A sala estava entulhada de papel com atividades dos alunos.
A gritaria alegre das crianças dentro da sala, disfarçava um pouco o ar macabro que a escola ostentava. Suspirei, e entrei na diretoria, atrás de Maddie, que sorridente, me explicava o que eu podia fazer naquele dia:
- Organizar os papéis aqui, colocando cada um na sua pasta determinada, por favor? Vai me ajudar muito, depois te recompenso - Alargou o sorriso - Depois que acabar, pode ir para a casa, ou se preferir, pode ficar no parque, percebi que gosta de lá.
Assenti. Sim, eu gostava de seu ar misterioso, de todos seus segredos que parecia esconder, das sombras que criavam mesmo estando de dia. Bem, pelo menos eu iria gostar até nada me acontecer ali. Por exemplo, o banheiro dos deficientes, já não entro mais ali, nunca mais.
Arya jurava ter visto um homem enforcado na árvore da entrada do parque, mas eu nunca vi. Estranhamente ouvia um rangido de corda balançando ao vento, vindo da parte daquela árvore, mas a verdade é que nunca vi nada de diferente ali. Apenas ouvia... E sentia.
Dei de ombros, e sentei na cadeira de forro preto, e comecei a organizar as atividades e provas dos alunos da escola.
Acho que fiquei apenas meia hora com aquilo, já que os outros papéis se tratavam de outra coisa, que eu não precisaria mexer.
Assim que acabei, suspirei, e me encostei no encosto da cadeira, desabando. Cansava ficar olhando letrinhas, e procurando pastas, mas pelo menos o esforço era recompensado: A confiança da diretora.
Gani, espreguiçando, e levantei da cadeira, encarando o trabalho que eu tinha feito. Bom, tudo organizado, tudo nas pastas certas, nada fora do lugar... Provas e atividades juntas uma pasta para cada uma.
Sorri, satisfeita, e ia me virar, quando um papel amarelado me chamou atenção, no canto da mesa, distante dos outros arquivos escolares.
Ergui uma sobrancelha, e estiquei a mão até ele, pegando e olhando para os lados, para ver se ninguém via.
Virei o papel em minhas mãos. Vi uma foto antiga no canto dele, e li:
Behavior of occurrence.
The student Junior Wernick , the first series, presents strange behavior . Flounders so the adoptive mother , Alyce Wernick , lets at school. Plays with the piano attic spaces in class , making the entire school remain strange . The child Junior Wernick , does not socialize with other children, stands alone in the corner of the room and from school, and when we asked what happens , the lowest only replies that wanted everything to be normal. Does not say anything else. A few weeks ago, the lowest he started skipping school , only coming sometimes with bruises arm , as if someone hold him , and hurt him physically . The boy began to close over the world , stopping to do the lessons , and through talking to myself . We are concerned , because if this does not stop, we will have to ask for treatment for that student.
The direction
Terminei de ler, e franzi a testa.
Ali dizia que um aluno chamado Júnior Wernick, da primeira série, apresentava estranhos comportamentos. Gostava de se isolar dos outros, tocava piano no... Sótão, nas aulas vagas, se escondia de tudo e todos, e vivia pelos cantos, quando alguém perguntava, o garoto apenas dizia que queria que tudo fosse normal.
Dizia também que há algumas semanas, o garoto vinha faltando muito, e indo apenas alguns dias, com vários pontos roxos pelo braço, como se alguém o agredisse fisicamente. Passou a se fechar mais ainda de todas as pessoas, e que se esse aluno não parasse com esse comportamento, a escola teria que solicitar tratamento psicológico ao menor.Franzi os lábios. A foto antiga, mostrava um menininho de cabelos negros, pele muito branca. Não sorria, a roupa preta, os olhos de uma cor irreconhecível, fixava a câmera. Parecia triste, os ombros caídos, o rosto não expressava nenhuma expressão. Parecia congelado no tempo.
Engoli em seco. A data era 08/06/98
Sem pensar muito, enfiei a ocorrência no bolso da bermuda, e sai, rapidamente, descendo as escadas, desviando de uma criança que passava correndo por mim.
Era a hora do intervalo.
Suspirei, e segui para o estacionamento, logo descendo a rampa, e entrando em área restrita.
O parque não estava aberto para alunos, mas para mim, a diretora deu a autorização, por eu estar a ajudando.
Abri o pesado portão de ferro pintado de azul entre os arames farpados.
Pisei na grama mal aparada, vendo a árvore que Arya dizia estar um enforcado.
Passei por ela apressadamente. Sim, eu nunca vi, mas vai que era verdade.
Senti um calafrio na espinha, com a impressão de ter alguém ou alguma coisa me observando. Ignorei, e continuei a andar. O parque já estava visível. O balanço enferrujado, com a pintura amarela descascando. Rangia a cada vento que batia em sua bordas, balançando fortemente entre o ar, dando leve impressão de ter uma criança revoltada e ao mesmo tempo triste, balançando ali.
O gira - gira, as vezes girava sozinho. O trepa trepa, enferrujado e gasto, sujo nas bordas de lama, as vezes rangia levemente.
Caminhei pela pequena trilha de pedras bagunçadas que existia pelo chão. A cada passo meu, era um som oco, de algo se partindo.
Olhei para o chão, e levei a mão ao bolso lentamente, tirando de lá o papel amarelado, e o observando atentamente.
O garoto da foto...
Era... Familiar...
Balancei a cabeça, soltando o ar. Não, não tinha como ser familiar. No ano de noventa e oito, eu nem ao menos era nascida.
Bufei, e reli novamente a ocorrência. De algum jeito, existia alguma coisa errada naquele papel. Eu só não sabia o que.
Pulei.
Alyce Wernick.
Era a Alyce que queria me matar! Que... que tinha me adotado!
Abri a boca, encarando o estranho papel.
- Meu Deus, o que é isso...? - Falei, sozinha, olhando para minhas mãos.
Dei de ombros, e sentei no banco de plástico que estava ali do lado do parque. Eu não iria me preocupar com uma coisa que aconteceu quase vinte anos atrás, não é? Muito menos com Alyce.
Balancei a cabeça, mas guardei o papel novamente.
Então, senti uma mão me cutucar no meu ombro esquerdo.
Arregalei os olhos, e me virei, violentamente, olhando para trás, assustada.
Não tinha ninguém.
Meu coração acelerou, descompassadamente.
Me virei para frente, lentamente, olhando para os lados.
Foi então que ouvi, em palavras curtas e baixas, perto do meu ouvido:
- Isso é a solução.
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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...