Escape!

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Taylor permanecia no sótão. Poderia sair, poderia ajudar os fantasmas do bem ali, eram poucos, mas eram fortes.
Lembrou das palavras de Júnior. Ele a perguntou como poderia vencer seu próprio assassino. Sim, ele tinha sido morto pelo mesmo demônio que agora lutava contra ele.
E pelo que viu, o demônio estava em Agatha.
A fantasma deslizou a mão pálida e ossuda pela parede preta e descascada.
Haviam perguntas pairando no ar. Por que Taylor se importava tanto com Agatha? Por que Alyce atacava a escola, sabendo que Júnior estava, e faria de tudo para defender a única parente viva?
Não seria tudo parte de um plano?
**

"Fuja!"
Algo costumava dizer.
"Fuja para longe, não espere por ninguém!"
Repetia.
E eu via Pianista, um bebê, contra um demônio perturbador. Mas a criança não parecia ter medo de caretas. Parecia ter se cansado disso, parecia ter tido muito disso antes, quando estava vivo.
"Meu bem, quando se sentir com medo, quando não tiver mais pelo que lutar..." - Eu ouvia - "Fuja pra longe, corra, não precisa se preocupar com mais ninguém. Os que são iguais à você, se salvarão também".
Era o que minha mãe dizia quando estava com medo. Quando inventava monstros em baixo da cama, garras batendo nas vidraças das janelas fechadas. Ela sempre dizia, mas não achava que poderia realmente usar aquelas palavras para alguma coisa real.
Meus medos não eram reais.
Agora, eram.
E quem me garante que os meus medos de antes, não tivessem um fundo de verdade? Quem me garante que não havia um fantasmas com garras em gancho e um sorriso largo e rasgado em baixo de minha cama? Eram coisas estúpidas, mas voltavam a me dar medo agora.
Algo acontecia à Agatha. Eu me sentia um gatinho molhado e assustado pela chuva, escorada na parede, como se desejasse sumir por ali.
A garota de cabelos negros agora ia definhando. E sua vida?! Será que já havia sido levada?!
Ela rosnava. Arreganhou os dentes que pareciam rachados para Júnior, e então avançou. Eu gritei alto, escorregando pela parede até o chão, enquanto eu via ambos se atracando em meio as luzes aceleradas que piscavam.
Com a respiração acelerada, eu a parecia ouvir, e em um momento, tive certeza de que meu pulmão poderia explodir.
Eu queria ter forças ou coragem para sair dali, ou talvez os dois. Era óbvio que o bebê não iria segurar Agatha por muito tempo - Penso eu. Mas pelo que eu via, era aquela hora que eu poderia tentar fugir, mesmo que eu acabasse encurralada novamente.
Praticamente engatinhando pelo chão, eu sabia que o demônio de Agatha estava me vendo. E ele pareceu mais feroz quando viu que eu me aproximava da porta, agarrando o pescoço do bebê que o mantinha longe.
Praguejei baixo. Mas Pianista, em vez de se render às investidas dele, levou as pequenas mãos aos pulsos ossudos e fortes que prendiam sua garganta, quase medindo forças com o outro.
Me levantei totalmente. Eu sabia que eu estava com os olhos arregalados, e sabia que algo atrás de mim estava lutando para voltar e me pegar, e não era algo fraco, eram duas coisas absurdamente fortes o bastante para deixar um ao outro em decomposição. Mas eu percebia que Junior estava tentando se segurar, porque o demônio ainda estava em Agatha, e ninguém queria que ela morresse.
Mas àquela altura, eu nem ao menos sabia se Arya e Logan estavam bem. Eu só queria os encontrar.
Parei de correr, embora continuasse com passos apressados e a respiração acelerada, olhando para o chão, onde eu pulava os corpos ensanguentados e abertos.
Apertei os lábios com o cheiro de sangue e a visão de alguns órgãos para fora.
Com as mãos trêmulas, eu caminhava até o fim do corredor relutantemente. Reconhecia alguns estudantes ali, já mortos. Lá de cima, os gritos diminuíam. Mas eu não sabia exatamente porquê.
Parei em frente ao portão fechado com o cadeado. Me inclinei minimamente na mesma, espiando por uma fresta aberta ali. De qualquer forma, não teria como eu passar, e alguém poderia descer ali à qualquer momento.
A rua deserta. Por algum motivo, aquilo me fez sentir só.
Franzi os lábios, e quando ia me virar para a escada, ouvi o barulho de vidro, provavelmente se quebrando e caindo no chão. Mas não era no andar de cima, e sim ali, onde eu estava, em uma das salas de aula.
Me virei totalmente, abrindo um pouco a boca, pronta para correr para algum lugar, mesmo que fosse inútil, se eu visse alguém mau.
Mas quem eu vi, foi Logan, no fim do corredor, olhando para mim. Depois que ele me viu, arregalou os olhos em alívio, pulando totalmente para fora da última sala de aula, fazendo sinal com a mão de eu ir ali. Eu não queria passar pelo banheiro de novo, de qualquer jeito.
Balancei a cabeça, negando rápido. Mas mudei de ideia quando vi uma sombra descer as escadas à passos calmos.
Vi a sombra de um machado junto ao corpo dele. Eu já sabia quem era.
Engoli uma exclamação, me virando de novo para Logan. Arya apareceu do lado dele, e então eu soube o que eles tinham feito. Eles estavam tentando escapar.
Não fiquei ali por mais tempo para ver a sombra se aproximar ainda mais. Pegando impulso, corri de novo pelo corredor, procurando não tropeçar nos corpos, embora minhas botas estivessem se sujando com o sangue. Ignore o banheiro com a porta entre aberta, de onde eu podia ouvir vestígios de luta, mas com certeza, não eram humanos lutando. Em um segundo, desejei que Agatha conseguisse viver.
E então alcancei a mão de Logan no exato momento em que eu soube que Lee aparecia no fim do corredor.
Arya ia gritar, mas a mão de Luke ao seu lado, impediu, nos puxando totalmente para dentro da sala.
Segurei um grito, com Arya batendo a porta atrás de si. Eu vi o que eles fizeram. Haviam quebrado a janela da sala, provavelmente com a intenção de escapar por ali. Quem pulasse por ali, iria cair no parque da escola. Aquele parque macabro, especialmente naquela hora.
- Vai, pule logo! Não temos tempo! - Logan disse, me empurrando de leve. Eu tentei respirar. Talvez eu morresse com o vidro da janela mesmo, talvez era pra eu simplesmente perder a vida de vez.
- Espere! - Devolvi, com o mesmo puxando a mesa, à colocando à minha frente. E Lee provavelmente estava andando calmamente pelo corredor, com um sorriso irônico, sentindo nosso desespero.
Logan me deu a mão, me fazendo subir na mesa com sua ajuda. Olhei o buraco na janela feito provavelmente por uma cadeira. Era o suficiente para eu passar, mas o suficiente pra eu me cortar, muito.
- Vamos, eu sei que não é o suficiente, mas por favor, tente! - Logan Insistiu. Ele parecia mais preocupado comigo do que com ele mesmo.
Corredor, pessoas, amigos, vidros, janelas, escapar, respirar.
Eram minhas maiores preocupações ali.
Então apoiei na parede, subindo na mesa maior do professor, já permitindo meus olhos de enxergar a noite lá fora.
Tomando impulso, pulei para o parapeito, em pressa. Antes que eu pudesse calcular algo, tive a impressão de ter ouvido uma voz.
Então gritei, caindo dali, onde eu realmente não pude me segurar muito, não havia um mísero espaço sequer.
Mas para minha surpresa, não cai no chão.
- Hey! - Senti braços me segurarem antes de eu encontrar o chão. Gani, erguendo os olhos para a pessoa, os arregalando, procurando me livrar de quem me segurava. - Hey, calma! Sou... eu, não lembra de mim? - O cara ruivo, aquele que eu encontrei no presídio abandonado, que resolveu se desculpar. Fiz uma careta, me desvencilhando dele e pulando para o chão. Ele franziu a testa.
- O que está acontecendo? Eu ouvi e to ouvindo muitos gritos dentro da escola - Disse. Seu sotaque era americano. Mas pelo menos eu o entendia.
- Não dá tempo para explicar - Devolvi, me virando rápido para a janela de novo, vendo Arya dessa vez, se apoiando na janela, tomando cuidado com os vidros do lado.
Philippe olhou para ela igualmente, com a mesma se retraindo de leve com o menino que não conhecia, mas foi descendo. Eu estendi a mão para ela, fazendo ela largar a janela e pular à minha frente, ao mesmo tempo que alguém gritava dentro da sala.
**

- Vocês são tão estúpidos - O irmão de Agatha disse, abrindo a porta da sala lentamente. Eu fui mínimos passos para trás, me virando para Luke.
- Luke, pule, agora! - Disse, o dando espaço, gesticulando com a mão. Ele me olhou com igual desespero e balançou a cabeça freneticamente.
- Não vou pular, Logan, vá você primeiro! - Devolveu. Eu trinquei os dentes. Aquela não era hora de ser cordial. Balancei a cabeça, com Lee avançando para dentro da sala.
- Se você não for agora, eu também não vou. E então vamos ficar aqui. - Falei, baixo, do seu lado. Lá fora, a voz de Arya o chamava, em medo. Lee sorriu maldosamente, e então ergueu o machado, direcionado para mim. Luke arregalou os olhos, e então eu quis dizer para que ele não tentasse me salvar, mas não houve tempo entre o machado sendo jogado com perfeita pontaria contra mim, e eu senti o empurrão que já esperava levar antes, caindo para o lado no chão, por pouco não batendo na parede.
O fantasma riu alto, avançando em do outro. Ele não precisava de machado para o matar. E não tinha como fugir de fantasmas, não era possível o matar de novo.
Luke tentou desviar primeiro, mesmo que Lee estivesse se divertindo, o puxando pela roupa e lançando para trás, em força absurda, fazendo ele bater contra as mesas e cadeiras ali. Eu não vi muito bem onde ele bateu. Fechei os olhos por alguns segundos, depois tomei impulso, me forçando a levantar aos poucos, apoiando na mesa do professor. Eu não poderia ir embora naquela hora.
O fantasma se virou para mim e arreganhou os dentes podres. Flutuava à alguns milímetros do chão, deslizando pelo ar até minha frente. Eu ergui as mãos minimamente, talvez em defesa, o fazendo rir. Mas para meu espanto, ele se virou para o lado, indo até o machado sujo de sangue fresco, o pegando como se fosse algo que ele usava todos os dias como uma roupa.
Pelo canto do olho, vi Luke levemente zonzo, no chão, com as mesas tombadas ao seu redor, uma delas tendo caído em cima de sua perna. Trinquei de leve os dentes, quase não percebendo Lee voltando em direção à ele, girando o machado na mão.
- Não! - Gritei, tentando chegar antes à ele, mas o fantasma virou para o lado minimamente, agarrando meu pescoço com a mão, em exagerada força, me fazendo engasgar e procurar ar. E então ele me levantou facilmente, me levando para frente junto com ele. Luke ergueu os olhos, os arregalando de leve, tentando aos poucos, sair do meio das mesas. Mas sua perna provavelmente estava muito machucada, porque ele não conseguia à mover.
- Agora você terá um show particular, Senhor Logan - Lee murmurou, sorridente, erguendo o machado e abaixando em seguida violentamente, tendo meu corpo se remexendo com sua mão em meu pescoço, tornando impossível a respiração, não me permitindo fechar os olhos arregalados ao ter a visão do machado afundando de modo violento na cabeça de Luke. Eu nem ao menos pude gritar, e não podia pensar em nada com clareza, tendo meu ar cortado e a visão de Luke à minha frente, enquanto meus pés tateavam o ar em busca de chão.
Lee tirou a mão do cabo do machado calmamente, se virando para mim, em um sorriso.
- Viu o que acontece com pessoas inúteis? Você ainda tem seu tempo, Logan, mas tome cuidado. O mal saiu da escola, o centro do mal não está apenas aqui. O centro do mal foi libertado! Deveríamos comemorar! - Riu, erguendo a mão livre - Ho, você está sem ar? - Eu o olhava desesperadamente, esperando que ele pegasse logo o machado, e desferisse algum golpe mais violento em mim de vez, mas ele não o fez.
Chegou meu rosto mais perto do dele, apertando ainda mais os dedos em meu pescoço, me fazendo lutar novamente, em vão.
- Mantenha os olhos abertos, Logan. Agora não é sua hora. Sua hora será mais cruel do que essa. Isso é apenas o reflexo. - Apontou para o corpo de Luke, que eu não fiz questão de virar para ver de novo.
E então ele ergueu a mão que me segurava, levantando ainda mais do chão, me jogando contra a janela, cuja a mesma eu atravessei brutalmente, sem ter muito tempo ou ao menos raciocinar para proteger meu rosto, caindo no chão do outro lado, puxando o ar freneticamente. Ouvi um grito de Sam, e ergui os olhos à tempo de ver ela e mais duas pessoas correndo em minha direção.
E então não respondi o chamado de Arya, fechando os olhos.

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora