Histórias de Terror

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Eu não lembro ao certo quando eu sai de lá. Mas com Pianista, eu me sentia... Segura. Não como se aquela criança me protegesse, e sim como se... Se ele apagasse as coisas ruins na minha cabeça, apagasse tudo de ruim que aconteceu comigo, só deixando as lembranças boas e sensações que te fazem sorrir. Claro que as vezes, ele parecia ficar irritado, e na minha cabeça, vinha automaticamente a imagem mais dolorosa e infeliz que já aconteceu comigo, as sensações mais odiosas, como ver Alyce me apontando uma arma, meus pais...
Mas como toda a vez, eu o tentava acalmar com coisas agradáveis e... Infantis. Ele se acalmava e ficava feliz com coisas pequenas que eu dizia, como uma criança. Mas não era para ser uma, devido a sua idade mental.
Eu acho que sai de lá já atrasada para a aula. O sol a pino, deixava aos poucos o sótão mais quente, de forma que eu quisesse morrer em vez de sair de lá e deixar pra trás aquele bebê me olhando agora com o semblante tristonho.
Prometi que voltaria, em algum dia eu voltaria para ve-lo.
Desci as escadas agora mais tranquila com o ambiente, mas ouvi sua voz me advertindo por ainda existir fantasmas ali, realmente perigosos, o que me fez encolher enquanto saia do lugar.
Ele me disse também para... Prestar atenção nas paredes. Porque todos me diziam aquilo? Qual era o sentido daquilo?
Voltei para o pátio, vendo os alunos da turma de tarde já distribuídos pelo lugar. Subi para a direção, com os Cd's arrumados em minhas mãos, rodando os olhos pelo lugar.
- Menina! Como demorou! - A diretora se pos à minha frente - Arrumou? - Perguntou. Assenti vagarosamente, dando os objetos nas mãos dela.
- Obrigada, querida! Agora vá para sua sala. As aulas já vão começar. E depois de amanhã tem baile! - Ela disse, agora com um sorriso largo no rosto.
Sorri um pouco, assentindo freneticamente, fingindo ansiedade, e dei as costas, puxando o ar e deixando os ombros caírem. Eu não sabia porque, ultimamente a escola me deixava mais nervosa do que o habitual, e as pessoas que trabalhavam nela também.
Eu não iria contar para ninguém que eu conversei e vi o Pianista. As pessoas diriam que eu estava definitivamente maluca. Mas eu não iria resistir em contar para Arya. Ela não ia me achar maluca, é mais doida que eu.
Atrevessei o pátio, seguindo para minha sala. Eu nunca estava feliz com as aulas, mas essa em especial, eu não gostava. Era Marina, aquela professora nova, que antes eu vi como garçonete.
Suspirei, entrando na sala, seguindo para as carteiras do meio. Lolla, Douglas e Agatha ainda não estavam ali. Apenas Arya, que mexia no celular.
Sentei ao seu lado, olhando para frente.
- Porque demora? - Ela perguntou.
- Se eu falar, você provavelmente vai rir da minha cara. - Ela largou o celular em cima da bolsa, apoiando a cabeça ma mão e se virou para mim.
- Prometo só rir nos primeiros vinte segundos se tiver graça. Caso o contrário, provavelmente vou te xingar por não saber fazer piadas. - Deu um meio sorriso.
- Então... Eu vi o Pianista!
- Quem é Pianista, gata?
- Aquela entidade que vocês ficam falando - Devolvi, com cara de tédio.
- Aaah! Viu?! E... Como ele é, ele tentou te matar?
- Não. Não, ele não é mau. Ele é só... Uma criança.
- Então porque as pessoas tem medo dele, Samantha? Porque falam que é o pior fantasma da escola? Não é a toa, né, gata? - Perguntou, me olhando, já sem paciência.
- Eu sei! Mas comigo não foi assim.
- Ah, vip, então, porque né?
- Olha, não sei porque você está espantada. Já vimos e somos rodeadas por fantasmas todo o dia.
- É que esse... Pianista, me deixa nervosa - Falou, suspirando, se voltando pra frente.
- De que forma? - Perguntei.
- Você sabe. Eu... Tinha pesadelos com um boneco tocando piano. E eu fiz o desenho de um Pianista. Uma criança. Já te falei.
- Por alguma razão, você... Bem, sei lá, você... Tem ligação com ele de alguma forma. - Arya se virou para frente, brincando o dedo na espiral do caderno.
- A minha mãe ta tendo alguns problemas na gravidez. Tem... Muita coisa acontecendo, Sam. Você não vê. Seja lá o que for, algo está chegando ao fim, porque as coisas estão acontecendo muito rápido. Minha mãe com problemas, virá para cá hoje, eu vou ter que ir junto, de forma que eu vou ficar um bom tempo longe de você, porque minha familia é um tanto chata. A casa da Lolla vem me dando calafrios ultimamente.
- E porque?
- Porque... Sei lá, toda a vez que estou sozinha, ou até mesmo com você, ouço coisas... Vejo coisa.
- Que tipo de coisas? - Perguntei, interessada.
- Tipo uma vez... Eu tava na sala, a porta estava aberta. E uma bixiga de festa, uma simples bixiga passou voando, lembra aquele dia que teve festa na casa do vizinho? - Assenti. - Então. Uma bixiga passou voando pela porta, eu vi pelo canto do olho. Depois ela passou voando de novo para o outro lado, eu nem liguei, podia estar ventando, ou algo assim. Mas eu juro, Sam. Juro para você, que dessa segunda vez que a bixiga rosa passou voando, eu ouvi passos curtos e rápidos, como se alguém corresse atrás dela, como se alguém brincasse com ela! Como se uma criança estivesse correndo pelo jardim, brincando de bixiga. - Falou, me olhando. Dava para perceber que não estava brincando. - Outra vez, foi quando eu acordei com alguém falando do meu lado. Como se alguém estivesse agachado, sussurrando coisas. Sua voz não era boa, Samantha, era insana, má. De um rapaz. - Insistiu. Lee. Na hora, eu pensei em Lee.
- E ao mesmo tempo que estou triste por ter que ir para casa dos meus pais, estou aliviada, já não quero mais ficar lá. - Ela falou, abrindo o estojo, começando a fazer rabiscos na própria mão.
Suspirei, voltando meus olhos para o chão.
- Olha, eu... Prometo que... - Tentava consolar ela de alguma forma - Prometo que isso vai parar - Falei, mesmo sem saber como. Eu sabia que aquilo só pararia quando eu parasse Alyce. Ai sim, tudo acabaria. Mas eu nunca teria meus pais de volta. E eu ainda saberia quem matou eles. Se não foi a própria Alyce.
Arya olhou para mim, assentindo levemente.
- Engraçado. Eu poderia contar uma história de terror com as coisas que vi naquela casa. - Ela disse, sorrindo um pouco, tentando descontrair. Ri, olhando para ela.
- É? Conta pra mim - Pedi, rindo.
- Só se você me prometer que não vai fazer xixi na cama depois - Ela respondeu, sorrindo. Ri alto.
- Não prometo nada - Disse, e ia me juntar mais a ela para ouvir, quando um grito irrompeu pelo pátio. Um grito de horror, de medo.


Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora