Palhaço...

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A parede estava pichada com tinta preta. A cor original cinza, dava um aspecto mais doentio para o lugar.

No chão, alguns cigarros apagados, estavam jogados ali, denunciando que alguns idiotas que se juntavam para se drogar, estiveram ali. O portão de ferro puro, não havia mais cor alguma, a não ser um cinza escuro e mal cuidado. As janelas minúsculas, com grandes e grossas barras de ferro as preenchendo, tinha uma em cada lado. Uma porta de madeira e vidro, cujas partes em vidro estavam quebradas, e o resto de madeira podre, comida por cupins. Um tapete marrom e felpudo, provavelmente encardido, se encontrava jogado na frente. Uma fresta no canto da parede, para policiais falarem com pessoas que viam de fora, estavam pichada com palavras em grandes garranchos, que escreviam: "Insert Pizza". Alguns tijolos com grandes buracos, o teto do lugar, pendendo com rachaduras que vinham desde a porta.

Sem perceber, vi meus pés se moverem até o portão de ferro, e parei em sua frente, com os olhos encarando o lugar, e a cabeça quase ultrapassando uma das barras de ferro. Tentei ver como era dentro do recinto, por entre um vidro estilhaçado, mas tudo que consegui ver, foi parte de um sofá preto e velho, com seus assentos cobertos de pó. O chão com algumas migalhas de vidro, que salpicavam em seus quadrados um tanto rachados. Um quadro, bordado de madeira, tinha uma foto em preto e branco, de uma policial, que olhava seriamente para frente, como se estivesse vendo um assalto acontecer.

Franzi os lábios, e olhei para os lados. Por alguma razão, sentia anseio por entrar ali naquele lugar, por mais que a aparência fosse horrível. Olhei para cima, até a ponta do portão, onde exibia um tipo de lança, para evitar invasores, mas a julgar pelo o que eu via lá dentro, o plano havia falhado. ]

Mordi levemente o lábio inferior, e fechei as mãos entre uma barra de ferro, a forçando pra frente. Ela não abriu. Frustrada, tentei forçar para trás, mas esta, apenas emitiu um rangido em protesto. Fiz uma careta, e me direcionei até a fresta que estava escrito "Insert Pizza", e olhei por lá, vendo um enorme corredor vazio, fora da sala, que provavelmente levaria para um tipo de quintal, se aquilo fosse uma casa. Ergui uma sobrancelha, e ia olhar para o chão, quando ouvi atrás de mim, uma voz rouca e áspera, como de uma adolescente rebelde.

- Está querendo entrar ai para que? - Me virei, automaticamente vendo Kate, que flutuava a centímetros do chão, me olhando com cara fechada. Franzi a testa, e a observei. Estava vestida com uma blusa preta larga, uma bermuda meio rasgada nas pontas, e uma bota desamarrada, mais parecendo uma adolescente roqueira fodida com a vida.

- Sim... - Respondi, ainda meio confusa, encarando os cabelos embaraçados e negros da garota. Sua aura agora tinha uma leve tonalidade de branco com vermelho nas pontas, como cabeça e pé.

 - Que merda, hen? - Ela respondeu, bufando. Ergui uma sobrancelha, percebendo que sua voz não fazia mais aquele eco, como se eu estivesse conversando com névoa.

 - Porque? Apenas sinto curiosidade. - Retruquei, cruzando os braços sobre o peito. Ela mostrou a língua, e disse em tom de deboche:

 - A curiosidade matou o gato, Sam. - Senti um arrepio na espinha, no sentido que aquela frase fazia, comparada a mim - Tente parar de ser muito inocente, criatura - Completou, olhando para dentro do presídio - Sinto uma energia horrível vindo dai - Resmungou, os pés tocaram o chão levemente.

 Olhei para dentro. A sala escura, me fazia desejar nunca passar uma noite ali.

 - O que tem ai dentro? - Perguntei, me voltando para a fantasma, que fez cara de desinteresse.

 - Nada de mais. Apenas celas, onde os presidiários ficavam. Objetos de tortura, para os machucar quando faziam algo errado, e etc. Muitos morreram ai dentro. Outros fugiram. Outros se mataram, Alguns mataram uns aos outros. Ou seja, depois de alguns tempos, isso ai fechou. Foi abandonado. - Kate deu de ombros, se interessando para um cadarço da bota, que ficava balançando para lá e para cá, a medida que a mesma se movia.

 - Como sabe disso tudo? - Perguntei, apertando os olhos, e a encarando. A outra ergueu os olhos, e fez cara de pouco caso.

 - Por favor, né, Sam? Sou uma alma. Apenas de chegar perto de você, consigo saber o que você fez de manhã. Ou o que fez a dez anos atrás. - Disse, fazendo pose - Acha mesmo que não sinto a energia de um lugar pesado? - Perguntou, em tom sarcástico.

 Fiz bico, e dei de ombros, me virando para o portão.

 - Vai me dizer como se entra nessa bagaça, ou não? - Perguntei, com voz chata, ainda examinando a entrada.

 Kate revirou os olhos e insistiu:

 - Você não me ouve! Quando eu digo que você vai se ferrar ainda, não é brincadeira - Reclamou, apontando freneticamente para o antigo presídio.

 Ri, e perguntei:

 - O que pode acontecer de mais? Um fantasma me ameaçar, como o Lee faz? - Brinquei, balançando a cabeça.

 A fantasma pareceu um tanto ofendida por eu não levar seus conselhos mais tão a sérios.

 - Sam, escute. Não faça isso. E não volte mais ao parque, é sério. Se eu pudesse entrar ali, eu iria atrás de você, mas não posso. - Kate disse, agora com a voz mais séria e branda - A energia ali é tão pesada, que não há como eu entrar. Já percebeu que nunca entrei com você junto na escola?

 Pensei um pouco, depois me afastei uns dois passos do portão, o olhando de uma ponta a outra. Talvez Katherine tivesse razão. Eu estava achando que só porque eu não morri até agora, eu não precisava mais ligar para aquilo.

 Me virei para ela, um pouco sem graça.

 - Eh... Desculpe - Retruquei, fazendo uma careta - Acho que tem razão. - Sorri - Vou parar de ir naquele parque, e não vou entrar aqui. Prometo - Sorri. Kate pareceu relaxar.

 - Ótimo. E... Não fique perto do irmão de Arya. Ele é... estranho. - Ela deu seu último aviso. Sorri, abobada, e respondi:

 - Também sou estranha, horas. - Ri. A fantasma negou.

 - Ele é mais que estranho. Ele é um palhaço. - Disse isso, e sumiu, deixando um cheiro de morte no ar.

 Palhaço...



Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora