Depois que Arya parou de comer azeitonas, e a segui até a escola, discutindo que a prova me mataria. Ela me tranquilizou dizendo que só seria nas duas últimas aulas. Assim que chegamos na escola, os professores simplesmente ficavam vagando pelo ginásio, discutindo sobre assuntos corriqueiros e bebendo em suas xícaras de café ou chá.
Acompanhei Arya até a sala, guardando ali nossas mochilas. Passei o olhar pelo lugar, algumas bolsas já depositadas em sua devida mesa. A mochila preta e branca era de Doug. A preta e azul era de Logan, ambas uma a frente da outra.
- Hey, você tem falado com o Logan? - A garota ao meu lado perguntou, parecendo ler meus pensamentos.
- Não muito, mas falei com ele esses dias. Porque? - Respondi com outra pergunta. Ela deu de ombros, e se virou para a própria mesa.
- Ele continua estranho. Bem, ok, foi libertado daquilo lá né, mas... Parece estar com raiva de nós - Franziu os lábios, sentando em cima da mesa e pegando uma caneta que estava jogada no lado da mesma, começando a rabiscar a mão.
- Raiva? Não acho - Respondi, sem interesse, me encostando na lousa e olhando para fora - Quando me permiti falar com ele, não me parecia bravo. Pelo contrário, parecia quase prestes a ajoelhar no chão pedindo desculpas pelo que fez - Dei de ombros. Arya suspirou.
- Sim, mas digo que nem ontem. Quando pedi ajuda pra você, ele me ignorou. Sei lá, talvez se eu pedir para o Luke falar com ele... - Ela parou, apoiou um dos pés na outra mesa, causando um baque.
Sem ligar muito, me sentei na cadeira, suspirando e me encostando. Abrindo o zíper da bolsa, tirei de lá o caderno, o colocando na carteira. Mas assim que virei o objeto, algo caiu de uma das suas páginas para o chão. Olhei em sua direção ao mesmo tempo que Arya.
Era a foto que eu tinha tirado, no natal. Aos seis anos.
Arregalei os olhos para a garota que olhava curiosamente, e, abaixando a mão, puxei a fotografia rapidamente, abrindo meu caderno e a colocando entre a capa e a folha. Arya ergueu os olhos para mim, e exibiu um pequeno sorriso.
- Hey, o que era aquilo? - Perguntou e riu. Talvez da minha expressão. Mas com certeza, minha expressão não estava feliz.
Suspirei, e encarei minhas mãos. Aquela foto, foi tirada no natal, quando eu ainda tinha meus pais. Mas no mesmo dia, minha avó faleceu. E eu nunca mais consegui comemorar o Natal como antes.
Franzi os lábios, e respondi:
- É uma foto - Sacudi os ombros, tamborilando os dedos na minha perna. Arya parou de sorrir, percebendo meu embaraço. Sem jeito, me perguntei se a mostrava ou não. Respirei fundo, tirando a foto do meu caderno e a encarando.
A garotinha com Marias chiquinhas, fazia uma pose infantil, com as mãozinhas na cintura, um dos dentes faltando na frente, um vestidinho azul claro, com alguns detalhes brancos nas pontas. Um dos joelhos ralados, revelando o quão sapeca aquela garotinha era. Os cabelos mais suaves e loiros, e os olhos mais cheios de vida do que costumavam ser ultimamente. Os olhos cor de mel alegres e vivos.
Sentindo meus olhos marejarem, ao ver atrás da criança, uma sala enfeitada com coisas natalinas e alegres, tudo brilhando em dourado com a chegada da data tão querida pelas crianças. Uma mesa farta de comida e docinhos, e, mais no centro, uma árvore de Natal, entalada de presentes em diversas formas, alguns enfeitados com laços rosas e dourados.
Entreguei a foto para Arya, sem a encarar, parecendo voltar a realidade. Parece que em um dos momentos, cheguei a pensar que estava de volta aquela vida, feliz e cheia de risos, com meus pais e todos unidos a minha volta. Mas não. Eu era apenas mais uma órfã, perdida em um mundo que não conhecia de verdade.
Escondi uma lágrima fria e arrogante que escorregou pela minha bochecha.
¨Narrador¨
O pequeno fantasminha, carregando seu pequenino teclado de encontro com o colo, observava a jovem de cima. Franziu a testa, sentindo pena da garota, soltando um suspiro cansado e triste. Olhou para a parede, onde tinha sua foto, e desabou no chão, escondendo o rosto nas pequenas mãozinhas. Tudo aquilo iria acabar, assim que Sam percebesse o que de fato aconteceu. Seria difícil provar. Mas tudo há de acabar bem.
Era o que sua mãe dizia.
Sua face escureceu em fúria. Sua mãe. Ela o abandonou. Por mais que neguem, o abandonou, lhe dando nas mãos de dois estranhos, e por isso agora estava ali!
Cerrou os punhos, adotando uma feição cruel. Não parecia mais um fantasminha inocente e bondoso. Parecia agora um demônio. Sua aura, de branca passou para preta. Os olhos antes iluminados com inocência e infância, agora dotados de puro ódio e rancor. A expressão endurecida, parecia ter envelhecido alguns anos.
A fantasma adolescente o encarou, suspirando. Ele não podia ficar daquele jeito sempre que pensasse em sua família, e que lembrasse que foi assassinado. Acabava com toda sua luz e alegria. Ele mesmo se maltratava. Mas ela sabia que era difícil. Estava preso na escola. Não conviver com o ódio, era impossível.
Taylor exibiu um pequeno sorriso tranquilizador. A "criança" de sete anos, que parecia agora ter uns quinze de tão duro e rancoroso que estava naquele momento, precisava lembrar que era apenas uma criança ainda. Que um dia, já foi amado. E talvez volte a ser.
A garota compadecida, levantou do banquinho do enorme piano de madeira que agora estava podre, e puxou um livro, onde a sombra branca de uma fada sorria para a lua e o céu negro. O abriu, e começou a ler o conteúdo em sua primeira página. Aos poucos, o fantasma foi suavizando o rosto, as mãos se reabriram, e sua respiração foi desacelerando aos poucos, se tornando serena e pura. A aura se passou para cinza. Depois para branco. Os olhos se iluminando em inocência. E por fim, apenas sobrou a criancinha, que lhe lançou um olhar agradecido para Taylor.
A garota sorriu, e observou o piano se transformar em algo mais puro. Uma madeira mais reluzente e nova, os teclados limpos e brilhantes, o banquinho com o coro preto e elegante.
A criancinha passou os olhos por tudo novamente e suspirou, cansado, se sentando no chão, sonolento pela história, tombando a cabeça para a parede, fechando os olhos lentamente.
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Tem alguém aí? - Volume 2
Horror[Olá! Primeiramente, se você não leu o livro um, aconselho a le-lo, para melhor entender a sequência. A primeira história se encontra no meu perfil.] Havia monstros em todos os lugares. Nada estava seguro. Samantha já não sabia muito bem onde aquilo...