Quem era ela?

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 Assim que o milkshake chegou a mesa, eu o peguei, puxando o canudo com a boca e tomando um gole da bebida, do lado de Arya, que olhava um jornal.

 Franzi a testa, e perguntei:

 - Porque diabos você está lendo jornal?

 - Sei lá. Gosto de jornalismo. É uma opção para minha faculdade - Ela sorriu, dando de ombros, e girando o canudo no dedo. Forcei um sorriso, e voltei minha atenção para a taça a minha frente. Não, decididamente, as coisas estavam mais fora do normal do que de costume.

 Suspirei, e comentei depois de ouvir mil vezes a mãe de Arya:

 - Sua mãe tem uma voz bonita - Exibi minha convinha em um sorriso, o mais simpático e despreocupado que encontrei. A garota ergueu os olhos para mim, e contraiu os lábios.

 - É, ela não é apenas locutora. Desenha também, já te disse, não? - Assenti. Parei de falar da mãe dela, com o ar de desagrado que a mesma mostrou, voltando sua atenção para o jornal.

- Lolla me contou - Arya disse, dobrando o jornal e colocando de lado, me tirando a atenção de uma garçonete, loura, que olhava diretamente para mim - Que terá um baile na escola, certo? - Afirmei, me incomodando com o olhar insistente da garçonete. Ouvi Arya praguejar.

 - Ho Deus. Eu odeio baile. - Ela mostrou a língua para o nada, e terminou de tomar seu milkshake. Me virei para ela, piscando, e respondi, tentando ignorar a suspeita mulher que deixava um enorme hambúrguer na mesa de um cliente igualmente enorme.

 - Se tem uma coisa que eu odeio mais que baile, é dança. Se tem uma coisa que eu odeio mais que baile e dança, é dançar junto com um garoto me agarrando - Fiz careta na última frase, bufando entre as palavras. Arya riu baixo, e me deu razão com a cabeça.

 - Também. - Sorriu, e por um minuto, ficou séria, sem dizer nada. Depois de contornar sua vazia taça de milkshake, se virou para mim, a feição um tanto petulante e arisca.

 - Você não... Quer dizer... - Ela engoliu em seco, e olhou para os lados. Por algum motivo, a garçonete desviou o olhar. Ergui uma sobrancelha. A garota limpo a garganta - Assim, pode me chamar de maluca, mas... Nessa noite, em um momento que acordei, eu... - Ela recomeçou, mas hesitou. Eu comecei a me irritar.

 - Diz logo, garota! - Gesticulei com a mão, já assustada com a mulher loira a minha frente. Arya puxou o ar, e despejou de uma vez:

 - Assim que acordei de um dos pesadelos insistentes que eu estava tendo, me virei para você, e ia te chamar, mas vi que tinha um... Uma mulher debruçada sobre você, e ELAERAESTRANHAERAASSUSTADORAENEGRA - Disse de uma vez, começando a ficar histérica. Senti meu coração falhar uma batida, ao me imaginar diante de algo do tipo.

 - O... que?! - Perguntei, me arrepiando.

 - Sério, por favor, não me ache louca, mas eu vi, uma mulher, que estava com uma roupa de... Acho que era de lixeira, não sei, mas ela estava com sangue no uniforme, e o olho roxo, e a pele pálida, e os olhos inteiros negros, SÉRIO, POR FAVOR, ACREDITE EM MIM! - A garota exclamou, a respiração acelerada, igualmente a minha - Para você ver que é verdade, eu até levantei correndo, e fui para a cozinha, ascendendo a luz. - Completou, nervosa.

 Atônita, lembrei de uma das muitas vezes que abri os olhos, e vi a meia luz da cozinha entrar na sala, e notar que o colchão no chão estava vazio.

 - Não sei que diabos aquela mulher fazia ali, mas essa noite foi turbulenta. Primeiro, vi um adolescente, que arrastava um machado pelo chão, causando um som macabro. Mas não o vi realmente, apenas vi sua sombra encurvada, estilo aluno desleixado, e o braço esticado arrastando aquele troço, passando pela cozinha. Você não sabe o que é acordar de um pesadelo, e ver que está em outro - Ela reclamou, escondendo o rosto nas mãos.

Tem alguém aí? - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora