permitindo que meus cachos secos caíssem pesadamente ao lado do meu rosto enquanto fixava o olhar no chão, ouvindo a porta se fechar com um estalo que reverberava nas paredes, como se o eco fosse um testemunho do meu desespero.

Os passos pesados de um soldado ecoaram, e a sala, agora vazia, parecia gritar a solidão que eu sentia. Era como se eu fosse a única pessoa naquele espaço sombrio, cercada apenas pelas correntes que me aprisionavam.

Os passos se aproximaram, invadindo meu campo de visão, e um frio cortante percorreu minha espinha. Eu reconhecia aqueles sapatos. O pavor se misturou com um sentimento de revolta quando ele falou, sua voz soando como um veneno que se infiltrava em meu ser.

— Devo dar um abraço em você por esse reencontro?

Uma dor aguda atingiu meu ouvido ao ouvir aquelas palavras. O que ele estava fazendo aqui? A última coisa que eu queria era a presença daquele pesadelo.


Vem aqui com o titio.

Não respondi. A ideia de ceder a ele era insuportável. Meu trauma se materializava diante de mim, e a única coisa que eu sabia fazer era reprimir as lágrimas que ameaçavam escapar, uma luta interna contra o enjoo que me consumia, já que estava horas sem comer.

Depois de alguns minutos de silêncio opressivo, senti meu queixo ser agarrado, meu rosto sendo forçado para cima.

— Olhe para mim.

As pupilas negras dele me encaravam com um sorriso torto, examinando cada expressão do meu rosto. Um nojo profundo se instalou em mim, uma repulsa que parecia me envolver como um manto escuro.

Sua mão descia suavemente pela lateral do meu rosto, e eu senti uma sensação de violação, como se minha pele estivesse se rasgando sob seu toque.

— Amo os seus olhos, sempre me sinto encantado por eles.

Eu o encarei, mas algo estava errado, um dos olhos parecia se mover de forma independente. Continuei calada, mas, de repente, seu dedo indicador puxou meu lábio inferior para baixo, e, instintivamente, tentei me afastar de seu contato.

— Pensei que havia petrificado você.

Meus dedos latejavam enquanto tentava escapar daquele corpo que estava muito próximo.

— Leon não fez um bom trabalho com você... ele deveria tê-la ensinado a nunca recusar um toque em seu corpo.

Leon...

Aquelas palavras cortavam como lâminas, e sua mão se fechou em torno da minha nuca, obrigando-me a encarar seus olhos novamente. Meu corpo tremia, e as lágrimas ameaçavam escapar, mas eu me recusei a deixá-las sair.

— Você era mais esperta quando pequena, sabia satisfazer alguém.

E então, a primeira lágrima escorreu pelo meu rosto, não de tristeza, mas de pura raiva. Raiva por ele estar ali, por me relembrar de tudo que eu queria esquecer.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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