Insano

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Maldita hora que Samantha foi ficar sem celular - Arya pensou, empurrando uma mala de seu caminho, que não desfez por preguiça.
A casa da Lolla tinha pegado fogo?! Por que diabos?! Onde estava Sam? O que tava acontecendo que todo mundo tava assustado, falando de vultos e aparições?
Aos tropeços, vagando à semi luz do quarto, abriu a porta. Não ia ficar ali, tinha algo errado acontecendo. Ok, sair pela rua naquela hora, também não era a coisa mais adequada a se fazer, mas era a única mais permitida.
De qualquer forma, já não gostava daquela casa. Tudo estava dando errado, e fora só se mudar para ali.
Tentava ligar para Lolla, mas a mesma não atendia. Droga, por que todos estavam estranhos?

Ainda tinha que tomar cuidado para não acordar os queridos pais. Iria parecer maluca se fizesse aquilo, mesmo que não ligasse muito para a opinião dos dois.
Colocou qualquer casado por cima do odioso pijama, fisgando a chave da casa que os pais lhe deram, pulando as escadas as pressas, enquanto ia trocando mensagens com Lolla, tentando entrar em contato com Luke. Pelo menos ele podia ter um carro para levar ela, não é?
Ser otimista naquele ponto, não era muito fácil.
**
Alyce praticamente estava paranóica. Falava sozinha, ou melhor, parecia estar sozinha. Mas na sua cabeça, os demônios cobravam a perda de tempo. Queria logo a garota e a alma do garoto.
A mulher parou, sorrindo.
- Se acalmem, meus queridos - Disse, com um sorriso largo, levando mais da bebida que tinha num copo de vidro nas mãos, aos lábios - Vocês terão o que querem. E eu o que eu quero - Disse, caminhando pela sala vazia e escura. Seus passos vagos ecoavam pelo lugar.
A mulher insana parou em frente à parede. Onde o quadro de sua querida irmã, Taylor, estava.
- Quanta saudade, irmãzinha estúpida - Disse, com voz arrastada, ostentando uma pose de rainha, encarando a fotografia. Demorou alguns segundos, até cuspir em cima da mesma.
Soltou uma gargalhada segundos depois, chutando a parede com a bota de couro. Paredes, paredes.
A casa estava com as luzes apagadas. Era óbvio que Sam pensaria que não havia ninguém ali. Mas Alyce sabia muito bem, que a garota estava na casa da frente.
Um choro sofrido de cachorro ecoou do andar de cima. Em seguida, barulho de patas, como se estivesse tentando sair de algum lugar.
Alyce deu um giro pausado pela sala, com um sorriso e os olhos salteados para fora das órbitas.
- Calma, meu querido amigo - Disse, antes de gargalhar - Você ainda poderá sair dai - Falou.
Kate, atrás dela, a observava em silêncio. A garota estava com uma aparência mais medonha ultimamente.
A cabeça levemente aberta do lado, saia sangue em volúpia, denunciando brincadeiras com o Lee.
O trapo que usava, rasgado nas pontas, os braços de um branco inigualável, e finos. As mãos com dedos cumpridos e finos, uma verdeira aberração se comparada com a garotinha de antes.
Ela se matou pensando que tudo ficaria melhor. Foi o que as vozes lhe dizia. Mas então, tudo ficou pior.
Jack desceu as escadas em silêncio. Parecia perturbado, com coisa pior que o demônio. Irônico. Existe coisa pior que o demônio?
Sim, existe. Sua consciência.
Alyce achava besteira. Ria em deboche, balançava a cabeça, parecia ser insana. Aliás... Era insana. Quem jogava a própria irmã adotiva de uma escada, e logo em seguida, corria chorando para alguém, dizendo, "Ho, meu Deus, houve uma tragédia! Minha irmã caiu da escada, há sangue no chão!"
Mas falava com um sorriso escondido em cada lágrima.
As pessoas ficaram horrorizadas! Coitadinha, perdeu a irmã adotiva! O que faria? Com certeza estava muito triste, Taylor era muito importante para ela!
A mulher ria alucinadamente com tais palavras. A única morte que talvez a tenha abalado um pouco, foi a de sua mãe.
Era um cemitério aquela maldita escola. Um cemitério de almas, um cemitério de alunos, professores. Sua mãe morrera ali, ela também morreria ali, mas levaria junto quem ela quisesse antes. E conseguiria saciar sua fome de matar, sua sede de sangue, e conseguiria servir seu próprio demônio.
Até Lee tinha certo receio com aquela mulher.
O palhaço, agora futuro irmão de Arya, não ligava tanto. Gostava se servir à ela, e matou com puro prazer aquela garota na festa de Logan.
O mal, era dito de tantos proveitos, ela se encantava com aquilo. Sempre lera contos de fadas quando criança, mas sempre se perguntava por que o fim era sempre feliz. Aquilo já enjoava, por que apenas tinha sorrisos e amor nos finais?
Prometera para si mesma, aquilo mudaria. No fim, a princesa morreria e o príncipe iria arcar com as consequências de não achar uma donzela para se casar. Os ajudantes morreriam em armadilhas, e no fim... Tudo seria em vão.
Ok, teria um lindo baile no dia seguinte. No caso... Quem seria a princesa? Samantha. E o príncipe? Ow, Logan? Mas seu fim poderia ser um pouco mais tráfico.
Alyce parou de planejar um pouco em sua mente turbilhada, se virando para Jack com um sorriso, a lingua entre os dentes e os olhos levemente arregalados.
- Olá, meu amor! - Ela cumprimentou, com a cabeça tombando vagamente para o lado. O homem a fitou, engolindo em seco.
Ela gargalhou, se virando para a janela, segurando a taça de vinho entre os dedos, erguendo os olhos para a janela da casa à frente, onde duas sombras assustadas, pareciam falar uma com a outra.
Samantha e Logan.
**

Luíza estava assustada. Ainda tinha visões de fogo, ainda via pessoas morrendo queimadas.
Como ela morreu.
Sentia falta de sua filha, de seu filho, mas não os podiam ver.
O destino fora muito cruel com o casal. Em vez de encaminhar suas almas soltas para um melhor lugar, eles estavam presos nas cinzas das chamas que um dia os matou.
E ficavam revivendo a sensação de estarem sem ar. O desespero de não ter saída, sua pele queimando em dor cruel.
Reviviam aquilo, nada os fazia parar de sentir os últimos momentos da vida. Talvez porque mereceram, talvez porque não podiam sair mesmo.
De qualquer maneira, seus destinos foram traçados no momento que deram o pequeno Júnior para a adoção.
Na verdade... Quando venderam o pequeno júnior para um casal assassino.
O mesmo casal assassino que o matou depois.
E o mesmo que ia terminar a tarefa com Samantha.

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora