- Você tem certeza disso? - A mulher Perguntou, relutante, voltando os olhos para o marido. O homem apoiou as mãos no balcão, suspirando e balançando de leve a cabeça.
- Não - Ele admitiu - Mas é preciso. Ele vai ficar bem - Se virou para a esposa - Aquela mulher é rica. Cuidara bem dele. - Falou.
A mulher negou com a cabeça, não querendo aceitar.
- Tem que haver outro jeito.
- Não há! Precisamos pensar em nós também! Não temos dinheiro, ele vai morrer com a gente! - Insistiu.
- Vai crescer não sabendo que são seus pais! - Teve a resposta da esposa. - Não faça isso... Não precisamos! Pedimos ajuda, eu... Não sei! - Teimou. Seu marido negou prontamente, já decidido.
- Um dia, talvez, o veremos de novo. Em condições melhores... Eu lhe garanto. Mas não podemos pedir ajuda de novo agora. Já não damos conta da primeira. Devemos o valor de uma casa! - Argumentou.
- Mas ele é... É tão... Novo - A mulher sentou no chão, cruzando as pernas, apoiando a testa na fina mão - Eu não quero o deixar ir. Não tire isso de mim, por favor. E se eu não tiver mais filhos? Não o mande para a adoção assim. Por favor, vamos dar um jeito! - O olhou, praticamente implorando. Mas seu marido... Continuava decidido. E nada o faria mudar de ideia.
- Ele vai para o Estados Unidos. Lá, será feliz. Com uma família feliz. - Sentenciou, dando as costas à mulher, saindo do local.As imagens eram presas no passado distante... Mas ainda presentes na cabeça do menininho.
**
- Minha filha! - A mãe de Arya abriu um sorriso ao ver a garota. Seu ventre já era volumoso, deixando claro que a mesma estava grávida. Sam sorriu levemente. Ah, a quanto tempo não ouvia uma voz doce assim...? A quanto tempo não tinha esse carinho endereçado a ela? E realmente, nunca teria mais.
Arya sorriu um pouco, abraçando a mãe, mas sem demonstrar muita emoção.
- Você está bem? Como vai a escola? Já separou suas coisas? - A mulher foi perguntando com um sorriso.
A adolescente foi parada em frente à casa de Lolla. O pai da mesma saia do carro, vendo a filha e sorrindo, indo em direção da mesma. Arya não falava muito.**
Visivelmente não queria ir, e eu não queria ficar.
Suspirei, deixando ambos ali, entrando na casa de Lolla, subindo para seu quarto e deixando a bolsa no quarto da mesma, lembrando que a mãe dela sempre pegava no meu pé para não deixar minha mochila jogada pela casa. Hm... Se é constrangedor ser chamada a atenção na casa dos outros? Ah, você não faz ideia do quanto. Eu me sentia totalmente dependente de alguém ali, e odiava aquilo. Mas até que eu deixasse de ser uma pessoa estranha que vê espíritos, conversa com eles, foge de dois criminosos... Eu acho que não conseguiria morar sozinha, sem morrer ou ser sequestrada um dia depois.
Terminei de guardar as coisas, voltando o pensamento para a escola no dia seguinte. Eu não tinha roupa, não tinha um par, não tinha nada. E eu acho que um milagre não cairia do céu assim.
Olhei pela janela da sala assim que desci, vendo Arya assentir para algumas coisas que os pais falavam, sem interesse, logo entrando na casa de novo.
Ela ergueu os olhos para mim quando foi pegar as malas.
- ...oi - Sorriu levemente, como se a gente não tivessa cabado de voltar juntas da escola.
- Olá - Falei, com um pequeno sorriso, a vendo erguer as malas. - Ajuda? - Ofereci, esperando resposta.
- Não precisa - Ela negou, com um meio sorriso. Depois parou, olhando atentamente para mim.
- Você me lembra tanto alguém... - Sussurrou, me examinando - Só que não sei... Quem. Exatamente. - Sorriu, sem jeito. Ri um pouco, erguendo os ombros.
- Nos vemos amanhã? - Perguntei.
- As oito, na escola? Sim. - Respondeu, rindo. - Porque eu não vou ficar lá sozinha. - Apertou os olhos. Sorri, encostando as costas na parede, a olhando.
- Tudo bem. Eu vou aparecer de calça surrada e camisa no baile, sem par. Para as pessoas verem como eu sou poderosa - Brinquei, rindo. Arya riu junto, concordando.
- Espero, então - Deu um meio sorriso.
- Arya! - Ouvimos seu pai do lado de fora - Vamos! - Pediu, com um sorrjso simpático. A garota fez sinal para esperar.
- Seu pai parece ser legal. - Observei, olhando para fora.
- Ele é. - Ela deu de ombros. - Só minha mãe que tem umas idéias meio... Doidas - Riu. Depois franziu os lábios, em um sorriso relutante, deixando as malas que segurava, no chão. - Vai ficar ai, ou vai me dar um abraço antes de eu ir? - Perguntou, estendendo os braços, rindo. Assenti, rido também, indo até ela e a abraçando.
- Pelo lado bom... Você não está indo embora do país - Falei, rindo. Ela concordou, afinal.
- Depois que meu irmão nascer, eu vou voltar pra cá - Arya disse. Eu franzi o cenho.
- E porque? - Perguntei - Agora que seu irmão vai nascer, não deveria ficar feliz e querer estar presente? - Perguntei - Eu iria querer ter um irmão se eu ainda pudesse - Sorriu de ladinho, rindo depois. Ela negou com a cabeça.
- Mas eu não. - Me olhou seriamente - Eu não me sinto bem com esse irmão - Fez cara de tacho - Algo não é bom. - Tentou explicar, mas sendo atraida pelos olhares insistentes de seus pais.
- Eu tenho que ir - Falou, suspirando - Então até... Amanhã - Sorriu, erguendo os ombros.
- Até - Dei um meio sorriso. Ela riu levemente, finalmente pegando as malas e se despedindo com o olhar. Ela se virou, logo saindo da casa, com o pai a ajudando a carregar as malas, levando para o carro prata.
Fiquei olhando até o carro sumir de vista, deixando apenas a rua vazia e silenciosa.
Fui para a cozinha, depois para o quintal dos fundos, não encontrando ninguém. O céu lá fora, cinzento, denunciava uma chuva teimosa que se concentrava pesadamente ali.
Eu odiava ficar... "Sozinha" naquela casa. Ah, eu odiava ficar sozinha em qualquer lugar que eu me sinta desconfortável.
Voltei para a sala, relutante, olhando para os lados em silêncio, sentando no sofá. Anoitecia rapidamente. Bem... Amanhã eu tinha um baile. E se... Não, aquilo era ridículo. Era claro que o Logan já tinha par, era claro que ele iria com a Caroline. E era... Claro que eu ainda estava com raiva dele.
**A garota teimava com sigo mesma que ainda sentia raiva pelo Logan, que não gostava dele, que o queria longe, mas nem ela mesma acreditava nisso. Simplesmente não queria gostar dele, afinal, ela fora injusta. Não se julgava merecer aquilo, ele era tão bom que as vezes lhe dava raiva. Ele corria tanto atrás dela, mesmo sabendo que ela quem errou, e aquilo lhe dava mais raiva ainda. Porque ele tinha que ser tão insistente e ao mesmo tempo tão distante?
A garota foi interrompida de seus pensamentos por um forte clarão lá fora, logo depois um trovão estrondoso, que fez a mesma pensar que aquilo tinha feito alguma árvore cair.
Desconfortável, remexeu os pés, olhando para os lados. Ah, ela não gostava, sentia que tinha que sair dali, não podia ficar sozinha assim!A chuva lá fora apertava cada vez mais, fazendo o som ecoar no teto, denunciando o quanto aquilo estava forte. O vento fazia as copas das árvores balançarem com violência, como Samantha via pela janela.
Engoliu em seco. Se aquilo continuasse, acabaria a luz, e ela sozinha ali!
A garota se encolheu levemente no sofá, olhando para os lados. Mas depois de alguns segundos, pulou, ouvindo o barulho seco e alto de algo batendo contra a parede, no andar de cima. No quarto de Lolla.
Se virou para a chuva lá fora, se levantando e subindo as escadas. Ah, que bonito. Não estaria ela seguindo as instruções de como ser morta em um filme de terror clichê?
Entrou no quarto da amiga, vendo o que havia causado o barulho. A porta de madeira da janela, foi aberta com violência pelo vento da chuva, fazendo os pingos gelados e ariscos espirraram para dentro do local.
Praguejou, pegando os lados da porta molhada, a fechando no trinco, sentindo um alívio quando cessou.
Bem... Era só chuva. Apenas. Chuva.
E com um raio lá fora acertando o computador ligado na tomada, o monitor sendo atingido, explodiu imediatamente, causando um... Incêndio.
E em poucos segundos, a luz se apagando com um barulho de queda breve e comprido.
Sam não pode fazer nada além de gritar.
**
A tarde era úmida. A família olhava para a criança que levada no carro de outros... Para nunca mais voltar.
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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...